“No Ritmo do Coração” ensina investidores e faz ESG ganhar o Oscar

O filme vencedor do Oscar 2022 teve um orçamento de US$ 10 milhões e dá um show sobre ESG Eu poderia começar este texto falando da estratégia financeira da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) – responsável por produzir anualmente o Oscar – com sua carteira de investimentos em ativos líquidos da ordem de US$ 790 milhões. Ou falar dos retornos financeiros do filme vencedor em 2022, que teve um orçamento de US$ 10 milhões e vendeu seus direitos à Apple TV em um leilão por US$ 25 milhões, somados ainda ao faturamento da bilheteria dos cinemas. O longa-metragem ganhador “No Ritmo do Coração” – ou em inglês “CODA”, do acrônimo Child of Deaf Adults (filho de adultos surdos) – ao retratar a história de Ruby (Emilia Jones), a única da família sem deficiência auditiva, faz um convite à reflexão do que realmente é saber ouvir. Há muitos temas relevantes financeiros tratados na obra áudiovisual, como o dilema central da escolha da carreira da menina, que, entre as difíceis opções que se apresentam, coloca em xeque os valores dos diversos personagens, assim como os nossos próprios valores pessoais. Sian Heder, cineasta, roteirista e mulher, dá um show ESG – sigla do mercado financeiro que significa Espaço (Meio Ambiente), Social e Governança – ao convidar o espectador a colocar-se no lugar dos personagens, a sentir o que cada um está sentindo, a buscar entender a linguagem do outro e a vivenciar a mesma situação de diversas maneiras. Entre as muitas letras lindas das músicas do filme, Ruby, ao cantar a mensagem com sua voz e seus gestos em libras, diz “olhei o amor dos dois lados: de amar e ser amado, e descobri não saber nada sobre o amor” fala sobre o amor, fala sobre relações humanas, fala sobre ESG. Não seria ESG o mesmo que empatia e cuidado? O mesmo que amar e ser amado? A sigla ESG é uma tradução de compromisso com os laços e a ética nas relações sociais, com os direitos humanos, com a longevidade, sustentabilidade, com o cuidado tanto do presente como do futuro de nosso planeta, para garantir nossa existência como humanidade, em um amplo espectro, tanto no curto e como no longo prazo. O filme coloca holofote sobre crises econômicas familiares, sobre o enfrentamento para a subsistência financeira de deficientes físicos, sobre conflitos em escolhas profissionais, sobre modelos de capitalismo exploratório ou colaborativo – ao retratar a proposta de cooperativa de pescadores; mas traz mesmo o olhar de que precisamos ser uma sociedade inclusiva e plural que sabe ouvir, cooperar, cuidar e amar. Ter diversidade traz retorno financeiro? Ter mulheres na liderança traz resultados, mais faturamento e lucro? São perguntas frequentemente feitas, já comprovadas e respondidas positivamente por diversas pesquisas e estudos, mas que intuitivamente podem ser visualizadas. A diversidade reflete a sabedoria de diferentes olhares e aumenta o grau de inovação e de satisfação com clientes. Cuidar do próximo, do planeta, da ética, da justiça, da própria saúde integral, ter respeito e propósito são condições estruturais para resultados financeiros consistentes e duradouros. Por isso, caro leitor, faço aqui um convite a, não só assistir ao filme maravilhoso vencedor do Oscar, como a pensar sua vida financeira e assumir uma atitude frente a suas escolhas no melhor estilo ESG de no “Ritmo do Coração”.

Mamãe Falei: por que sexo e dinheiro muitas vezes andam juntos

Declarações sexistas enfatizam exacerbação disfuncional sobre o uso do poder relativo ao dinheiro e ao sexo Na visão de Freud, “as questões de dinheiro são tratadas da mesma maneira que as questões sexuais: com a mesma incoerência, pudor e hipocrisia”. Freud, fundador da psicanálise, em sua última longa entrevista, declarou: “Quando alguém percebe o egoísmo por trás de toda conduta humana, não sente o menor desejo de renascer”. Acredito que a maioria de nós sentiu o mesmo dissabor de Freud frente ao comportamento desumano revelado pelas declarações do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), conhecido como Mamãe Falei. Em áudio compartilhado com um grupo de amigos, ele disse que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres” e que, então, “cidades mais pobres são as melhores”. Na visão de Freud, “as questões de dinheiro são tratadas da mesma maneira que as questões sexuais: com a mesma incoerência, pudor e hipocrisia”. Por que sexo e dinheiro muitas vezes andam juntos? Em um estudo sobre a escala de atitudes frente ao dinheiro, Yamauchi e Templer encontraram três pilares simbólicos na relação humana com o dinheiro: poder, prazer e segurança. Repare que as mesmas simbologias também podem ser  atribuídas às pulsões sexuais. Poder, prazer e segurança são atributos humanos positivos quando usados para o empoderamento, felicidade, preservação e proteção da espécie. São positivos quando envolvem olhar empático com outros indivíduos >perante  seus sentimentos, com respeito à dignidade da condição humana. Declarações sexistas, como as do deputado, fundamentadas na discriminação de gênero de uma pessoa, lançam ao extremo da exacerbação disfuncional sobre o uso do poder relativo ao dinheiro e ao sexo. Toda vulnerabilidade de condição de pobreza, ampliada pelo trágico cenário de guerra, foi retratada de maneira exploratória e humilhante ao se referir de forma indigna às mulheres ucranianas. Não é à toa que no mês de março comemora-se o Dia Internacional da  Mulher, data significativa para a reparação histórica da dominação masculina predominante na maioria das culturas. Manifestações hostis de sexismo como as de Arthur do Val foram usadas de forma ideológica e agressiva para estabelecer dominação e subjugação feminina. Mas é preciso ter atenção também às manifestações benevolentes e disfarçadas de sexismo e controle coercitivo. Um exemplo disso é a fala sequencial do deputado, justificando seu ato pelo contexto no qual foi gravado o áudio. Muitas vezes atitudes aparentemente gentis, educadas e revestidas de pseudorromantismo podem alimentar a dependência econômica e psicológica, característica de controle coercitivos de relacionamentos abusivos. Mamãe Falei acredita ser socialmente aceito referir-se às mulheres de forma depreciativa e desumana em um grupo privado de amigos e ter outro comportamento distinto em sua fala pública. Em sua crença, é percebida a ausência da sensibilidade ao sofrimento de seus semelhantes, em situação tão trágica como a guerra que estamos vendo, e ausência da percepção de que sua fala alimenta a desigualdade de gênero, algo que a sociedade atual clama pelo fim. O erro de Mamãe Falei – aliás, o próprio pseudônimo de Arthur do Val já pode estar passando a mensagem equivocada – pode servir de exemplo para cada um de nós. Mais uma oportunidade para analisar as nossas próprias crenças e comportamentos e para fazer uma autoavaliação de quais as atitudes frente ao dinheiro e ao próximo podemos mudar.

Amor e dinheiro podem viver em harmonia

O que é preciso para construir uma aliança financeira no seu relacionamento O dia 14 de fevereiro é conhecido como o dia mais romântico do mundo, como a data internacional do amor. O Valentine’s Day, ou Dia de São Valentim, em português, foi instituído em homenagem ao padre Valentim, preso por fazer casamentos escondidos para evitar a determinação do imperador de que soldados deveriam ficar solteiros. No Brasil é equivalente ao Dia dos Namorados, instituído em 12 de junho para fins comerciais, a partir do sucesso de uma campanha publicitária que dizia “Não é só de beijos que se prova o amor” e “Não se esqueçam: amor com amor se paga”. O saudoso cantor e compositor Tim Maia, ao dizer que “gritaria ao mundo inteiro, não quero dinheiro, eu só quero amar” trouxe, com muita arte, a temática dos conflitos financeiros em relações amorosas. A dupla amor e dinheiro é polêmica, e muitas são as questões filosóficas que envolvem esse par. Entre elas estão autonomia, poder, segurança e prazer, traduzidas em situações práticas como ter ou não ter conta conjunta, fazer ou não pacto nupcial, dividir  despesas do dia a dia, compartilhar ou ocultar compras, investimentos ou projetos. Se relacionamentos começam por atração física, sexual e intelectual, muitas vezes acabam por assuntos financeiros. O assunto é complexo. Sem a pretensão de dar fórmula pronta, trago aqui cinco reflexões para colaborar com hábitos mais saudáveis em uma relação: 1) Relacionamentos humanos são bens preciosos e precisam ser cuidados Uma pesquisa feita pela London School of Economics apontou que estar em um relacionamento amoroso eleva o nível de felicidade três vezes mais do que aumentar o salário. Humanos são seres relacionais e precisam estar conectados uns aos outros. 2) Relacionamentos são investimentos que precisam de dedicação e conhecimento A melhor prática para conhecer o par amoroso é a empatia e a escuta atenta. Aquilo que é importante para um nem sempre é para outro, e muitas vezes as brigas por dinheiro acontecem por divergência de opiniões e valores pessoais. Saber o que o outro sente ou pensa, entender as motivações sem julgamento e colocar-se no lugar do outro são ótimos passos para soluções conciliadoras de conflitos; 3) Confiança é fundamental para a saúde de relacionamentos Confiança é a base para relações de longo prazo, para alinhamento de sonhos. É ela que vai garantir a segurança para vencer obstáculos juntos. Não há confiança sem transparência. Por isso, pense duas vezes se vale a pena esconder assuntos financeiros. O melhor caminho para solucionar divergências é o diálogo positivo; 4) Liberdade, Igualdade e Fraternidade É quase impossível garantir que entre duas pessoas diferentes exista situações financeiras 100% igualitárias ao longo de uma vida a dois. O desequilíbrio financeiro pode ter início na riqueza das famílias de origem e por várias situações como enfermidade, desemprego, escolhas ou mudanças de carreira. O importante é o respeito mútuo e o equilíbrio emocional de poderes. É muito prejudicial  quando o dinheiro é usado como controle coercitivo. Um casal saudável respeita a  autonomia, a individualidade de cada um e estabelece apoio recíproco como um time; 5) Hábitos financeiros disfuncionais podem ser tratados Se há comportamentos que atrapalham a vida financeira do casal, é possível trabalhá-los. O importante é reconhecê-los e buscar ajuda. Tapar o sol com a peneira só aumenta o problema e alimenta uma relação doentia. Então, meu caro e minha cara, aproveite a fase de namoro para conhecer seu parceiro(a) e principalmente construir uma relação saudável com o dinheiro em casal. Mas, se você já está em um relacionamento e tem problemas com o tema ou se você se depara com insucessos amorosos frequentes por conta do assunto dinheiro, é importante buscar ajuda psicológica especializada para trabalhar crenças, valores e comportamentos financeiros mais equilibrados e construtivos, que colaborem para uma vida amorosa feliz.

Cinco atitudes que mudarão sua carreira frente à crise neste ano

Em 2022, você pode desenvolver sua vida financeira e profissional com alguns passos Há previsões consistentes que apontam 2022 como um ano difícil do ponto de vista econômico no Brasil. Mas, se você deseja “fazer do limão uma limonada” e mudar a realidade da sua vida profissional, pessoal e financeira, aqui vão algumas dicas. A natureza é sábia e nos ensina a viver. Repare que no alto da montanha não há desenvolvimento de árvores. Todo crescimento e fertilidade está no vale! Escutamos muitas histórias de superação por meio de escaladas de montanhas e de carreiras, vários ensinamentos de como chegar ao topo. No entanto, resiliência e fortalecimento são obtidos no enfrentamento das situações difíceis, enquanto percorremos os momentos de baixa. Define-se crise pela combinação de perigo com oportunidade. Sendo assim, o desenvolvimento acontece quando se aprende a superar o medo, a fazer gestão de riscos e a enxergar as chances que as circunstâncias apresentam. E, então, inicia-se um processo de mudança! No entanto, ficamos presos a velhos paradigmas, a crenças arraigadas, a comportamentos disfuncionais estabelecidos ao longo da vida, a análises superficiais, aos dissabores das frustrações, dores, culpas, mágoas e bloqueamos o acesso ao novo e à transformação. Há previsões consistentes que apontam 2022 como um ano difícil do ponto de vista econômico no Brasil. Mas, se você deseja “fazer do limão uma limonada” e mudar a realidade da sua vida profissional, pessoal e financeira, aqui vão algumas dicas: 1. Observe seus pensamentos e comportamentos Somos guiados pelo que sentimos e pensamos e todo comportamento tem uma função. Observar o que se sente e pensar bem como analisar a razão daquilo que se faz em cada contexto é um grande passo  para a mudança. Normalmente temos comportamentos próprios já estabelecidos e repetitivos em cenários difíceis. Vale se perguntar: isso que penso, decido e faço com frequência, mediante frustração, está me ajudando? 2. Expanda sua compreensão A realidade tem diversas facetas, mas só conseguimos enxergá-la a partir da nossa percepção pessoal. Portanto, conviver com a diversidade, dar abertura a ouvir visões múltiplas, buscar informar-se com profundidade em diferentes fontes com credibilidade ajudam a ampliar o entendimento e enxergar as melhores oportunidades na vida. 3. Saia da zona de conforto Comportamentos novos só podem ser estabelecidos se experimentados. Claro que é difícil vencer o medo e crenças sedimentadas. Mas não é necessário assumir grandes riscos para inovar. Pelo contrário, o sucesso da mudança está nos pequenos passos e nos riscos calculados. Comece por um piloto, por algo simples. 4. Trabalhe a autoconfiança e o autoconhecimento Suas habilidades pessoais, assim como a espiritualidade, são a chave para o enfrentamento de qualquer situação. Para isso, você precisa trabalhar no conhecimento de si mesmo. Você sabe quais são seus talentos? Está seguro deles? Tem um propósito e visão transcendental no que faz? Tem objetivos claros para si? Traçou uma direção para essas metas? Quais são seus valores pessoais? Suas ações estão alinhadas a esses valores? 5. Dê espaço ao erro e liberte-se do que não está bom Permitir-se falhar abre muitas possibilidades. A tentativa de controlar o incontrolável e buscar o perfeccionismo só aumenta a ansiedade, medo e causa paralisação e pessimismo. Muitas vezes, por  aversão a perdas, não se tenta algo novo e melhor. Novas formas de pensar e agir, alinhadas a suas habilidades e a um propósito podem ser o caminho de sucesso para a carreira, negócios e investimentos criativos e inovadores. Se 2022 será difícil para todos, não precisa ser ruim para você.

5 resoluções que podem mudar seus investimentos e sua vida em 2022

O segredo do sucesso perene e da felicidade passa por desfrutar da trajetória em que se está percorrendo Sendo você um iniciante ou um investidor qualificado, já deve ter ouvido falar sobre a busca pela hora certa de realizar os lucros: o momento perfeito para vender ações em alta e colocar o dinheiro no bolso com ganhos. O máximo da felicidade e da consagração de um investidor, quase como um troféu de vitória, seria acertar o ponto ideal da compra das ações na baixa para vendê-las na alta. Mesmo acertando precisamente os valores da menor baixa e da maior alta em seus movimentos de compra e venda, e podendo alardear por aí seu brilhantismo, o investidor sagaz irá sempre se deparar com o momento e as perguntas seguintes: estou com o dinheiro no bolso, e agora? Invisto em quê? Qual seria a próxima bola da vez? Tenho que investir de novo. Tenho que acertar outra vez. E este vazio seguinte, que muitas vezes acompanha o investidor, também pode ser encontrado na vida, em diversos aspectos: o vazio existencial que se segue após atingir um grande objetivo. Ser vitorioso em uma grande conquista traz muita felicidade, mas pode ser acompanhada de um aumento da autocobrança na superação da meta seguinte, e de um aumento da ansiedade pela busca constante dos próximos passos. Conhece pessoas que estão sempre pensando na próxima etapa? Indivíduos que mal terminaram uma conquista e já querem algo mais, mostrando-se eternamente insatisfeitos? O segredo do sucesso perene e da felicidade consistente, tanto nos investimentos como na vida, passa por desfrutar da trajetória em que se está percorrendo, muito mais do que dos resultados pontuais. Elenco aqui 5 dicas para reflexão neste momento que marca o encerramento do velho e o início de um novo ano: Aproveite o fim de ano para um intervalo de celebração e reflexão. Que o próximo ano seja de compromisso com uma jornada contínua de qualidade de vida, saúde mental, autorrealização, mais humanizada. Para você, desejo um feliz 2022 com muito propósito e contribuição com a sociedade através das suas atitudes, do seu trabalho e dos seus investimentos!

O que a variante Ômicron tem a ensinar para o Touro de Ouro

Seria a polêmica do Touro de Ouro um momento favorável para o mercado financeiro repensar seus modelos? A palavra símbolo, por definição, significa um nome, personagem ou imagem que representa algum comportamento ou atividade. O psiquiatra suíço Carl Jung dizia que um símbolo morre quando seu significado assume uma expressão concreta e, então, se transforma em sinal. Quais sinais a polêmica sobre a estátua do Touro de Ouro, colocada em frente à B3, e retirada pela prefeitura de São Paulo no dia 23 de novembro, pode nos indicar? À parte as questões políticas, na busca de pontos de convergência entre os que apoiam ou condenam o animal de fibra de vidro, ambos os lados desejam retomada econômica e geração de empregos. No entanto, enquanto para uns, o símbolo do Touro de Ouro no centro da capital paulista pode representar virilidade e prosperidade, para outros pode sugerir desigualdade e injustiça. E talvez essa seja a maior simbologia: a polarização em que estamos. Extremos de riqueza e pobreza que mostram filas de espera de meses para compras de carros e barcos de luxo, enquanto há um crescente número de moradores de rua e pessoas em situação de miséria e fome no País. A desigualdade dificulta a cooperação, com prejuízos tanto para quem está em vantagem, como para o lado prejudicado. Marcelo Benvenuti, coordenador do grupo de pesquisas em psicologia sobre comportamento social e cultura na USP, diz que as vantagens da cooperação têm sido gradualmente reconhecidas em áreas como a psicologia e a economia. Até mesmo na evolução, em que a sobrevivência parecia depender da competição, a cooperação mostra-se como um diferencial importante em relação a grupos que cooperam menos. Estamos sentindo isso na pele, globalmente. Uma prova é o surgimento da mais recente variante do coronavírus, a chamada Ômicron, resultado de uma vacinação desigual, entre países pobres e ricos. Ou seja, a diferença entre riqueza e pobreza prejudica a todos. Seria a polêmica do Touro de Ouro um momento favorável para o mercado financeiro repensar seus modelos? Será que ainda cabe o padrão de competição, entre Touros (sinônimo de investidores que estão na ponta do interesse da subida das ações) versus Ursos (referente aos que especulam para que as ações caiam)? Se a economia real é altamente beneficiada pelas fontes de financiamento provenientes da renda variável, da negociação de ações, poderia existir um modelo de bolsa de valores menos especulativa, que favorecesse o longo prazo, o ganha-ganha e a colaboração? Poderiam ser repensadas as normas de “day trade” e estruturas de liquidez na bolsa? E, se há polêmica entre a população em geral, deveria o mercado financeiro se empenhar mais na educação financeira, para que a compreensão sobre a importância do mercado acionário seja ampliada? E, se a comunicação sobre o touro foi mal compreendida, pode haver a hipótese de que o problema da mensagem está no emissor, no próprio mercado financeiro? Talvez o símbolo do touro, de virilidade, que remete exclusivamente à potência somente masculina, já não represente mais as demandas da sociedade atual que deseja inclusão, diversidade, igualdade e necessita urgentemente de colaboração para a própria sobrevivência. Quem sabe a estátua polêmica possa ser substituída por uma escultura cuja arte represente as demandas ambientais, sociais e de governança. Quem sabe podemos ter, ao invés de um touro, uma escultura ESG no centro de São Paulo, mostrando uma renovação dos valores do mercado financeiro. Dia 10 de dezembro celebra-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que visa promover os direitos econômicos, sociais e culturais de cada indivíduo. Vale o momento para refletir se iremos perceber a importância da união, do coletivo, da convergência e da colaboração ou se iremos ceder aos velhos modelos da polarização, do individualismo e da competição, onde todos juntos iremos sucumbir.

Consumismo financeiro: um vício perigoso para o investidor

Crise econômica e percepção de ações de empresas baratas são cenários favoráveis ao comportamento compulsivo Um perigo alarmante, que vem tomando conta do hábito dos brasileiros, é um crescente vício instalado na sociedade: o consumismo financeiro. Um forte indicador é o aumento significativo do número de blogueiros, influenciadores, cursos oferecidos e ofertas que anunciam, todos os dias, receitas de como tornar-se milionário, através do mercado financeiro. A CVM apontou um crescimento de 75% do número de golpes de pirâmides financeiras em 2020 em comparação ao ano anterior. Foram 325 comunicados enviados pelo órgão ao Ministério Público. Há forte crescimento também em golpes relativos a criptomoedas, como no recente caso da SQUID, moeda digital inspirada na série da Netflix ‘Round 6’. Se em um passado nem tão distante os pais desejavam que seus filhos economizassem moedinhas em cofres de porquinhos, hoje a vontade de alguns é que seus filhos saibam fazer análises e tenham desempenhos extraordinários em simuladores de ações. O grande incentivo a poupar e evitar compras compulsivas da fundamentada educação financeira tem sido substituído por “use suas economias para consumir produtos financeiros”, que pode levar à troca apenas da categoria de produtos de consumo. O consumismo financeiro pode tornar-se uma compulsão se há uma sequência de escolhas emocionais e imediatistas que estimulam a produção dos mesmos hormônios e neurotransmissores como qualquer outro vício. Os casos mais graves de endividamento em pessoa física vistos em atendimentos psicológicos estão relacionado à compulsão de investir, disfunção que pode acometer até mesmo os investidores qualificados. O vício em investimentos carrega o potencial viciante dos mais potentes vícios: o comportamento multiuso. Ele encontra recompensa para múltiplas necessidades: picos de felicidade, o desejo do enriquecimento, a ilusão de vitória, quando se acredita que “acertou na aposta da ação da vez” bem como o sentimento de pertencimento e de inserção social, uma vez que falar sobre investimentos com amigos é cada vez mais inclusivo. Mas há um forte perigo neste comportamento: a grande gangorra emocional, que pede cada vez mais picos de felicidade, principalmente nas baixas, quando há perdas. Crise econômica, juros baixos e percepção de ações de empresas baratas são cenários bem favoráveis ao aumento deste comportamento compulsivo. As emoções despertas no ambiente de juros baixos favorecem o deslocamento da necessidade imediatista de enriquecimento, que antes estavam na renda fixa (passeio “sem emoção”), para a renda variável (passeio “com muita emoção”) Algumas perguntas podem ser feitas a si mesmo, para saber se você é um investidor racional: antes de investir eu estudo o mercado financeiro, escuto recomendações de diversificação de carteira para gerir riscos, faço planejamento, tomo decisões com calma, cautela, consistências e enxergo os investimentos como estratégia de longo prazo? Se suas repostas foram não, ligue o sinal de alerta, pois você está vulnerável ao vício do consumismo financeiro. Investimentos são importantes, mas são ganhos incrementais e servem de suporte e financiamento para que a economia real aconteça. O principal ganho vem do trabalho, do “novo dinheiro” (como é chamado no mercado financeiro), que gera realização profissional consistente. Energia física, mental e o tempo também são recursos limitados; então, recomenda-se equilibrar as horas dedicadas ao acompanhamento do mercado financeiro, se sua profissão estiver desatrelada a ele. Coloque seus esforços profissionais em seus talentos, em seus objetivos, em seu propósito, na carreira que você escolheu. Sua vida profissional é preciosa, assim como seu tempo e sua estabilidade emocional. Encerro este artigo com um conselho de um dos maiores investidores Warren Buffett: “Investir em si mesmo é o investimento mais importante que você fará na vida. Não há investimento financeiro que se compare a isso, porque se você desenvolver mais habilidade, mais aptidão, mais percepção e capacidade, é isso que vai lhe proporcionar liberdade de fato.”

Lewis Hamilton: o que todo investidor pode aprender com o piloto

Piloto deu um show de resiliência, no final de semana no Grande Prêmio Brasil de F1 e serve de inspiração Nem tudo são flores na vida de um dos maiores pilotos e atletas da história do campeão mundial de Fórmula 1, o britânico Lewis Hamilton. Teve uma infância humilde, sofreu bullying, apanhou e chegou a ser expulso da escola por razões atribuídas ao racismo estrutural do sistema de ensino do país em que nasceu. Teve oportunidade de desenvolver seu talento em um dos esportes mais caros e mais inacessíveis financeiramente, graças ao esforço de seu pai, que trabalhava em três empregos para investir na carreira de seu filho. Hamilton deu um show de resiliência no final de semana no Grande Prêmio Brasil de F1 e serve de inspiração para todo investidor e para cada brasileiro que se emocionou ao ver a bandeira do Brasil ser erguida por um piloto que compartilha das lutas financeiras e da superação no meio das adversidades. Resiliência é a capacidade de passar por uma adversidade ou situação traumática com superação e fortalecimento. “Nunca podemos desistir”, diz o piloto após inúmeras ultrapassagens, para recuperar consecutivos rebaixamentos de posição e alcançar a vitória histórica. Para chegar ao sucesso profissional e investir bem, é preciso resiliência, tomar consciência de que o caminho tem sobressaltos, reveses, crises, mas que é possível “continuar lutando”, como ensina Hamilton, para obter a vitória. Pessoas resilientes conseguem estabelecer estratégias perante situações estressoras e são capazes de usar recursos próprios ou do ambiente para resolver conflitos. A boa notícia é que qualquer pessoa pode desenvolver resiliência, através do trabalho de sua autoestima, do aprendizado, da troca de experiências humanas em contribuir e receber, do treinamento da disciplina, da responsabilidade, da flexibilidade e da tolerância ao erro e à frustração. A resiliência não é uma capacidade que se constrói sozinha. É necessário o outro para que isso aconteça. Contar com pessoas em quem confiar, que colocam limites para estimular o aprendizado, que forneçam apoio e afeto e por quem se tem apreço, respeito e, também, contribuição. Hamilton teve o suporte de seu pai ao longo da vida, conta com sua equipe de escuderia e agora tem a admiração de grande parte dos brasileiros, sensíveis pelas causas que ele defende, relativas à diversidade e ao impacto ambiental. Investidores podem se espelhar nesse lindo exemplo de humanidade que traz a vitória para saber que não precisam estar sozinhos, que podem e devem contar com apoio tanto técnico como psicológico para percorrerem suas corridas financeiras e sua trajetória de vida. “Você consegue alcançar tudo aquilo que acredita”, ensina Hamilton, que foi além de superar uma penalidade de 25 posições e vencer brilhantemente uma corrida, contagiando todos com a esperança que há em cada ser humano de usar suas capacidades e lutar por um propósito.

ESG: importante para investimentos, fundamental para a política

Se já estamos cansados de ser o país do futuro que nunca chega, é necessário implementar uma agenda ESG O que você sente quando ouve a palavra sustentabilidade? Pergunto sobre o sentimento que desperta, ainda sem entrar na definição em si e muito menos no tema ESG ou em candidatos ao governo. Considerada uma bandeira e algo ligado à ecologia, para uns é um modismo passageiro com custos mais caros. Para outros, a palavra sustentabilidade por definição significa permanência, perenidade, propriedade daquilo que é necessário para a conservação da vida, que traz equilíbrio. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. E isso é possível? Aqui está o famoso dilema entre a disputa das satisfações do curto e longo prazo! Você que é investidor conhece bem esse conflito, não é mesmo? E ele está presente em nossas vidas, o tempo todo! Compro aquilo que quero agora, ou poupo para cuidar do meu amanhã? Esse dilema exige autocontrole e compromisso com decisões de longo prazo, mas também pede por mimos com recompensas e satisfações imediatas. Resolver essa questão é o segredo do equilíbrio, do sucesso e da longevidade. É claro que desejamos isso para nossas vidas, para nossos investimentos, para as empresas e para nosso país. Equilíbrio, felicidade, segurança, crescimento, sucesso, com permanência, longevidade, ou seja, com sustentabilidade! E em quais aspectos?! A resposta está no ESG! Nos aspectos ambientais (E, do inglês, environmental), sociais (S) e de governança (G). Sem cuidado com o ambiente onde se está – quer seja com a casa limpa e conservada, quer seja com o ambiente psicológico, ou mesmo com o planeta em que vivemos – existe equilíbrio na vida? Há como ser feliz, se as relações humanas ao nosso redor não estiverem harmoniosas, atendidas, acolhidas, com justiça, respeito e equidade? Há como garantir tudo isso, se não houver planejamento, método, processos, transparência, ética, respeito, consenso, inclusão, eficiência, ou seja, uma boa governança? Se já estamos cansados de ser o país do futuro que nunca chega, é necessário implementar uma agenda ESG para a nossa nação. Além da importância do tema ESG para investimentos e empresa, da relevância de ser ESG na condução da própria vida e na relação com o trabalho, gostaria agora de despertar em você, leitor e investidor, a importância do tema ESG na hora de votar. No momento de volatilidade e incertezas pelo qual estamos passando, é necessário a união, juntar esforços e escolher um governo que pense em longevidade, sustentabilidade e no equilíbrio entre o curto e longo prazo. Que ofereça propostas de cuidado com o patrimônio ambiental, que olhe pelo social em todos os aspectos, incluindo a harmonia, relações de parceria e cooperação. E que zele pela governança, em seu sentido amplo de ética, respeito, honestidade, transparência, disseminação de informações confiáveis, planejamento, cumprimento de metas e promessas! E isso é possível? Se vivemos neste constante conflito entre o curto e o longo prazo em nossas vidas, mas sempre em busca da melhoria e do crescimento, se buscamos conhecimento para melhores investimentos no longo prazo como investidores e se estamos trabalhando em uma agenda ESG para empresas mais lucrativas e sustentáveis, por que não acreditar e construir, através do voto, este mesmo caminho, para o País?

Gurus financeiros e prejuízos por day trade. Saiba como escapar

Por que o ser humano busca heróis para se amparar, embasar as decisões e confiar cegamente todos os recursos? No dia 13 de setembro, após Elon Musk simplesmente publicar uma foto de seu pet, a criptomoeda meme Floki Inu, de mesmo nome do cãozinho do bilionário, valorizou mais de 3.000% em poucas horas. Em agosto de 2020, outro exemplo de distorção financeira aconteceu com a personagem de nome fictício Cleonice, que confessou ter se sentido “nua e desprotegida” quando perdeu toda sua carteira de investimentos ao ser enganada por um guru do day trade, juntamente com vários outros investidores. Observando inúmeros relatos de perdas por meio de golpes e pirâmides financeiras surge a pergunta que não quer calar: por que o ser humano busca gurus e heróis para se amparar, embasar suas decisões e confiar cegamente todos os seus recursos, assumindo riscos não calculados? Através de teóricos como Gustave Le Bon e Allport, a psicologia social aponta a tendência de pessoas renunciarem a suas responsabilidades individuais por se contagiarem emocionalmente pelo comportamento coletivo, influenciadas por algum líder carismático – o chamado comportamento de manada. Além do contágio de multidão, outros fenômenos psicológicos também acontecem simultaneamente, tais como a impulsividade e a inclinação para a busca do dinheiro rápido e fácil e a falta de confiança para tomar as próprias decisões, por baixa autoestima, medo ou falta de preparo suficiente. Resumidamente, a ausência de conhecimento técnico e de autoconhecimento; a falta de planejamento, de objetivos claros financeiros e de vida; a perda do senso de propósito e de autorrealização são combinações explosivas para escolhas impulsivas, que levam pessoas a eleger e transferir para falsos gurus, heróis ou profetas a condução da própria vida. A velha máxima que diz que, se você não tem estratégia, certamente estará na estratégia de alguém cai como uma luva para explicar o fenômeno dos gurus. A nomeação de heróis salvadores ou pessoas guias pode acontecer não somente no âmbito das finanças, mas em vários outros aspectos da vida, como em relacionamentos amorosos, familiares, no trabalho e até mesmo no exercício da cidadania. O ser humano é social, mas para sua própria saúde integral precisa ter claro os limites entre o exercício de sua autonomia e do viver em grupo. Dessa forma, é importante que você investidor(a), para não embarcar em qualquer foto de pet ou conversa de pirâmide, fique atento(a) para não cair no contagioso comportamento da massa chamada mercado financeiro, quando influenciada por meio da voz de falsos gurus, com agenda própria de intenções ou até mesmo desorientados. No lugar de depositar sua confiança em algo ou alguém por insegurança, busque seu desenvolvimento pessoal, emocional e técnico para ampliar sua capacidade de julgamento e tomada de decisão na direção de escolhas menos impulsivas, mais planejadas e de sucesso consistente no longo prazo.