Como sair do discurso para a prática em ESG

Uma pesquisa feita pela CVM mostrou que apenas 64% consideram critérios ESG para investir Alguém tem dúvidas de que cuidar do planeta, controlar as mudanças climáticas, evitar condições meteorológicas extremas, erradicar a fome e a pobreza e trabalhar a inclusão e a diversidade trará benefícios e retornos maiores para todos – investidores, empresas, pessoas – no longo prazo? Se parece tão obvio, por que há dificuldades na implementação das ações ligadas ao ESG (sigla para ações ambientais, sociais e de governança)? Uma pesquisa feita pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) com investidores, em 2021, mostrou que apesar de 94% dos entrevistados conhecerem o conceito, 64% consideram os critérios ESG na escolha dos investimentos. Quando a pergunta incluiu a frequência com que isso é feito, o volume investido caiu para menos de 30%. Entre os principais fatores levantados pelos participantes para não considerar os critérios ESG em seus investimentos estão: dificuldades em obter informações, falta de confiança nas informações, falta de entendimento do impacto financeiro sobre o mercado. O descasamento entre o discurso e a ação mostra que a intenção é necessária, mas não é suficiente para a implementação das práticas ESG. Do ponto de vista psicológico, são três os elementos necessários para ocorrer mudança comportamental em qualquer indivíduo: 1) atitude – definida como alinhamento aos valores pessoais, como pré-disposição do indivíduo à ação; 2) percepção de controle, proximidade e domínio do tema; 3) mudança nos estímulos do entorno, da cultura e dos reforçadores sociais envolvidos. A proximidade e sensação de domínio do assunto são conquistadas por meio de aprendizagem e conhecimento, o que abre um espaço importante para educação financeira em ESG de investidores e do público em geral. É necessário aumentar a didática, a transparência, o acesso às informações relevantes sobre o impacto das práticas ESG nos investimentos, nas empresas, na sociedade e na vida das pessoas. No entanto, o principal desafio está no terceiro elemento de mudança comportamental: a transformação cultural, das crenças e dos reforçadores sociais. ESG, muito além dos cuidados ambientais, sociais e de governança, implica em duas grandes transformações comportamentais: a mudança do olhar de curto para longo prazo e do olhar individual para o coletivo. A natureza humana carrega em si, como resultado da história da evolução da espécie, o instinto de sobrevivência e de autopreservação, o que remete a comportamentos de curto prazo e de satisfação dos próprios interesses. E, para agravar, cenários de instabilidade e de incertezas apimentam e potencializam as escolhas impulsivas, imediatas e individualistas. Para que as pessoas usufruam e adotem comportamentos de longo prazo é necessário aumentar a sensibilidade aos efeitos da maior magnitude dos resultados no tempo, assim como estimular a cooperação. Empresas com ambientes muito competitivos em sua cultura e/ou com estímulo às metas de curto prazo terão dificuldade em desenvolver nos colaboradores repertórios comportamentais ESG. Há espaço, também no mercado financeiro, para estimular investimentos colaborativos, para dar mais acesso a informações de impacto em plataformas de investimentos e a dar estímulos reforçadores de longo prazo nas telas operacionais. Há um apelo muito forte hoje a práticas de “day trading” e à competição entre “ursos” e “touros”, quando o melhor espírito investidor ESG é ser fonte de financiamento para o crescimento da economia real. O ser humano tem uma tendência primária às escolhas imediatistas, mas diferencia-se de outros animais, pela capacidade em desenvolver repertório para escolhas melhores e de compromisso com resultados de maior valor e sustentabilidade. Muito além do retorno nos investimentos, da gestão de risco e do zelo por boas práticas, falar em ESG é falar do cuidado com pessoas. Zelar pelas práticas ambientais e sociais é no fundo cuidar de gente. Ter boas práticas de governança é montar estrutura que favoreça o cuidado de forma sustentável e permanente. Sendo assim, para obter sucesso, é fundamental a ação de todos pelo coletivo, empresas, instituições financeiras e o governo. Faz-se necessário o trabalho conjunto pelas mudanças culturais, no mercado e na sociedade, para estabelecer comportamentos ESG de colaboração e visão de longo prazo com retornos maiores no tempo.

Você sofre de “Fomo” financeira? Conheça os sintomas

Transtorno pode causar falta de concentração em geral, no trabalho ou dirigindo, insônia e pesadelos O fenômeno Fomo – abreviatura de “fear of missing out”, expressão em inglês traduzida como “medo de ficar de fora” – surgiu como uma patologia psicológica do mundo contemporâneo tecnológico. O comportamento caracterizado por forte ansiedade e pela necessidade intensa de saber o que outras pessoas estão fazendo, impacta negativamente as atividades diárias, o contexto familiar e a produtividade no trabalho. E quando o medo de ficar de fora refere-se aos investimentos? Ao medo de perder a bola da vez, as melhores oportunidades em ações, criptos ou nos derivados? A Fomo financeira é notada naqueles que não desgrudam da tela da Bolsa, em busca de bater (fechar negócio com a melhor oferta de compra disponível) ou tomar (com a melhor oferta de venda disponível). E ainda, naquelas pessoas consumidoras contumazes de todos os cursos de investimentos disponíveis, seguidoras de qualquer blogueiro ou vizinho que fale sobre as melhores dicas para investir. O comportamento também é observado em pessoas que constantemente buscam praticar e/ou publicar em roda de amigos e nas redes sociais seus feitos com swing trade (operações de curto prazo na bolsa, para aproveitar o sobe e desce do mercado durante alguns dias), ou naqueles que precisam seguir sem parar os blogueiros financeiros que as publicam. Alguns sintomas característicos da Fomo financeira são: * Dedicar muito tempo às telas operacionais; * Consumir excessivamente cursos ou dicas de blogueiros; * Ter dificuldade em viver o momento e preocupar-se constantemente com a situação do mercado; * Prejudicar-se nas relações sociais ou profissionais por preocupação com as finanças; * Falta de concentração em geral, no trabalho ou dirigindo, insônia, pesadelos ou prejuízo nas refeições; * Sofrer crises de ansiedade, pânico, forte angústia ou depressão; * Abuso de álcool ou drogas em busca de alívio; * Assumir riscos excessivos; * Já ter caído em algum golpe financeiro; * Perder o sentido de existência ou propósito. Algumas sugestões para minimizar os sintomas e até mesmo para prevenir a síndrome são: * Montar estratégia de longo prazo e de reservas com distinta liquidez para reduzir o acompanhamento diário do mercado; * Ter em mente que as publicações geralmente refletem estímulos e gatilhos de impulsividade e funcionam para capturar seu cérebro; * Lembrar que não existe dinheiro rápido e fácil e um bom investimento é aquele que cumpre seus objetivos ao longo do tempo com consistência e fundamentos; * Evitar comparar-se com os demais (que provavelmente também estão na mesma que você), focar sua energia em buscar remuneração por meio de atividades profissionais que usem seus talentos de forma produtiva e contributiva; * Praticar meditação e inserir na rotina atividades esportivas e ao ar livre. Se você está com alguns desses sintomas ou conhece alguém com características de Fomo financeira, note que apenas um profissional psicólogo qualificado pode diagnosticar transtornos mentais e prescrever o tratamento adequado.

Aprenda a proteger sua carteira contra a bipolaridade do mercado

Se foi iludido pela promessa de surfar na maior onda dos investimentos, você deve estar se sentindo afogado Com a inflação galopante deprimindo o mundo, bancos centrais de diversos países precisaram aumentar os juros, enxugar o dinheiro circulante do mercado e, assim, controlar a alta dos preços. Os aumentos conjuntos nos juros dos Estados Unidos e do Brasil, vistos nesta última ‘superquarta’, são prova disso. O ritmo de alta nos juros americanos é o maior em quatro décadas, e a taxa de juros brasileira, a Selic, no intervalo de apenas um ano e meio, oscilou de 2% para 13,25%. Com esse cenário de aperto monetário, os ativos de risco ficam pressionados e passam tempos difíceis. Ações americanas e brasileiras acumulam quedas depois do rali de altas vistas no ano passado, e criptomoedas astros como o Bitcoin, estrelas e planetas, como Terra (Luna) ou Solana (Sol), derretem, contaminando todo o mercado de ativos digitais. E você, investidor, como fica diante de tamanha magnitude e catástrofes do mundo financeiro? Você que investe seu suado dinheirinho, em busca de desfrutar de mais alegrias da vida, de poder relaxar, de ter melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, entre presente e futuro, através da aposentadoria; se vê levando ‘caldos’ no meio de tanta turbulência. E as perdas que esse conjuntura traz não se restringem às monetárias. Danos maiores estão ligados aos impactos que isso pode causar à saúde emocional. São muitos os prejuízos que a bipolaridade do mercado financeiro, com picos de euforia e depressão, pode provocar na saúde mental. E qual é o remédio? Como estancar sangue, suor e lágrimas nos investimentos? Em termos práticos, pode-se atenuar os altos e baixos dos ciclos econômicos e do mercado, com algumas dicas simples matemáticas: procure adaptar seu padrão de vida sempre a 70% de sua renda líquida, poupe 20% e exercite doar 10% para retribuir ao próximo o que ganhou. Dos 20% poupados, guarde sempre 10% para sua aposentadoria, e, com os outros 10%, componha suas reservas de emergência, de sonhos e projetos. Independentemente de qual seja seu perfil, nunca ultrapasse a faixa de 30% em investimentos de risco. E, em ativos de alto risco e pouco histórico, como as criptomoedas, limite a 1% o montante investido (essa última prática ouvi como depoimento de alguém do mercado de ativos digitais, em relação a seus próprios investimentos). E não se alavanque mais que 30% em dívidas ou em parcelamentos no cartão. Em termos emocionais, é preciso ressignificar a dimensão que os investimentos ocupam em sua vida. Se você está depositando no mercado financeiro toda sua felicidade, esperança e sucesso, certamente irá se decepcionar. Juros servem para proteger e remunerar reservas já construídas, mas não substituem, de forma alguma, o valor do trabalho e o sentido de contribuição à sociedade que o uso de seus talentos pode trazer. Pensar que o dinheiro pode trabalhar por você é colocar em risco sua própria identidade, sua autenticidade no uso de seus potenciais, colocar em risco sua própria condição de existência de ser. Do ponto de vista econômico, dinheiro investido serve para ajudar a economia real a crescer como fonte de financiamento. No seu caso, você sempre precisará do dinheiro novo, fruto direto de seu trabalho, para alimentar o patrimônio. Os juros não farão isso por você. Mesmo que sua carteira, seu orçamento ou atitude atuais estejam distantes dessas recomendações, é possível se reorganizar olhando para a frente. Vale sempre lembrar que saúde, paz, sucesso e felicidade não moram em gráficos ou em números. Sua busca precisa passar pelo caminho do autoconhecimento, da identificação de objetivos claros, da adaptação e aceitação das situações difíceis, do olhar de cooperação e amor, e do equilibro entre valores monetários, sentimentais, humanos, morais e espirituais.

Entenda por que as carreiras do futuro serão caleidoscópicas

As diversas habilidades de um profissional poderão ser fundamentais para a conquista de novas oportunidades Houve um tempo, na Idade Média, em que a tradição familiar do ofício, passada de pai para filho (e não para filhas), era tão forte que os sobrenomes tinham origem nas profissões: os Baker eram da família de padeiros; os pastores de ovelhas eram os Shepherd e Carneiros; Ferrari, os ferreiros; Schumacher e Zapatero, os sapateiros, entre outros. Aliás, os Lombardos, Lombardis, eram os banqueiros, cambistas mercadores, ou seja, os investidores. Escolhas profissionais são carregadas de símbolos e significados construídos a partir do grupo social de origem. Por isso pais — e felizmente, cada vez mais, também mães e mulheres — têm a oportunidade de serem exemplos de vida profissional e influenciar seus filhos. Mas como se dará a referência da escolha profissional, de agora em diante, se nem os próprios pais sabem se suas profissões irão desaparecer nos próximos anos? Uma pessoa que começa a vida profissional hoje provavelmente não irá se aposentar na mesma atividade. Mudará muitas vezes de trajetória ao longo de sua vida. Inclusive há forte tendência do crescimento dos profissionais slashs (atividades separadas por barras), nome dado aos profissionais que exercem várias atividades simultâneas. O exemplo disso está presente nas redes sociais profissionais em descrições como historiador/professor/escritor/palestrante. Se por um lado, para um jovem, é tranquilizante saber que a escolha de uma faculdade não é mais uma definição eterna do que ele será quando crescer, por outro o grau de incerteza do mercado de trabalho e a quantidade de opções presentes e futuras —ou a ausência delas — aumentam drasticamente a ansiedade. Outrora o emprego estruturava a sociedade, mas falar de desemprego ou informalidade está perdendo o sentido diante das mudanças nas relações de contrato de trabalho, com o movimento autônomo, empreendedor e até mesmo iniciativas daqueles que não querem mais trabalhar, como visto recentemente nos Estados Unidos e no movimento social Tang Ping, na China, contra o trabalho duro e excessivo. A carreira linear está se transformando em carreira caleidoscópica. Assim como um caleidoscópio, formado de componentes coloridos, a depender do ângulo da luz, reflete variadas imagens através de seus espelhos, que resultam em magníficas combinações visuais. Uma carreira caleidoscópica pode usar múltiplas habilidades e conhecimentos e refletir distintas contribuições para a sociedade em diferentes momentos, a depender da maré, de onde sopra o vento e da situação do mercado em cada fase da vida. O modelo conhecido como carreira caleidoscópica estuda como os indivíduos desenham suas carreiras segundo três parâmetros: crescimento, balanço e autenticidade, que podem se alternar em diferentes momentos. Um jovem pode priorizar o crescimento financeiro ou intelectual no início de sua vida profissional, mas em determinada altura da vida muito provavelmente vai buscar mais equilíbrio entre os diferentes papeis sociais, como o cuidado com a família ou decidir mudar de rumo guiado pela autenticidade. As decisões serão mais ligado aos valores pessoais, ao propósito e senso de contribuição, do que na tarefa em si ou na remuneração. Dificilmente será possível ter os três parâmetros simultaneamente, mas é perfeitamente possível desfrutar de todos eles – crescimento, balanço e autenticidade – distribuídos ao longo da vida. Por isso é tão importante fazer um planejamento da vida profissional juntamente com o planejamento financeiro que poderão dar tranquilidade às escolhas de cada etapa. Fundamental também é buscar autoconhecimento para ser capaz de valorizar o melhor a ser extraído a cada faixa etária e a cada momento de vida. Autoconhecimento e planejamento juntos podem ajudar em sua autoestima, no aperfeiçoamento de seus potenciais e tornar possível brilhar os componentes coloridos de sua carreira caleidoscópica da melhor maneira a se adaptar aos diferentes ângulos de luz apresentados ao longo da vida. Fazendo isso, o resultado desta combinação será certamente de lindas imagens no caleidoscópio da sua trajetória profissional.

Mester afirma que risco de recessão da economia americana aumentou

A chefe do Fed de Cleveland disse que os mercados devem seguir voláteis dependendo das medidas financeiras Por Letícia Simionato – A presidente do Federal Reserve (Fed) de Cleveland, Loretta Mester, afirmou hoje que o risco de recessão da economia americana aumentou. No entanto, ela ressaltou que, como o impulso da demanda agregada subjacente e a demanda por mão de obra estão fortes, ainda é possível argumentar que, à medida que a demanda e a oferta se equilibram melhor, uma desaceleração acentuada pode ser evitada. Em evento do Philadelphia Council for Business Economics, Mester argumentou que os mercados financeiros podem permanecer muito voláteis à medida que as condições financeiras se apertam ainda mais. Além disso, o crescimento pode desacelerar um pouco mais do que o esperado por alguns trimestres, e a taxa de desemprego pode mover-se temporariamente acima das estimativas de seu nível de longo prazo. “Isso será doloroso, mas a inflação alta também”, destacou.

Frio e mudança climática: perigos à saúde mental e aos investimentos

O momento é favorável para falar sobre o tema, já que os impactos foram sentidos na pele nesta semana Se você está congelado de frio ao ler este artigo sabe bem o que as mídias sociais chamaram de “erupção polar histórica”. Uma conjunção de fatores climáticos provoca onda de frio intensa no País, rara para esta época do ano. Embora os efeitos das mudanças climáticas causem impacto no corpo, no bolso e inclusive na mente, muitas vezes eles são negligenciados. Outro dia, em um bate-papo descontraído de “happy hour” sobre dificuldade em relacionamentos amorosos, um amigo virou para o outro e sugeriu: “Conversa com ela sobre o aquecimento global e como cuidar do planeta”. E a resposta, seguida de uma risada, foi: “Ninguém está falando sobre isso, cara!”. Parece que o mecanismo de cuidar do planeta é semelhante ao de pedidos em restaurante da mesa grande de amigos: “Se o colega não cuida, por que eu vou cuidar?” E a conta acaba saindo cara para todos. É sabido que consequências de longo prazo são mais difíceis de serem percebidas pelas pessoas no dia a dia, e o mesmo acontece com investimentos. O momento então é favorável para falar sobre o tema, já que os impactos imediatos foram sentidos na pele nesta semana mesmo. Afinal, queremos corpo, mente e bolsos sãos, e nenhum investidor quer seu dinheiro congelado ou ver ativos derretendo. No curto prazo, geadas, chuvas congelantes e enchentes impactam diretamente as safras e os preços das commodities, aumentando a inflação e por consequência os juros. Em alguns setores, o risco climático pode ser muito significativo. No Brasil, apesar do aquecimento global ter efeito direto no setor produtivo, ainda há enorme distância dos cuidados e ações necessárias. Dada a grande dependência do PIB pela agricultura, muitos investimentos estão expostos a grandes perdas. A questão é séria e vai além da preocupação com o dinheiro. O impacto das alterações climáticas pode provocar sérios danos psicológicos. Pessoas que passaram por situações de desastres naturais como enchentes, terremotos, secas ou geadas encontram dificuldades no enfrentamento de risco, aumento do uso de álcool e, em alguns casos, transtornos mentais como depressão, ansiedade e estresse pós traumático. Mesmo aqueles que não vivenciaram diretamente tais situações, podem sofrer crises de ansiedade pela antecipação e preocupação com eventos climáticos extremos. A palavra “solastalgia”, criada pelo filósofo Glenn Albrecht em seu trabalho no Departamento de Estudos Ambientais da Universidade de Newcastle, na Austrália, refere-se à sensação de angústia associada a mudanças no entorno natural de um indivíduo. Pesquisa publicada pela The Lancet em 2021, aponta que no mundo três a cada quatro jovens de 16 a 25 anos projetam o futuro como “assustador”, mais de 80% acreditam que o planeta não é bem cuidado e 39% estão em dúvida sobre ter filhos pela incerteza quanto ao futuro. A mesma pesquisa aponta dados mais pessimistas no Brasil: 86% têm medo do futuro, 92% acreditam que a população negligencia o problema e 48% é hesitante sobre gerar descendentes por medo dos impactos da crise do clima. A psicologia tem se debruçado sobre o tema das mudanças climáticas globais por meio do estudo dos comportamentos humanos e sociais negativos, como a emissão de gases de efeito estufa, elevados padrões de consumo e decisões de matrizes energéticas. Ela auxilia também no enfrentamento das pessoas contra as consequências que as mudanças climáticas trazem, assim como na adaptação a elas. Com base na psicologia social e na ciência climática, um novo modelo investiga como a evolução das mudanças comportamentais humanas afeta a mudança de temperatura global e vice-versa. Na modelagem, o estudo aponta boas notícias sobre a relação entre percepção social, mudanças comportamentais e o impacto nos eventos climáticos extremos. Exemplos são a adoção de painéis solares e investimentos em transportes públicos, reduzindo a probabilidade da projeção do aumento da temperatura global em até 1,5°C para 2100. A combinação no modelo de projeções climáticas com processos sociais prevê uma variação de temperatura global de 3,4 a 6,2°C até 2100, comparada com 4,9°C do modelo climático sozinho. Portanto, se você investidor já percebeu que o cobertor está curto, pode fazer a diferença incorporando em suas atitudes rotineiras e decisões de investimentos o cuidado com o meio ambiente e a preservação do planeta, intimamente ligados à sua saúde física, mental e financeira.

Quer melhorar o que vê no extrato? Olhe para dentro de você

Um dos fundamentos principais de uma vida financeira equilibrada está na organização e na disciplina Se a casa é o lugar onde você habita, assim como seu próprio corpo, cabe dizer que a organização de sua casa reflete sua organização interior? Em um polêmico post que lancei nas redes sociais com essa pergunta, entre os milhares de comentários recebidos, há diversos depoimentos sobre sentir-se mais organizada(o) nos pensamentos após uma boa arrumação da casa. Há também narrativas sobre a obsessão em deixar a casa arrumada como reflexo da desorganização dos sentimentos. E, para as finanças, vale a mesma afirmação? Sim. Um dos fundamentos principais de uma vida financeira equilibrada está na organização e na disciplina. Não é à toa que pedimos às crianças em aulas de educação financeira no Ensino Infantil que elas organizem o material escolar. Organizamos objetos em gavetas, em prateleiras e em armários, assim como devemos fazer o mesmo com o dinheiro: em categorias, centro de custos, em orçamento, em tipos de reservas e em estratégias de investimentos. A vida financeira reflete a organização interior e vice-versa. Do ponto de vista psicológico, dizemos que os pensamentos estão desorganizados quando perguntas e respostas estão parciais ou completamente não relacionadas, desconectadas com a realidade ou quando as noções de tempo e espaço se perdem. Por isso também trabalhamos com as crianças a compreensão da organização pessoal, através dos hábitos cotidianos e do treinamento do tempo por meio da espera. Organizamos, desde o berço, o tempo de dormir e a espera dos intervalos de mamada como treinamento da paciência. Adultos que sabem esperar estão aptos a serem bons investidores. Conseguem economizar e ter paciência para comprar à vista, em vez da antecipação por meio de dívidas e parcelamentos. Desenvolvem a sensibilidade e o compromisso com o longo prazo, pois sabem que é possível alcançar todos os objetivos, mesmo que pareçam difíceis imediatamente. Dessa forma, são menos impulsivos em suas decisões financeiras. Há uma correlação entre organização do espaço, dos pensamentos, das emoções, do tempo e do dinheiro. Estes dois últimos quesitos, aliás, estão extremamente ligados e matematicamente unidos através do cálculo dos juros. Então, se você quer ter uma vida financeira melhor, comece pela organização! Dê um primeiro passo e olhe com cuidado seu extrato e seus gastos no cartão. Comece a organizá-los por categorias, em uma tabela, para enxergar com mais clareza suas despesas. Se houver dívidas, faça uma lista com prazos, instituições, parcelas, e com os juros embutidos nelas. Em relação aos seus investimentos, organize sua carteira. Liste em uma tabela seus ativos, títulos, ações, fundos em termos dos prazos de vencimento, liquidez, risco e retorno. Organize seus vencimentos em três blocos: curto prazo, formando a reserva de emergência com alta liquidez e risco baixo; médio prazo e média liquidez, para compor a reserva de sonhos e projetos; e longo prazo, que pode ter baixa liquidez, para formar a reserva da aposentadoria. E, principalmente, organize seus sonhos em objetivos atingíveis no tempo. Fazer a lista daquilo que você quer realizar em sua vida, em ordem de prioridade, é um primeiro pequeno passo na direção de grandes realizações. Heidegger, filósofo alemão e inspirador de importante abordagem da psicologia, estabeleceu em sua obra um paralelo entre o Ser, seu Habitar e sua Organização Interior. Somos aquilo que habitamos, e somente conseguimos habitar naquilo que realmente queremos ser e construir. Busque organizar sua habitação com equilíbrio, em todos os sentidos que ela possa ter! Organize seu corpo, sua mente, sua casa, seu tempo, seus projetos, sua vida financeira. Como estão intimamente ligados, não importa por onde você comece. O importante é construir esse caminho. Cora Coralina, querida poeta brasileira, já dizia: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”.

Investidor deve olhar para a frente, mas para os lados também

Se você está se esforçando e fazendo sua parte, por que os resultados não aparecem? Você já se deparou com uma situação em que navega, navega, mas não consegue sair do lugar? Seja na sua empresa, como executivo, colaborador e empreendedor, ou como autônomo ou mesmo na sua vida pessoal, você fica exaustivamente lutando contra a maré, mas não vê os resultados? Se você está se esforçando, fazendo sua parte, por que não funciona? A resposta é simples: não existe somente sua parte, o que acontece ao seu redor é a outra grande parte! Do ponto de vista psicológico, qualquer ação humana e comportamento é sempre conectado ao meio, aos estímulos, reforçadores que o indivíduo recebe, ao contexto sócio-histórico-cultural. Na vida financeira, isso significa que a sua história, a influência de valores, hábitos e crenças familiares impactam diretamente em seu modo de agir e de se relacionar com o dinheiro. Em termos macroeconômicos, significa que suas ações individuais, como investidor, ou suas ações empresariais, por melhores que sejam, serão influenciadas diretamente por variáveis do mercado como inflação, taxa de juros e cenário internacional. Embora pareça óbvio, isso significa que o autoconhecimento, desenvolvimento técnico, inovação, boa gestão e governança, aprendizagem, dedicação e esforço são muito necessários, mas não serão suficientes. Na matemática, a desigualdade é expressa através da relação entre dois elementos, em que um é maior e outro, menor. A complexidade do cenário brasileiro de desigualdades de renda, educacional, de gênero, de raça e de situações de vulnerabilidade familiar e social, são acentuadas a cada dia pela desigualdade digital e injustiça da desigualdade ambiental, que elevam o número de pessoas em situação de pobreza e a concentração de riqueza em uma minoria. No Brasil, segundo relatório da Riqueza Global publicado pelo Banco Credit Suisse em 2021, 1% da população mais rica concentra 50% da riqueza do país, o que coloca o País como segundo país de maior desigualdade econômica entre os pesquisados, ficando atrás apenas da Rússia. Embora exista a minoria que detém a maior parte da riqueza, ninguém é privilegiado, porque todos saem perdendo. A desigualdade acentua a culpa, o medo, a violência, a insegurança e a polarização. Gera distorções no mercado e tensões que culminam em desfechos e rupturas nas relações sociais. O mercado financeiro e a concentração A adesão do mercado financeiro ao conceito ESG vem estimulando a alocação de recursos nas boas práticas sociais, ambientais e de governança nas empresas, o que promove diversas ações individuais corporativas quanto à diversidade, inclusão, cuidados com o meio ambiente e com a ética. Mas isso, por si só, não é suficiente para garantir o desenvolvimento sustentável brasileiro e o equilíbrio econômico social no país. Há inclusive concentrações de geração de caixa dentro do próprio mercado por meio de desigualdades empresariais tributárias e de acesso ao crédito. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) atua na defesa da concorrência, para evitar monopólios, oligopólios, a concentração de um determinado grupo econômico em um mesmo mercado. Mas em que instância há o olhar pela concentração econômica de um mesmo acionista, ou grupo econômico, no acúmulo da liderança em diferentes mercados simultaneamente? É razoável que um mesmo acionista seja detentor da liderança por exemplo de segmentos industriais, serviços e financeiros simultaneamente? Nesse sentido há lacunas ainda pelo olhar da concentração de grupos investidores em mercados distintos. O todo é maior que a soma das partes Se navegar contra a correnteza muitas vezes não faz chegar aos objetivos desejados, e se iniciativas ESG empresariais pontuais não garantem o desenvolvimento sustentável na nossa sociedade, é necessário unir forças, através da atuação coletiva e política. Uma pessoa sozinha, em situação desigual, pode enfrentar dificuldades impeditivas, mas poderá se fortalecer através de uma rede de apoio. Do mesmo modo que grupos sociais e empresariais podem atuar coletiva e politicamente através de uma ferramenta chamada Advocacy. O termo, que vem do latim Advocare, significa ajudar alguém que está em necessidade. Advocacy tem por objetivo influenciar na formulação e implementação de políticas públicas para a defesa de causas que favoreçam a população. Ações individuais como empreendedor, empresário, colaborador ou na vida pessoal podem não levar isoladamente ao resultado esperado, mas coletivamente é possível mudar o cenário socioambiental e mudar a história. Discussões isoladas, polarizadas ou mesmo o voto individual nas urnas isoladamente podem não trazer as transformações esperadas, mas ações coletivas, proativas, organizadas podem mudar o rumo do crescimento do país. É mais que necessária a aproximação dos cidadãos da política. A aproximação do mercado financeiro e privado do setor público, de forma organizada e institucional tem de ir além do interesse específicos dos negócios. O trabalho conjunto público-privado pode contribuir na identificação efetiva das necessidades existentes na sociedade, sugerir melhores soluções e criar um ambiente que favoreça tanto os resultados individuais como o bem-estar e equilíbrio coletivos. O ser humano é um ser social e político. Em vez do distanciamento empresarial da política, ou de uma atuação enviesada por interesses particulares, em vez de discussões superficiais e polarizadas que só causam rupturas, é momento de uma atuação ética, coletiva e organizada dos setores público-privado para o bem social, com visão de longo prazo e da sustentabilidade em seu aspecto mais amplo. Aqui vale a premissa de que a união faz a força!

“No Ritmo do Coração” ensina investidores e faz ESG ganhar o Oscar

O filme vencedor do Oscar 2022 teve um orçamento de US$ 10 milhões e dá um show sobre ESG Eu poderia começar este texto falando da estratégia financeira da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) – responsável por produzir anualmente o Oscar – com sua carteira de investimentos em ativos líquidos da ordem de US$ 790 milhões. Ou falar dos retornos financeiros do filme vencedor em 2022, que teve um orçamento de US$ 10 milhões e vendeu seus direitos à Apple TV em um leilão por US$ 25 milhões, somados ainda ao faturamento da bilheteria dos cinemas. O longa-metragem ganhador “No Ritmo do Coração” – ou em inglês “CODA”, do acrônimo Child of Deaf Adults (filho de adultos surdos) – ao retratar a história de Ruby (Emilia Jones), a única da família sem deficiência auditiva, faz um convite à reflexão do que realmente é saber ouvir. Há muitos temas relevantes financeiros tratados na obra áudiovisual, como o dilema central da escolha da carreira da menina, que, entre as difíceis opções que se apresentam, coloca em xeque os valores dos diversos personagens, assim como os nossos próprios valores pessoais. Sian Heder, cineasta, roteirista e mulher, dá um show ESG – sigla do mercado financeiro que significa Espaço (Meio Ambiente), Social e Governança – ao convidar o espectador a colocar-se no lugar dos personagens, a sentir o que cada um está sentindo, a buscar entender a linguagem do outro e a vivenciar a mesma situação de diversas maneiras. Entre as muitas letras lindas das músicas do filme, Ruby, ao cantar a mensagem com sua voz e seus gestos em libras, diz “olhei o amor dos dois lados: de amar e ser amado, e descobri não saber nada sobre o amor” fala sobre o amor, fala sobre relações humanas, fala sobre ESG. Não seria ESG o mesmo que empatia e cuidado? O mesmo que amar e ser amado? A sigla ESG é uma tradução de compromisso com os laços e a ética nas relações sociais, com os direitos humanos, com a longevidade, sustentabilidade, com o cuidado tanto do presente como do futuro de nosso planeta, para garantir nossa existência como humanidade, em um amplo espectro, tanto no curto e como no longo prazo. O filme coloca holofote sobre crises econômicas familiares, sobre o enfrentamento para a subsistência financeira de deficientes físicos, sobre conflitos em escolhas profissionais, sobre modelos de capitalismo exploratório ou colaborativo – ao retratar a proposta de cooperativa de pescadores; mas traz mesmo o olhar de que precisamos ser uma sociedade inclusiva e plural que sabe ouvir, cooperar, cuidar e amar. Ter diversidade traz retorno financeiro? Ter mulheres na liderança traz resultados, mais faturamento e lucro? São perguntas frequentemente feitas, já comprovadas e respondidas positivamente por diversas pesquisas e estudos, mas que intuitivamente podem ser visualizadas. A diversidade reflete a sabedoria de diferentes olhares e aumenta o grau de inovação e de satisfação com clientes. Cuidar do próximo, do planeta, da ética, da justiça, da própria saúde integral, ter respeito e propósito são condições estruturais para resultados financeiros consistentes e duradouros. Por isso, caro leitor, faço aqui um convite a, não só assistir ao filme maravilhoso vencedor do Oscar, como a pensar sua vida financeira e assumir uma atitude frente a suas escolhas no melhor estilo ESG de no “Ritmo do Coração”.

Carreira: como ser feliz e ganhar dinheiro ao mesmo tempo

O medo é um dos motivos mais citados pelos jovens para abdicarem das suas motivações O dilema entre trabalhar em algo que se deseja fazer, ou aceitar o que aparece, é complexo e pode gerar grande ansiedade e estresse. É mencionado, com bastante frequência, em atendimentos psicológicos de orientação profissional e gestão de carreira, como fonte de frustração. Uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada antes da pandemia, mostra que quase metade dos jovens trabalhava fora da sua área de formação. Em outra pesquisa, feita pelo aplicativo Monkey Survey, 64% dos brasileiros entrevistados disseram que gostariam de fazer algo diferente em suas carreiras. Já no início da vida profissional, a depender do contexto familiar, das questões financeiras circunstanciais, do conhecimento sobre o mercado de trabalho e inclusive do seu próprio autoconhecimento, não é raro o jovem renunciar as suas motivações para acomodar, de forma mais rápida e possível, necessidades imediatas. Entre os motivos mais citados para abdicar de suas preferências, estão os medos de não ser capaz de passar no vestibular, de não ser suficientemente bom para determinadas atividades; a necessidade imediata de dinheiro ou a falta dele para bancar uma escolha; a percepção de baixa remuneração ou poucas oportunidades de trabalho em determinados nichos de atuação desejados; não enxergar possibilidade de equilíbrio entre vida profissional e pessoal nas carreiras almejadas. E o comportamento de fuga, que começa no início da carreira perante a escolha do curso de graduação, repete-se sequencialmente nas próximas fases de vida. Se o dinheiro ou a sensação de incapacidade foram as forças motrizes para a primeira escolha imediata e indesejada, a pessoa seguirá mantendo o padrão de infelicidade ao longo das próximas escolhas de carreira, quer seja por aversão à perda do status social e financeiro alcançados ou por não ter adquirido reservas suficientes para uma mudança. Essa sequência iniciada na juventude perpetua-se pela fase adulta até o momento da aposentadoria. Frases como sou “jovem demais”, ou “velho demais”, “não tenho dinheiro, capacidade ou conhecimentos suficientes” e “não há oportunidades disponíveis” viram narrativas para explicar para si e para outros uma trajetória profissional infeliz. Como boa notícia trago aqui algumas reflexões que facilitam mudar esse cenário e sair do caminho da frustração: Se você está se vendo amarrado ao mecanismo de fuga de aspirações por medo; se está preso à cilada das decisões imediatas e de curto prazo; se dinheiro, conhecimento, idade ou mesmo vagas indisponíveis apresentaram-se até agora como barreiras impeditivas para uma vida profissional de realização, cito como inspiração o exemplo de Cora Coralina, renomada poetiza brasileira, que publicou o primeiro livro somente aos 75 anos e deixou a seguinte frase como seu lema de vida: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”.