Por trás de um investidor de risco existe uma trava de segurança

A volatilidade do mercado é incontrolável, mas diversificar a carteira pode dar a estabilidade ao esforço. Crises econômicas não podem ser evitadas pelo cidadão individualmente, mas adotar a disciplina de construir reservas de emergência ao longo da vida é algo que está ao alcance da execução. “Não durmo mais profundamente com tanta incerteza acontecendo”, “É injusto não saber o que vai acontecer e não ter qualquer garantia sobre a vida, sobre os negócios”, “Não há como fazer qualquer planejamento diante de cenários tão incertos”. Você já falou ou ouviu frases como estas? Embora os conceitos de risco e incerteza sejam distintos, eles podem se aproximar muito no campo dos impactos psicológicos. Um cenário de risco pode ser definido quando se é capaz de atribuir probabilidades aos possíveis ventos futuros, na tentativa de mensurar seu potencial de ocorrência. Em contrapartida, quando há pouca informação sobre possíveis resultados e impactam na habilidade de fazer estimativas, estamos diante de incertezas. Uma pesquisa recente, feita na Alemanha, mostrou um aumento significativo em transtornos mentais devido às incertezas geradas pela pandemia da covid-19. Muitos estudos já mostraram uma correlação entre a intolerância a incerteza e doenças como a depressão, transtorno de pânico e transtornos obsessivo-compulsivos. Por outro lado, Kahneman e Tversky, mostraram através da teoria do prospecto, que pessoas tomam decisões irracionais diante de riscos financeiros, e ficam muito mais tristes quando perdem algo, do que quando ganham a mesma coisa. Por isso, investidores tendem a realizar rapidamente ganhos, vendendo suas ações, às vezes de forma prematura, mas mantêm suas posições de prejuízo por muito tempo, por aversão à perda. E pode-se até pensar que a mesma teoria explique o comportamento de tentar viver o hoje em aglomeração, como se não houvesse prejuízos, para realizar ganhos imediatos, por aversão à perda do que se gosta tanto de fazer. (mas, vamos deixar esse assunto para outro momento!) O que as reações e comportamentos, quer seja diante de riscos ou de incertezas, têm em comum? A necessidade que todo ser humano tem por segurança e controle. E o que faz a diferença entre um ser humano com saúde financeira e mental, daquele que adoece diante das incertezas? É a capacidade de aceitar o incontrolável, de agir quando se pode controlar e a sabedoria do discernimento entre uma situação e a outra. Tentar controlar o incontrolável conduz às compulsões a ao “Burnout”. Comprar compulsivamente, exagerar nas horas de trabalho e investir como se fosse um cassino são comportamentos relacionados à ilusão de controle, ao excesso de confiança e ao sistema de fuga da realidade. Em termos práticos, crises econômicas não podem ser evitadas pelo cidadão individualmente, mas adotar a disciplina de construir reservas de emergência ao longo da vida é algo que está ao alcance da execução. A volatilidade do mercado financeiro é incontrolável, mas diversificar a carteira e manter uma posição confortável do patrimônio em investimentos conservadores pode dar a estabilidade ao esforço que você construiu com seu trabalho. Cenários de recessão são tristes e inevitáveis quando aparecem; no entanto, como empreendedor, manter uma separação clara entre a gestão da sua empresa e sua vida (separar as finanças da PJ da PF), medindo a dose de ousadia e riscos nos negócios e assumindo um estilo pessoal sem dívidas podem conferir segurança a você e à sua família. Caso essa mudança de atitude em você, ainda pareça no campo do incontrolável, buscar um apoio psicoterapêutico e praticar a espiritualidade são passos possíveis que podem ajudar a mudar essa direção!

Mercado financeiro sofre de crise de ansiedade. E agora, como me protejo?

Há inúmeros aspectos sobre finanças e comportamento que o investidor precisa entender. “Sinto tensão. Minha mente elabora uma quantidade enorme de preocupações e possibilidades em frações de segundos. Ela está sempre um passo à frente. Minha mente está muito ativa: traça inúmeras possibilidades”. Esse relato é característico de quem sofre de algum tipo de transtorno de ansiedade, definida na psicologia como um sentimento desagradável de desconforto ou terror derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), antes da pandemia, 33% da população mundial já sofria de algum transtorno envolvendo a ansiedade (ou síndrome do pânico) e havia uma estimativa que, em 2020, essa seria uma das doenças mais incapacitantes do mundo. Soma-se a isso, segundo estudo feito pela Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), casos de ansiedade mais que dobraram no período da pandemia. Agora, tomo a liberdade para colocar uma pausa na narrativa descrita acima, como acontece nos cortes de filmes, para mudar de cena.Aparentemente, a descrição que vem a seguir soará como se fosse desconectada do raciocínio anterior, como em uma mudança de ato no teatro, para, na sequência, mostrar a ligação e a possível coerência. Vamos falar do mercado de renda variável. Como é calculado o preço de uma ação? Se a análise usada for fundamentalista (umas das técnicas usadas pelo mercado financeiro), o valor de uma empresa será dado pela projeção de quanto dinheiro ela poderá gerar no futuro (fluxo de caixa), trazido ao presente. Por outro lado, se a análise for gráfica (outra técnica utilizada), o valor da ação será avaliado pelas inclinações gráficas que aconteceram na série histórica projetadas no futuro. A pergunta que lanço é: quanto de ansiedade existe no mercado financeiro e na relação com o dinheiro? Seriam os próprios métodos de precificação de ativos a exata descrição da ansiedade: projeções baseadas em experiências do passado, com antecipação de eventos futuros? Jargões como o “aumento dos juros já está precificado” ou “existe uma bolha no mercado financeiro” ou “tal ação teve alta meteórica (e a empresa está dando prejuízo)” não poderiam ser vistas como narrativas de uma crise de ansiedade generalizada? O ponto aqui não é fazer uma avaliação psicopatológica do mercado financeiro através de sinais e sintomas, mas, sim, chamar sua atenção para o cuidado com a sua saúde ao lidar com o dinheiro. E este será o foco e objetivo desta coluna: na linha da definição sobre ética de Foucault, estimular o exercício da liberdade reflexiva! São inúmeros os aspectos sobre finanças e comportamento e sobre meu “eu” investid@r que há para se pensar, dialogar, divergir e sintetizar, sempre visando a busca por equilíbrio e felicidade e pela saúde financeira, mental e integral, que são direitos e desejos de todos! Aqui passamos de “raspão” sobre os conceitos de tempo e dinheiro, atravessados pela ansiedade. A famosa frase popular “tempo é dinheiro” pode ser a tradução da fórmula matemática de cálculo de juros, que tenta unir objetivamente duas variáveis de recursos escassos, embora ela se esqueça da dimensão psicológica, que dirá humana, do tempo subjetivo e da subjetividade ao lidar com dinheiro. Termino este texto com uma frase de Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco, em seu best-seller “Em Busca de Sentido” (leitura que recomendo muito!), que ao narrar sua experiência dramática em quatro campos de concentração nazistas disse: “Pode-se tirar tudo de um homem exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a própria atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho.”