Consumismo financeiro: um vício perigoso para o investidor

Crise econômica e percepção de ações de empresas baratas são cenários favoráveis ao comportamento compulsivo Um perigo alarmante, que vem tomando conta do hábito dos brasileiros, é um crescente vício instalado na sociedade: o consumismo financeiro. Um forte indicador é o aumento significativo do número de blogueiros, influenciadores, cursos oferecidos e ofertas que anunciam, todos os dias, receitas de como tornar-se milionário, através do mercado financeiro. A CVM apontou um crescimento de 75% do número de golpes de pirâmides financeiras em 2020 em comparação ao ano anterior. Foram 325 comunicados enviados pelo órgão ao Ministério Público. Há forte crescimento também em golpes relativos a criptomoedas, como no recente caso da SQUID, moeda digital inspirada na série da Netflix ‘Round 6’. Se em um passado nem tão distante os pais desejavam que seus filhos economizassem moedinhas em cofres de porquinhos, hoje a vontade de alguns é que seus filhos saibam fazer análises e tenham desempenhos extraordinários em simuladores de ações. O grande incentivo a poupar e evitar compras compulsivas da fundamentada educação financeira tem sido substituído por “use suas economias para consumir produtos financeiros”, que pode levar à troca apenas da categoria de produtos de consumo. O consumismo financeiro pode tornar-se uma compulsão se há uma sequência de escolhas emocionais e imediatistas que estimulam a produção dos mesmos hormônios e neurotransmissores como qualquer outro vício. Os casos mais graves de endividamento em pessoa física vistos em atendimentos psicológicos estão relacionado à compulsão de investir, disfunção que pode acometer até mesmo os investidores qualificados. O vício em investimentos carrega o potencial viciante dos mais potentes vícios: o comportamento multiuso. Ele encontra recompensa para múltiplas necessidades: picos de felicidade, o desejo do enriquecimento, a ilusão de vitória, quando se acredita que “acertou na aposta da ação da vez” bem como o sentimento de pertencimento e de inserção social, uma vez que falar sobre investimentos com amigos é cada vez mais inclusivo. Mas há um forte perigo neste comportamento: a grande gangorra emocional, que pede cada vez mais picos de felicidade, principalmente nas baixas, quando há perdas. Crise econômica, juros baixos e percepção de ações de empresas baratas são cenários bem favoráveis ao aumento deste comportamento compulsivo. As emoções despertas no ambiente de juros baixos favorecem o deslocamento da necessidade imediatista de enriquecimento, que antes estavam na renda fixa (passeio “sem emoção”), para a renda variável (passeio “com muita emoção”) Algumas perguntas podem ser feitas a si mesmo, para saber se você é um investidor racional: antes de investir eu estudo o mercado financeiro, escuto recomendações de diversificação de carteira para gerir riscos, faço planejamento, tomo decisões com calma, cautela, consistências e enxergo os investimentos como estratégia de longo prazo? Se suas repostas foram não, ligue o sinal de alerta, pois você está vulnerável ao vício do consumismo financeiro. Investimentos são importantes, mas são ganhos incrementais e servem de suporte e financiamento para que a economia real aconteça. O principal ganho vem do trabalho, do “novo dinheiro” (como é chamado no mercado financeiro), que gera realização profissional consistente. Energia física, mental e o tempo também são recursos limitados; então, recomenda-se equilibrar as horas dedicadas ao acompanhamento do mercado financeiro, se sua profissão estiver desatrelada a ele. Coloque seus esforços profissionais em seus talentos, em seus objetivos, em seu propósito, na carreira que você escolheu. Sua vida profissional é preciosa, assim como seu tempo e sua estabilidade emocional. Encerro este artigo com um conselho de um dos maiores investidores Warren Buffett: “Investir em si mesmo é o investimento mais importante que você fará na vida. Não há investimento financeiro que se compare a isso, porque se você desenvolver mais habilidade, mais aptidão, mais percepção e capacidade, é isso que vai lhe proporcionar liberdade de fato.”

Lewis Hamilton: o que todo investidor pode aprender com o piloto

Piloto deu um show de resiliência, no final de semana no Grande Prêmio Brasil de F1 e serve de inspiração Nem tudo são flores na vida de um dos maiores pilotos e atletas da história do campeão mundial de Fórmula 1, o britânico Lewis Hamilton. Teve uma infância humilde, sofreu bullying, apanhou e chegou a ser expulso da escola por razões atribuídas ao racismo estrutural do sistema de ensino do país em que nasceu. Teve oportunidade de desenvolver seu talento em um dos esportes mais caros e mais inacessíveis financeiramente, graças ao esforço de seu pai, que trabalhava em três empregos para investir na carreira de seu filho. Hamilton deu um show de resiliência no final de semana no Grande Prêmio Brasil de F1 e serve de inspiração para todo investidor e para cada brasileiro que se emocionou ao ver a bandeira do Brasil ser erguida por um piloto que compartilha das lutas financeiras e da superação no meio das adversidades. Resiliência é a capacidade de passar por uma adversidade ou situação traumática com superação e fortalecimento. “Nunca podemos desistir”, diz o piloto após inúmeras ultrapassagens, para recuperar consecutivos rebaixamentos de posição e alcançar a vitória histórica. Para chegar ao sucesso profissional e investir bem, é preciso resiliência, tomar consciência de que o caminho tem sobressaltos, reveses, crises, mas que é possível “continuar lutando”, como ensina Hamilton, para obter a vitória. Pessoas resilientes conseguem estabelecer estratégias perante situações estressoras e são capazes de usar recursos próprios ou do ambiente para resolver conflitos. A boa notícia é que qualquer pessoa pode desenvolver resiliência, através do trabalho de sua autoestima, do aprendizado, da troca de experiências humanas em contribuir e receber, do treinamento da disciplina, da responsabilidade, da flexibilidade e da tolerância ao erro e à frustração. A resiliência não é uma capacidade que se constrói sozinha. É necessário o outro para que isso aconteça. Contar com pessoas em quem confiar, que colocam limites para estimular o aprendizado, que forneçam apoio e afeto e por quem se tem apreço, respeito e, também, contribuição. Hamilton teve o suporte de seu pai ao longo da vida, conta com sua equipe de escuderia e agora tem a admiração de grande parte dos brasileiros, sensíveis pelas causas que ele defende, relativas à diversidade e ao impacto ambiental. Investidores podem se espelhar nesse lindo exemplo de humanidade que traz a vitória para saber que não precisam estar sozinhos, que podem e devem contar com apoio tanto técnico como psicológico para percorrerem suas corridas financeiras e sua trajetória de vida. “Você consegue alcançar tudo aquilo que acredita”, ensina Hamilton, que foi além de superar uma penalidade de 25 posições e vencer brilhantemente uma corrida, contagiando todos com a esperança que há em cada ser humano de usar suas capacidades e lutar por um propósito.

Gurus financeiros e prejuízos por day trade. Saiba como escapar

Por que o ser humano busca heróis para se amparar, embasar as decisões e confiar cegamente todos os recursos? No dia 13 de setembro, após Elon Musk simplesmente publicar uma foto de seu pet, a criptomoeda meme Floki Inu, de mesmo nome do cãozinho do bilionário, valorizou mais de 3.000% em poucas horas. Em agosto de 2020, outro exemplo de distorção financeira aconteceu com a personagem de nome fictício Cleonice, que confessou ter se sentido “nua e desprotegida” quando perdeu toda sua carteira de investimentos ao ser enganada por um guru do day trade, juntamente com vários outros investidores. Observando inúmeros relatos de perdas por meio de golpes e pirâmides financeiras surge a pergunta que não quer calar: por que o ser humano busca gurus e heróis para se amparar, embasar suas decisões e confiar cegamente todos os seus recursos, assumindo riscos não calculados? Através de teóricos como Gustave Le Bon e Allport, a psicologia social aponta a tendência de pessoas renunciarem a suas responsabilidades individuais por se contagiarem emocionalmente pelo comportamento coletivo, influenciadas por algum líder carismático – o chamado comportamento de manada. Além do contágio de multidão, outros fenômenos psicológicos também acontecem simultaneamente, tais como a impulsividade e a inclinação para a busca do dinheiro rápido e fácil e a falta de confiança para tomar as próprias decisões, por baixa autoestima, medo ou falta de preparo suficiente. Resumidamente, a ausência de conhecimento técnico e de autoconhecimento; a falta de planejamento, de objetivos claros financeiros e de vida; a perda do senso de propósito e de autorrealização são combinações explosivas para escolhas impulsivas, que levam pessoas a eleger e transferir para falsos gurus, heróis ou profetas a condução da própria vida. A velha máxima que diz que, se você não tem estratégia, certamente estará na estratégia de alguém cai como uma luva para explicar o fenômeno dos gurus. A nomeação de heróis salvadores ou pessoas guias pode acontecer não somente no âmbito das finanças, mas em vários outros aspectos da vida, como em relacionamentos amorosos, familiares, no trabalho e até mesmo no exercício da cidadania. O ser humano é social, mas para sua própria saúde integral precisa ter claro os limites entre o exercício de sua autonomia e do viver em grupo. Dessa forma, é importante que você investidor(a), para não embarcar em qualquer foto de pet ou conversa de pirâmide, fique atento(a) para não cair no contagioso comportamento da massa chamada mercado financeiro, quando influenciada por meio da voz de falsos gurus, com agenda própria de intenções ou até mesmo desorientados. No lugar de depositar sua confiança em algo ou alguém por insegurança, busque seu desenvolvimento pessoal, emocional e técnico para ampliar sua capacidade de julgamento e tomada de decisão na direção de escolhas menos impulsivas, mais planejadas e de sucesso consistente no longo prazo.

Conheça o tipo de perdão que soluciona qualquer dívida

Segundo estimativas do Idec, mais de 60 milhões de brasileiros estão endividados Em agosto, exatamente todo dia 30 do mês, é celebrada a data nacional do perdão, proposta pela deputada Keiko Ota. Ela foi motivada pela morte de seu filho, sequestrado e brutalmente assassinado aos oito anos de idade. Por volta deste mesmo período, em setembro, também acontece o Yom Kippur, um dos dias mais importantes do judaísmo, dedicado ao arrependimento e ao perdão. O intuito de provocar reflexão a partir de datas celebrativas sobre a importância do perdão pode servir de estímulo a repensar a própria vida financeira. No começo de julho, entrou em vigor nova lei para prevenção e intervenção em casos de superendividamento. Ela modificou o Código de Defesa do Consumidor (CDC), estabelecendo que credores são obrigados a renegociar dívidas quanto a prazos e valores de parcelas, além de permitir antecipações com desconto e de informar ao consumidor, no ato da contratação, todos os encargos assumidos no ato da dívida. Agora, o consumidor pode pedir em juízo, de forma simplificada, para instaurar o processo por superendividamento para revisão dos contratos, caso não tenha sucesso na conciliação direta de suas dívidas. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), mais de 60 milhões de brasileiros estão endividados. Dentre eles, 30 milhões são superendividados, principalmente mulheres responsáveis pelo sustento de suas famílias. Dívidas geram graves problemas à saúde e à vida. Provocam estresse. O toque do telefone com um credor cobrando pagamentos ou a simples lembrança de estar devendo a alguém são exemplos de situações que aumentam o grau de ansiedade, que inclusive pode levar à depressão. Problemas financeiros afetam o humor, causam insônia, tiram a motivação, geram medo, insegurança e aumentam o pessimismo. Estar em dívidas leva a mentir, a esconder o assunto da família, a enganar. Gera brigas, acusações e sentimentos de culpa. Também afeta a produtividade, pois a pessoa passa a usar horas de trabalho para administrar os problemas, além de se sentir menos capaz. E o que o perdão tem a ver com tudo isso? A solução não está na ideia simplista de propor a busca pelo perdão das dívidas. Em muitos casos, isso não resolve, principalmente quando o padrão comportamental de endividamento já está estabelecido na pessoa. Nestes casos, quanto mais o indivíduo ganha, mais ele gasta, em um modelo instituído da Síndrome do Devedor, onde viver de crédito passa a ser um estilo de vida, que, apesar de provocar intensa culpa, muitas vezes é sublimada. A proposta aqui para transformação na vida financeira e promoção da própria saúde e felicidade está no auto perdão. Perdoar-se implica na busca de libertar-se da culpa, em absolver-se. Poupar-se. É até simbólico pensar que, na definição trazida pelos dicionários para a consequência de livrar-se das dívidas pelo perdão, poupar é uma delas. Perdoar-se implica em sair da negação, em deixar de evitar o contato com sentimentos dolorosos, ou com comportamentos disfuncionais para encará-los e provocar a mudança. Liberar-se da raiva, da autopunição ou de compensações negativas e ressignificar a vida. Perdoar-se traz a coragem do enfrentamento, motivação para largar as “vistas grossas” perante a própria conduta, sem precisar de absolvição de terceiros, desculpas ou autoengano. Para sair da cilada das dívidas é preciso pedir ajuda, que não vem do modelo recorrente de pedir dinheiro emprestado, mas sim do suporte técnico e principalmente psicológico para mudar o modelo de viver! Que tal aproveitar o Dia do Perdão para dar o primeiro passo?

A tecnologia pode trazer riqueza ou levar à miséria; basta saber usar

O que era esperado para acontecer em uma década de transformação digital ocorreu em um ano Há uma grande polêmica se a tecnologia é aliada ou inimiga do homem. Será que ela colabora para aumentar ou diminuir o buraco no bolso do consumidor? Esclarece ou confunde o investidor? Facilita o trabalho ou rouba empregos? A possibilidade de a humanidade, a saúde mental, a tecnologia e a ética andarem de mãos dadas foi tema do painel que mediei na Fintouch 2021, promovida pela ABFintechs, com participação de Edson Rigonatti, fundador e sócio da gestora de venture capital Astella investimentos, e Diego Barreto, CFO da IFood, cujo conteúdo, com minhas ponderações e perguntas seguidas das opiniões dos panelistas, trago neste artigo. Quais benefícios a aceleração tecnológica trouxe para a humanidade? A pandemia acelerou o processo tecnológico em velocidade de cruzeiro. Segundo especialistas, o que era esperado para acontecer em uma década de transformação digital ocorreu em um ano. Só no Brasil, houve crescimento de 68% em vendas on-line em 2020. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e por estimativa de executivo da ABFintechs, a quantidade de crédito colocada por fintechs na economia mais que dobrou neste período. Para Rigonatti, esta aceleração trouxe como benefício a otimização do tempo através da economia em deslocamentos e viagens a trabalho, substituídas por reuniões virtuais, que permitem, segundo ele, uma vida melhor, mais espaçada e mais suave. Já Diego vê esse processo de aceleração dentro de um contexto histórico, em que a qualidade de vida humana e bem-estar vem melhorando desde a Revolução Industrial. É certo que o surgimento de fintech democratizou o acesso às opções de produtos financeiros, pois o consumidor pode hoje, sem sair de casa, fazer uma pesquisa entre as várias ofertas do mercado, o que, no passado, só seria possível indo pessoalmente ao banco. Como a tecnologia pode resolver os problemas da própria tecnologia levando em consideração o ser humano?  Por outro lado, preciso destacar o impacto da velocidade de dados no cérebro humano. A psicologia econômica mostra que, ao acelerar, as pessoas tendem a fazer escolhas mais impulsivas que podem ser baseadas em análises superficiais da informação, das notícias, resultando em crença de fake news. A saúde emocional e financeira podem estar em jogo quando o assunto é tecnologia. Para mostrar isso, trago aqui um paralelo entre os quatro pilares do conceito de saúde mental da OMS e o impacto do avanço tecnológico. O primeiro pilar de saúde mental é dado pela garantia da autonomia e liberdade do ser humano, possivelmente comprometidas através da manipulação feita por algoritmos, que induzem distorções cognitivas em usuários e investidores levados a tomarem decisões por excesso de confiança e viés de confirmação (confirmam suas próprias crenças ao navegarem por informações seletivas e iguais, induzidas por buscadores). O segundo pilar importante apontado pela OMS para saúde mental é o indivíduo conseguir perceber suas próprias habilidades e valor. O desenho das redes sociais trouxe um novo sistema de avaliação e recompensas através do ranqueamento por likes, que estimula a cultura do cancelamento, mina muitas vezes a autoestima e a percepção dos próprios talentos. O uso da tecnologia pode estar abalando também o terceiro importante pilar de saúde mental que é saber lidar com os estresses cotidianos. O atual contexto veio acelerar transtornos de ansiedade, que já eram apontados pela OMS como uma das doenças mais incapacitantes do mundo, antes da pandemia. Houve um aumento do nível de comportamentos compulsivos, em compras por exemplo, e especificamente no mercado financeiro, através do “day trade”, chegando a situações extremas, com casos de suicídios. Os painelistas concordam com os desafios e fazem contrapontos. Barreto pondera que existe um movimento pendular em qualquer inovação na sociedade. Segundo ele, a criação de algo sempre é acompanhada de problemas que vão sendo corrigidos à medida que são identificados. Por isso é otimista quanto a inovação tecnológica e suas possíveis correções, e afirma que o saldo será positivo se o processo tecnológico for bem regulado. Rigonatti acredita que se a tecnologia for bem usada, pode ajudar o homem inclusive em suas tomadas de decisões através da correção de vieses cognitivos naturais, ampliando a realidade humana para realizar mais e melhor. Existe espaço para uma sociedade mais equilibrada no contexto do avanço tecnológico?   A quarta dimensão no fechamento da definição de saúde mental da OMS, refere-se à importância de o ser humano ser capaz de trabalhar de forma produtiva e para a comunidade. Cito, com muita preocupação, o movimento de muitos profissionais abandonarem suas carreiras escolhidas na busca do dinheiro rápido, impulsionados pelas estimulantes telas de cotações. Acrescentam-se a isso outros paradoxos tecnológicos de impacto no mercado de trabalho, como a necessidade de mão de obra mais qualificada, enquanto ainda se enfrenta no Brasil o desafio da baixa escolaridade; bem como o incremento em horas de trabalho diárias por conta do home office, em contrapartida ao aumento do desemprego devido a funções não mais necessárias por substituição tecnológica. Infelizmente junto com a transformação digital veio o aumento da desigualdade social. Barreto acredita que a tecnologia traz equilíbrio à sociedade. Fala sobre a otimização do tempo através do exemplo do delivery e das vantagens de facilidade pela entrega versus ir ao supermercado. Barreto destaca a necessidade de a sociedade ser crítica em relação aos avanços, para corrigir desvios e usar a tecnologia a seu favor. Rigonatti acrescenta o exemplo da descoberta do fogo, que ao mesmo tempo trouxe o avanço ao homem de cozinhar, mas também possibilitou a violência através do queimar, do destruir. “Esse é o ciclo tecnológico em todas as eras, e o mundo digital não é diferente. Pode ser usado tanto para o lado bom como para o ruim” diz ele. Ambos enfatizam a necessidade do desenvolvimento da tecnologia com consciência, em busca de usos mais equilibrados dos recursos naturais, do tempo, do dinheiro e da vida em si. Rigonatti fala sobre o aumento de investimentos nas áreas de melhoria de qualidade de vida e diz ser impensável, hoje,

O efeito Madoff terminou mesmo?

O golpe de pirâmide financeira continua repaginado nos tempos atuais e volta a fazer vítimas no Brasil O golpe do esquema de pirâmide financeira, cujo dinheiro vindo de novos investidores é usado para pagar os antigos, usado por Madoff nos Estados Unidos, mas já praticado por Carlos Ponzi na Itália, continua repaginado aos tempos atuais e volta a fazer vítimas na pandemia no Brasil. O curioso é notar que o fenômeno se intensifica em épocas de juros baixos ou dificuldades econômicas, cenário favorável para busca do “dinheiro rápido e fácil”. São gurus financeiros, blogueir@s e influenciador@s que bombardeiam ao longo da história, promessas de enriquecimento através de fórmulas mágicas, lucro por arbitragens fantásticas e investimentos miraculosos. Por que o velho golpe sempre funciona? Ele ativa no ser humano a busca da recompensa imediata, feita através de escolhas impulsivas, que estimulam no organismo a produção dos mesmos hormônios da felicidade presentes nos comportamentos compulsivos. E há um agravante ainda no vício por investimentos, a multifunção de um único comportamento ter diversas recompensas simultâneas: a emoção de correr riscos, a sensação de sucesso e o sentimento de pertencimento à roda de amig@s sociais ligad@s ao tema. E ainda alimentar o sonho de bens a adquirir através dos ganhos. É muita coisa junta! Algumas pessoas são presas mais fáceis que outras? Sim! Mas o perfil, possivelmente, não está ligado ao sexo, gênero, raça, idade, escolaridade ou nível socioeconômico, mas sim ao sistema de motivação atrelado. É provável que pessoas mais ligadas às recompensas financeiras, ao dinheiro por ele mesmo, de forma generalizada, são mais vulneráveis ao golpe. O grande paradoxo é que quanto mais se busca o alvo generalizado do dinheiro, maior é a perda do sentido específico da ação e da realização. Quanto mais se busca a felicidade na recompensa imediata através de atalhos mentais, maior é a insatisfação no longo prazo. Estamos próximos à comemoração do Dia do Trabalhador em um cenário mergulhado por forte desemprego. A palavra trabalho é polêmica e, às vezes, carregada de significados negativos ou sinônimos como labor, luta, labuta, sobrevivência, exploração, punição ou o dinheiro advindo do trabalho como fruto do pecado. Aparece então neste contexto, a mensagem conveniente e tentadora do “faça seu dinheiro trabalhar por você”. Aqui cabe a pergunta: você conhece alguém que obteve sucesso e admiração sem trabalhar com persistência? Trabalho não é sinônimo de emprego com a única finalidade de gerar capital. Ele é a atividade inerente ao ser humano, intimamente ligado à sua identidade. Uma experiência que tive ao levar meu pai de 84 anos para vacinação contra a covid-19, foi vê-lo contando a todos os colaboradores, com orgulho, que era médico há 56 anos. Outro idoso fazia o mesmo na fila, sobre sua profissão. Nenhum deles falava do patrimônio acumulado, não era isso que importava. É necessário resgatar valores primários, como a busca do prazer pela realização, a contribuição através de propósito e do uso dos talentos em favor da sociedade, exercícios que são sinônimos de saúde mental. A boa notícia é que a capacidade de conhecer e usar os próprios talentos, de fazer a diferença no mundo, de servir e contribuir para a sociedade, Madoff nenhum pode tirar de você!

Por trás de um investidor de risco existe uma trava de segurança

A volatilidade do mercado é incontrolável, mas diversificar a carteira pode dar a estabilidade ao esforço. Crises econômicas não podem ser evitadas pelo cidadão individualmente, mas adotar a disciplina de construir reservas de emergência ao longo da vida é algo que está ao alcance da execução. “Não durmo mais profundamente com tanta incerteza acontecendo”, “É injusto não saber o que vai acontecer e não ter qualquer garantia sobre a vida, sobre os negócios”, “Não há como fazer qualquer planejamento diante de cenários tão incertos”. Você já falou ou ouviu frases como estas? Embora os conceitos de risco e incerteza sejam distintos, eles podem se aproximar muito no campo dos impactos psicológicos. Um cenário de risco pode ser definido quando se é capaz de atribuir probabilidades aos possíveis ventos futuros, na tentativa de mensurar seu potencial de ocorrência. Em contrapartida, quando há pouca informação sobre possíveis resultados e impactam na habilidade de fazer estimativas, estamos diante de incertezas. Uma pesquisa recente, feita na Alemanha, mostrou um aumento significativo em transtornos mentais devido às incertezas geradas pela pandemia da covid-19. Muitos estudos já mostraram uma correlação entre a intolerância a incerteza e doenças como a depressão, transtorno de pânico e transtornos obsessivo-compulsivos. Por outro lado, Kahneman e Tversky, mostraram através da teoria do prospecto, que pessoas tomam decisões irracionais diante de riscos financeiros, e ficam muito mais tristes quando perdem algo, do que quando ganham a mesma coisa. Por isso, investidores tendem a realizar rapidamente ganhos, vendendo suas ações, às vezes de forma prematura, mas mantêm suas posições de prejuízo por muito tempo, por aversão à perda. E pode-se até pensar que a mesma teoria explique o comportamento de tentar viver o hoje em aglomeração, como se não houvesse prejuízos, para realizar ganhos imediatos, por aversão à perda do que se gosta tanto de fazer. (mas, vamos deixar esse assunto para outro momento!) O que as reações e comportamentos, quer seja diante de riscos ou de incertezas, têm em comum? A necessidade que todo ser humano tem por segurança e controle. E o que faz a diferença entre um ser humano com saúde financeira e mental, daquele que adoece diante das incertezas? É a capacidade de aceitar o incontrolável, de agir quando se pode controlar e a sabedoria do discernimento entre uma situação e a outra. Tentar controlar o incontrolável conduz às compulsões a ao “Burnout”. Comprar compulsivamente, exagerar nas horas de trabalho e investir como se fosse um cassino são comportamentos relacionados à ilusão de controle, ao excesso de confiança e ao sistema de fuga da realidade. Em termos práticos, crises econômicas não podem ser evitadas pelo cidadão individualmente, mas adotar a disciplina de construir reservas de emergência ao longo da vida é algo que está ao alcance da execução. A volatilidade do mercado financeiro é incontrolável, mas diversificar a carteira e manter uma posição confortável do patrimônio em investimentos conservadores pode dar a estabilidade ao esforço que você construiu com seu trabalho. Cenários de recessão são tristes e inevitáveis quando aparecem; no entanto, como empreendedor, manter uma separação clara entre a gestão da sua empresa e sua vida (separar as finanças da PJ da PF), medindo a dose de ousadia e riscos nos negócios e assumindo um estilo pessoal sem dívidas podem conferir segurança a você e à sua família. Caso essa mudança de atitude em você, ainda pareça no campo do incontrolável, buscar um apoio psicoterapêutico e praticar a espiritualidade são passos possíveis que podem ajudar a mudar essa direção!

Alienação parental pode deixar danos mentais e materiais como herança

alienação parental pode deixar danos mentais e materiais como herança

Como essa prática pode trazer graves impactos nos comportamentos financeiros e na relação com o dinheiro dos filhos Quem pratica a alienação parental provavelmente não tem consciência plena dos danos emocionais e psicológicos que está causando na criança ou adolescente. Danos tão graves capazes de comprometer inclusive a saúde financeira e mental desse jovem por toda a vida. Alienação parental é uma atitude de uma mãe, pai, de um responsável pelo menor ou até mesmo de avós, que tem por objetivo afastar a criança, prejudicar o vínculo dela com o genitor vítima da alienação. É uma espécie de manipulação, lavagem cerebral, campanha de difamação feita através de falas depreciativas, gestos e comportamentos desonestos que culminam em comportamentos de menosprezo, insegurança e até odiosidade da criança em relação ao seu genitor vítima, comprometendo o exercício da paternidade ou maternidade. Mudar de endereço sem avisar, dificultar visitas, fazer críticas caluniosas como “ele(a) é esquisito(a), qualquer coisa me liga que eu te socorro!”, mentir ou exagerar eventos, “esquecer” de avisar sobre festa ou reunião de colégio, não dar recados, são exemplos típicos de alienação parental. Principais sinais ou sintomas na criança A criança que passa por este processo e incorpora a atitude de repúdio na qual está sendo programada, desenvolve um transtorno psicológico chamado síndrome da alienação parental (SAP). São sintomas da síndrome: a criança replicar programação mental que sofreu com recusa persistente a passar tempo com o pai ou mãe alvo, apresentar ódio injustificado, esquecer vivências positivas, resistir a aceitar presentes ou manifestações de afeto do genitor. Pode apresentar um padrão agressivo de dúvidas, desespero nas visitas e até mesmo criar fantasias paranoides com falsas alegações de abuso físico ou emocional, sem evidências ou justificativas plausíveis. Consequências emocionais e psicológicas para a criança A criança que sofre da SAP desenvolve um tipo de apego psicológico chamado inseguro, caracterizado por falta de confiança nas pessoas. Com isso, adquire uma visão negativa de si mesma, dos outros e do futuro. Afasta-se de outras crianças, com dificuldade em estabelecer relacionamentos, inclusive na fase adulta. Possui forte sentimento de baixa estima, não se sente capaz de ser amada e desenvolve muitos medos, angústia, raiva, ansiedade e tristeza. A culpa decorrente do conflito entre lealdade com o genitor alienador (do qual a criança se torna dependente emocional) e a rejeição pelo genitor alvo produzem apatia e/ou agressividade. A criança pode apresentar fracasso escolar, transtornos de ansiedade, depressão e de personalidade. Consequências na vida financeira da criança quando adulto A história de vida ligada ao processo de alienação parental pode trazer graves impactos nos comportamentos financeiros e na relação com o dinheiro da criança na fase adulta. É comum a autossabotagem na carreira, uma vez que a pessoa não é capaz de enxergar seu valor. Por não se achar merecedora de afeto, também não acredita merecer sucesso. Pode desenvolver padrões de impulsividade e de compras excessivas, na busca de gratificações imediatas para apaziguar ansiedade e sofrimento. Ao se tornar uma pessoa insegura, passa a ter dificuldade em tomar decisões financeiras, em estabelecer um orçamento, acompanhar despesas e planejar para o futuro. Estabelece relacionamentos disfuncionais, com dificuldade em estabelecer parcerias ou trabalhar em equipe. Tem uma tendência à dependência emocional e financeira e pode se colocar com frequência em situações de vulnerabilidade perante relacionamentos abusivos, que inclui a violência patrimonial. Ao mesmo tempo, pode desenvolver grande agressividade e manifestações de raiva e tornar-se também um agente abusador. Por ter forte necessidade de validação externa e de provar seu valor, corre o risco de perder o senso de propósito e contribuição em seu trabalho. São pessoas que apresentam resistência à busca de ajuda devido a sentimentos de inadequação, medo de serem julgadas ou desconfiança em relação a outras pessoas. Na alienação parental é preciso “cortar o mal pela raiz”. Via de regra, a alienação parental surge de conflitos conjugais intensos, especialmente durante um divórcio ou separação, quando há forte abalo no ego dos cônjuges. Brigas intermináveis promovem uma espécie de encontro e manutenção do vínculo, mesmo que de forma extremamente disfuncional. Para evitar o processo de alienação, é importante que o luto da separação seja vivenciado. É preciso que ambos os cônjuges em divórcio façam um desinvestimento na relação e consigam cortar o vínculo mantido por meio do litígio. Um ritual de passagem bem-feito, a conscientização dos pais sobre os sinais e consequências da alienação parental e uma intervenção precoce no processo podem fazer toda a diferença no bem-estar e no desenvolvimento saudável da criança. Se a alienação já está estabelecida, é fundamental acompanhamento psicoterapêutico da criança, para que ela possa expressar seus sentimentos, receber apoio emocional, fortalecer sua autoestima e desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis. É possível também recorrer à mediação de conflitos e ao atendimento psicoterapêutico familiar para melhorar a comunicação, promover a compreensão mútua e desenvolver estratégias de coparentalidade saudável. Em casos mais graves de alienação parental, pode ser necessário o envolvimento do sistema jurídico e o afastamento do alienador. O tribunal pode ordenar uma avaliação psicológica ou psicossocial, para proteger o bem-estar da criança e promover uma relação saudável com ambos os pais. A alienação parental é assunto sério e precisa ser combatida. Crianças e famílias que estão passando por isso, necessitam buscar ajuda psicológica para sair desse processo danoso. Deixo como recomendação para se aprofundar no tema, assistir ao documentário brasileiro “Morte Inventada”, dirigido por Alan Minas. Nele você encontrará diversos depoimentos e o impacto em jovens que enfrentaram a síndrome da alienação parental.