Apostas on-line: uma tragédia financeira iminente

Tenho visto, com tristeza, o crescimento do problema em meu consultório “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” Se Machado de Assis expressou tamanho sentimento negativo no livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), o que ele diria hoje, sobre a vida, cenário e o legado a deixar aos jovens nos tempos atuais? Pais se preocupam com o desenvolvimento e bem-estar de seus filhos, assim como líderes precisam estar atentos à saúde física e mental de suas equipes. Temas como desempenho acadêmico, produtividade, envolvimento com drogas, álcool, comportamento sexual irresponsável, bullying, assédio e questões envolvendo estresse, ansiedade e burnout demandam atenção de pais e líderes atualmente. Mas há outro grande problema tomando corpo, capturando na surdina nossos jovens adolescentes e jovens adultos de forma silenciosa e voraz: os jogos de apostas online. No mundo A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2016, que apostadores perdem US$ 400 bilhões por ano no mundo. Uma pesquisa Associação Nacional de Administradores para Serviços de Jogo Desordenado feita em 2020 apontou 5,7 milhões de americanos com transtorno de jogo. No Reino Unido, a Comissão de Jogos estimou, em 2021, a prevalência do distúrbio do jogo compulsivo em 1% da população economicamente ativa, o que está mobilizando o governo inglês a promover uma grande reforma das leis de jogos de azar para proteger usuários vulneráveis, entre eles os jovens até 24 anos que, segundo as evidências, correm maior risco de sofrerem danos. O problema cresce na era dos telefones celulares, uma vez que a tecnologia possibilita apostar 24 horas por dia, 7 dias por semana, por meio de “cassinos virtuais móveis”. Embora muitas pessoas façam uso apenas recreativo da atividade, cresce o número de casos de dependência, com relatos de trágicas perdas financeiras e até mesmo suicídio. As taxas de jogo problemático são mais altas em quem frequenta cassino on-line do que para aqueles que jogam em salas de bingo ou cassinos presenciais. No Brasil Desde 1946, cassinos físicos são proibidos no Brasil, mas a lei não se aplica aos cassinos on-line. Se o jogador tiver mais de 18 anos e o cassino online não estiver sediado no país, é permitido o jogo. Dessa forma, cresce no Brasil o número de jovens apostadores, incluindo menores de 18 anos. Tenho visto, com tristeza, o crescimento do problema em meu consultório, tanto em número de clientes quanto em valores apostados. O que no início era indicado pelos jovens clientes como uma atividade de lazer e com percentual baixo de alocação saiu da percepção da categoria de despesa para receita. Isso ocorre mesmo que não haja ganhos líquidos e as perdas sejam crescentes, muitas vezes comprometendo 100% dos recursos mensais e até endividamento entre pares adolescentes. Ainda vejo um deslocamento de outras atividades destinadas a lazer, como cinema, lanchonetes e shows, para uso exclusivo em jogos, com privação de outras formas de diversão e interação social. Tais evidências orçamentárias e comportamentais são fortes indicadores da necessidade de intervenção clínica e acompanhamento psicoterapêutico. Os jogos de aposta preferidos entre os jovens brasileiros são as apostas esportivas on-line, que, diferentemente de outras formas de jogo, são mais viciantes. Dada a cultura brasileira muito ligada ao esporte, e em especial ao futebol, muitas vezes as apostas esportivas fogem do radar de risco dos apostadores e familiares, por serem consideradas mais seguras. Na crença de serem guiados mais por seus próprios conhecimentos e habilidades e menos pela sorte, apostadores esportivos apresentam uma falsa ilusão de controle. Não raro, a própria família é incentivadora quando acredita erroneamente haver similaridade entre competências de performance dos apostadores esportivos com as competências dos investidores em renda variável. Gatilhos emocionais Estudos da psicologia comportamental mostram que a redução no atraso entre risco e recompensa, característicos das apostas de jogos ao vivo, provoca aumento na velocidade e frequência do apostar. Também a alternância entre perder e ganhar, chamada tecnicamente de reforçamento intermitente, estimula o forte estabelecimento do padrão de comportamento e grande dificuldade em extingui-lo. Funcionam como reforçadores, além do dinheiro (que exerce papel importante na satisfação generalizada de necessidades, inclusive em continuar jogando), o incentivo em pertencer a um grupo social que participa ativamente do jogar e, não menos impactante, os atraentes recursos sonoros e visuais que os aplicativos ‘gamificados’ de apostas oferecem. O jogo de azar é um grande problema quando se torna patológico. A quinta revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais , DSM-V, incluiu o diagnóstico do Jogo Patológico na classificação de Transtornos Relacionados a Substâncias e Outros Vícios, pela semelhança comportamental com a dependência química. Quando devo me preocupar? Fique atento se em você ou em uma pessoa conhecida são identificados pelo menos cinco dos padrões comportamentais a seguir. Eles indicariam potencial diagnóstico do jogo patológico e a necessidade de buscar acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico.

As lições inspiradoras dos pais de Michael Jordan no filme ‘Air’

Deloris Jordan, interpretada pela fabulosa Viola Davis, foi fundamental na vida financeira do filho Cada mãe e pai exerce sua parentalidade à sua maneira. Mas, se há diferenças nos perfis deles, entre aquilo que os aproxima estão o amor, a vontade de acertar e de ver seu filho bem-sucedido e feliz! Formas de amar e critérios para o sucesso e a felicidade também podem ser relativos, além de depender do contexto ou do conjunto de crenças de cada indivíduo. De qualquer forma, todo ser humano necessita se sentir seguro física e emocionalmente; se sentir aceito, visto, compreendido, validado e amado para ter saúde integral, que inclui a financeira. Os pais são os primeiros responsáveis pela socialização financeira, por ensinar e transmitir princípios e valores ligados ao dinheiro, que vão além dos conhecimentos técnicos financeiros. O ciclo do dinheiro inclui o ganho através do trabalho como principal e mais importante fonte de renda, além do ato de usá-lo com sabedoria; do doar como exercício de olhar coletivo e de equilíbrio emocional diante das posses; do poupar como prática de cuidado com o futuro e do investir com preservação, otimização e aumento incremental dos ganhos. O filme “Air: A História por Trás do Logo”, em cartaz nos cinemas, conta a história da construção do império em torno do tênis Air Jordan após a contratação do jogador de basquete Michael Jordan pela Nike. A produção mostra com protagonismo especial a participação de seus pais neste caminho, em especial de sua mãe, Deloris Jordan, interpretada pela fabulosa Viola Davis. Como fonte de inspiração para o Dia das Mães, destaco aqui algumas lições dos pais de Jordan. Deloris, depois de criar seus filhos, se tornou autora de livros infantis e do livro “Família em Primeiro Lugar: Vencendo o Jogo dos Pais” que traz sete princípios da paternidade, segundo sua visão. Se você ainda não assistiu ao filme “Air: A História por trás do Logo”, incentivo a fazê-lo. Dele, pode-se extrair lições simples e factíveis ao alcance de qualquer pai e mãe. Pois você não precisa ser um grande revolucionário ou revolucionária de nenhuma indústria para ajudar seu filho a estabelecer uma relação saudável consigo mesmo, com a sociedade e com o dinheiro.

Qual a relação entre renda passiva e ChatGPT? Entenda

Ambos têm característica muito marcante em comum: a tendência da substituição do trabalho humano Multiplicar o dinheiro e viver de rendimentos é o sonho de muita gente. Imaginar o dinheiro trabalhando por você é uma ideia sedutora para muitos investidores. A renda passiva, que é considerada como todo dinheiro recebido não associado diretamente a horas trabalhadas e principalmente obtido por juros de aplicação, tem sido bastante disseminada. O uso da tecnologia do ChatGPT, modelo de linguagem desenvolvido em inteligência artificial que gera respostas e interações avançadas com usuários, também é outro fenômeno recente, muito presente nas discussões das redes sociais e em rodas de conversa. E por que trago esses dois temas juntos em um mesmo artigo? Ambos têm característica muito marcante em comum: a tendência da substituição do trabalho humano. Sendo o ChatGPT concebido para substituir a execução do homem na ponta da produção intelectual e a renda passiva, propagada como substituição do esforço humano nos ganhos e na remuneração, ambas as ferramentas podem trazer simultaneamente grandes benefícios assim como prejuízos muito danosos. A sabedoria popular do “Cuidado com o que deseja, porque pode se tornar realidade” se aplica bem neste contexto paradoxal de otimizar a produtividade e riqueza através da passividade. Tempo, capital e força de trabalho Estão envolvidos no raciocínio de custo versus benefício do uso de tais ferramentas os elementos tempo, energia empenhada e dinheiro. Os três são recursos disponíveis e limitados, que podem ser bem ou mal administrados, que podem gerar impactos positivos ou negativos para si mesmo ou para os outros. A disputa entre o capital financeiro e a força de trabalho é historicamente uma questão central polêmica na economia política e nas relações laborais. Discussões ideológicas existem a respeito de onde estaria o maior resultado em valor, poder e lucro nesta relação polêmica entre remuneração por horas trabalhadas, aporte de capital intelectual ou por capital empregado. Em termos econômicos, é impossível obter renda passiva apenas por ela mesma, se antes não houver uma produção da renda ativa gerada através do dinheiro produzido pelo trabalho. E ainda é impossível também ter bons resultados tanto em renda ativa como passiva se não houver uso do conhecimento, da energia do trabalho, da dedicação e do capital intelectual empregados em tudo isso. Em resumo, não existe concorrência entre esses atributos. Força de trabalho, capital intelectual e capital financeiro precisam andar juntos para gerar riqueza. No entanto, mais importante do que este debate do valor monetário dos recursos é o debate do valor emocional quanto à felicidade, satisfação, realização e propósito que todo nós humanos temos necessidade, e que só são alcançados quando nos sentimos úteis, produtivos e capazes. Esta percepção de valor emocional não consegue ser substituída por rentabilidade na forma de juros nem alcançada no excesso do tempo ocioso. Capital Emocional como grande diferencial futuro Pessoas precisam de motivação para serem felizes, ou seja, precisam de motivo e ação. Ação é justamente o oposto de passividade, assim como motivação é o oposto de depressão e renda ativa é o oposto de renda passiva. Em tempos de ChatGPT, o capital que fará a diferença em felicidade, autorrealização e em inclusive em sucesso financeiro será o capital emocional. Se há algo que máquinas jamais substituirão a eficiência humana será a capacidade de contribuir com propósito, de estabelecer vínculo com o próximo, de dar afeto, de acolher e dar amor. O ativo humano que trará maior diferencial em mundo cada vez mais complexo está relacionado à saúde mental – ao estado de bem-estar no qual o indivíduo conhece seus talentos, aprende a lidar com os estresses cotidianos e trabalha de forma produtiva para contribuir com os outros. Se já houve dúvidas sobre a hierarquia de valor entre os capitais laboral, intelectual e financeiro, certamente o grande diferencial do sucesso, daqui por diante será o capital emocional, da sensibilidade, da empatia, da esperança, da espiritualidade e do propósito. ChatGPT e investimentos são ferramentas que podem nos beneficiar e trazer otimizações. Mas o caminho de sucesso e felicidade está em nossas mãos! Na escolha entre sermos passivos ou ativos perante a renda, perante o uso de nossos talentos, perante o autocuidado em saúde mental, perante os significados de contribuição à sociedade e perante o sentido da própria vida.

Como a fé, razão e o dinheiro se relacionam com a Mega-Sena da Páscoa

Colunista debate se a liberdade financeira realmente deve estar ancorada em apostas na Mega “Senhores e Senhoras, façam suas apostas!” A Mega-Sena da Páscoa pode pagar R$ 47 milhões no sábado, dia 8. A expectativa de um apostador de se tornar um milionário, da noite para a dia, é dotada de imenso significado psicológico. Seria apenas a sorte, o elemento a ser celebrado? Não! Com ela vem bastante dinheiro. Mas por que ganhar muito dinheiro traria tanta alegria? Ora! Com o dinheiro, conquista-se liberdade financeira para ser e fazer o que quiser. “Pois onde estiver seu tesouro, ali estará seu coração” diz a Bíblia. O feriado da Páscoa é celebrado por muitas religiões. Judeus comemoram a libertação da escravidão do Egito de milhares de israelitas, feita pela travessia do Mar Vermelho, passagem aberta milagrosamente por Deus. Cristãos comemoram a libertação da escravidão do pecado, alcançada por meio da morte e ressurreição de Cristo para a vida eterna. Podemos dizer, portanto, que a Mega-Sena e Páscoa são dotadas do mesmo significado subjetivo: alcançar a liberdade. Ambas carregam em si energia, motivações e esperanças de indivíduos. Mas qual seria a diferença principal entre elas? Eventos Controláveis x Eventos Incontroláveis Vou me limitar a analisar os fenômenos apenas dos pontos de vista da psicologia e da educação financeira, uma vez que essa coluna não se propõe a debater aspectos religiosos. A fé, a espiritualidade são comportamentos humanos, vistos como fenômenos psicológicos que dão estrutura às pessoas para lidarem com o imponderável, com a angústia existencial, com o sofrimento, com as adversidades. Ter fé, praticar a espiritualidade, são importantes para se ter saúde mental. Já o comportamento de apostar, de empenhar recursos, contando com o acaso e com a sorte, é enquadrado na psicologia como um comportamento supersticioso, ou seja, quando você faz uma ação esperando um resultado, que não tem relação direta a ação feita. Um exemplo disso seria acreditar que apostando em tais números, em tais datas, com certa frequência, aumentaria as chances de ganhar o prêmio do jogo. Na perspectiva da psicologia, a espiritualidade é um recurso saudável para se lidar com eventos incontroláveis, enquanto apostar é uma tentativa frustrante de se ter controle de algo aleatório. Apenas como ilustração, segundo a CEF (Caixa Econômica Federal), a probabilidade de acertar as seis dezenas com o jogo da Mega-Sena da Páscoa é de uma em 15,89 milhões, em uma aposta simples com seis números marcados. Com uma aposta com sete números marcados, a probabilidade de acerto é de uma em 2,27 milhões.

Saiba como elevar a autoestima e melhorar sua saúde financeira

Embora muitas vezes ignorada, ter uma boa autoestima é fundamental para uma vida financeira saudável É muito comum a associação do conceito de autoestima ao aspecto físico. Mas o assunto vai muito mais além e impacta inclusive na vida financeira. O que significa baixa autoestima e qual sua causa? A autoestima baixa – imagem negativa de si próprio – é resultado das experiências ao longo da história de vida de cada indivíduo e é comumente encontrada em pessoas que sofreram abuso físico, sexual e/ou emocional. Pessoas com pais muito críticos, exigentes, controladores ou que passaram por desamparo na infância e adolescência costumam construir uma percepção de si mesmos com desvalor, com sentimentos de incapacidade, de vergonha, medo, culpa, ansiedade e invalidação. Como identificar a autoestima baixa? São sinais a sensação de ser um impostor, falta de confiança em si, o perfeccionismo, a autossabotagem e a procrastinação. Pessoas com baixa autoestima são mais suscetíveis a desenvolver depressão e crises de ansiedade, podem ter dificuldade de relacionar-se de forma saudável, muitas vezes impõem-se a si mesmo e aos outros uma autocobrança excessiva, têm dificuldade de expressar seus sentimentos, dificuldade de tomar decisões satisfatórias e podem desenvolver comportamentos autodestrutivos como abuso de álcool e drogas, desequilíbrios financeiro e alimentar. Quais impactos da autoestima baixa na vida financeira? A autossabotagem proveniente de uma opinião negativa sobre si pode atingir em cheio a vida financeira em todos os aspectos dela. É muito comum pessoas com baixa autoestima comprarem por impulso e excessivamente, como um mecanismo de fuga e compensação pelo sofrimento e frustração consigo mesmo. Transtornos como o consumismo financeiro, o vício em jogos e apostas financeiras, presentear de forma exagerada para agradar aos outros, o endividamento crônico, a avareza ou economia patológica e os workaholics – viciados em trabalho – são comportamentos característicos de pessoas com autoestima baixa. Como melhorar a autoestima? Tenha um autoconceito positivo reflete diretamente na saúde mental e financeira. Aqui vão 5 atitudes que podem ajudar a aumentar sua autoestima: Carls Rogers (1902-1987), psicólogo humanista norte-americano dizia: “Se há um paradoxo curioso é que, quando me aceito como sou, eu mudo!”. O primeiro passo para a mudança vem da aceitação da situação e de si mesmo. A baixa autoestima e o seu impacto em comportamentos financeiros disfuncionais podem ser cuidados. Adotando estratégias pessoais mais saudáveis e com ajuda profissional, por meio de psicoterapia, é possível alcançar uma vida financeira mais saudável, equilibrada e feliz!

5 lições imperdíveis da série ‘Rainhas da Bolsa’ no Mês da Mulher

A produção baseada em fatos reais conta a história de duas mulheres árabes pioneiras no mercado de ações Março é dedicado, em muitos países, à celebração do Mês da História da Mulher. Em 1977, o dia 8 de março foi oficialmente adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Mulher. Vários eventos influenciaram a criação da data. Entre eles, um incêndio em uma fábrica em Nova York, em março de 1911, tragédia que matou 123 mulheres e apontou para as terríveis condições de trabalho feminino à época. Outro evento importante foi a marcha das mulheres russas por pão e paz, em 8 de março de 1917, pedindo melhores condições de vida. No Brasil, as mulheres tiveram direito ao voto somente em 1932. Até 1962, mulheres casadas só podiam trabalhar fora se o marido permitisse, pois o Código Civil de 1916 previa que mulheres casadas eram consideradas “incapazes”. Essa determinação também impedia mulheres de abrir conta em banco. Somente na Constituição de 1988 ficou estabelecida a igualdade de direitos e deveres entre mulheres e homens. Recentemente foi lançada, na Netflix, a série Rainhas da Bolsa. Baseada em fatos reais, conta a história de duas mulheres árabes pioneiras em trabalhar no hostil e masculino mercado financeiro de ações, nos anos de 1980. Sem a intenção de dar muito “spoiler” – sem revelações do conteúdo antecipado e sem contar o final -, trago aqui neste mês, em homenagem à todas as mulheres, alguns aprendizados que podem inspirar nossas vidas, a partir deste drama passado no Kwait: Se você não assistiu à série, recomendo. Além das excelentes lições observadas, é diversão garantida. Sem falar no inusitado e o mais criativo “circuit breaker” – mecanismo de segurança utilizado pela Bolsa de Valores para paralisar negociações quando o mercado está muito nervoso e com queda superior a 10% – que já pude presenciar. Termino este texto com os mesmos votos que coloquei em minhas redes sociais no Dia Internacional da Mulher, seguindo as palavras da líder inspiradora Jacinda Ardern: que toda mulher possa ser gentil, mas forte; empática, mas incisiva; otimista, mas focada. Que possa ser seu próprio tipo de líder. Que cada mulher não precise mais sentir limitações dadas por preconceitos, que possa usar suas habilidades para uma vida significativa e prazerosa.

Água a R$ 93: qual é o limite ético da lei da oferta e da procura?

Catástrofe provocada pelas chuvas no litoral paulista nos faz refletir sobre o limite na busca por lucro É frequente na educação financeira explicar a jovens e adolescentes o modelo da lei da oferta e da demanda como um mecanismo natural, de livre mercado, na determinação de preços. O que fica muito difícil explicar é uma garrafinha de água custar R$ 93 em meio a uma das maiores tragédias provocadas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo, quando pessoas morreram soterradas e outras passam sede e fome ou adoeceram e ficaram desabrigadas. A lei da oferta e da procura não é prescrita por autoridade, muito menos um ato normativo de processo legislativo. Funciona do mesmo modo que a lei da gravidade, como um fenômeno que espontaneamente ocorre na natureza econômica. O entendimento é simples: se tem mais gente querendo comprar e menos produto ofertado, os preços sobem. Ao contrário, se há mais produtos oferecidos à venda e menos interesse de compra, então os preços caem. O raciocínio vale para explicar o fenômeno da inflação, a paridade das moedas, o preço dos ativos financeiros e o mecanismo de leilões de mercadorias. Apesar de natural e saudável regulação do livre mercado, a lei da oferta e da procura causa ruído moral quando nos esbarramos em seu efeito diante de uma tragédia humana, simbolicamente personificada nos R$ 93 cobrados por uma garrafa de água. Apesar de haver menos garrafas e mais pessoas precisando, qual é o limite ético de seu uso? Neste caso a disputa entre oferta e procura esbarra filosoficamente na mesma disputa entre o “eu” (ego) e “o outro” (alter), entre egoísmo e altruísmo. Deveria o livre mercado, assim como o livre arbítrio humano, ter em si uma autorregulagem do olhar pelo próximo, da empatia, do coletivo, do olhar humanizado? Quando se oferece uma garrafa de R$ 93 ou empréstimo a taxas de juros iguais ou superiores a 10% ao mês a uma população vulnerável em recursos financeiros e em conhecimento, em situação de carência social, sanitária, de saúde e/ou de educação, o ser humano mostra sua faceta mais cruel da falta de cuidado com a própria espécie. Não estamos falando aqui sobre sistemas políticos e organizacionais, sobre mais ou menos intervenção do Estado ou sobre a disputa entre modelos econômicos capitalistas ou socialistas. O ponto, sim, é a própria consciência individual e, quiçá, a preocupação na transmissão cultural dentro das famílias, das comunidades em que vivemos, das empresas em que trabalhamos, do país a que pertencemos sob o olhar espontâneo da lei, também natural, do amar ao próximo como a si mesmo. Por isso, incentivo tanto, como educadora financeira e psicóloga, a prática da doação dentro da organização das finanças pessoais e do orçamento mensal. Está provado cientificamente que pessoas que praticam a doação regularmente, tanto de tempo quanto de dinheiro, aumentam sua capacidade e equilíbrio emocional para lidar com suas próprias finanças e se tornam poupadores e investidores mais sábios porque, ao cuidar do outro hoje, conseguem cuidar melhor do seu “eu do futuro”. Há um grande segredo de sucesso e felicidade quando se consegue perceber e exercitar atitudes que podem parecer paradoxais como essas abaixo:

Demissão humanizada é desafio para líderes e organizações

Humanizar processos de demissão nas grandes empresas pode ajudar a tornar o processo menos traumático Entre os motivos mais citados para demissões estão: resistência à mudança, conflitos, problemas de comunicação, absenteísmo, falta de engajamento ou de atingimento de resultados. Qualquer que seja a razão que motive a demissão, líderes precisam saber que o problema pode não estar somente no funcionário, pois comportamentos negativos podem ser disparados por questões culturais da empresa ou da equipe, pela postura da liderança, por falta de clareza na estratégia, nas metas ou nas avaliações, por falta de estímulos positivos, que muitas vezes, poderiam ser resolvidos com elogios ou reconhecimento. Infelizmente, nos últimos meses e semanas, demissões em massa têm acontecido no mercado financeiro brasileiro, como no caso do C6 Bank, da XP Inc., das empresas de influenciadores financeiros como Me Poupe! e Grupo Primo, que levaram a debates polêmicos nas redes sociais. Entre as explicações dadas para demissões coletivas estão: reestruturações, mudança de estratégia, crises financeiras, redução de custos, problemas tecnológicos e fusões de empresas. Em outros setores e países, como no caso das empresas de tecnologia, a onda de demissões em massa também tem causado comoção. “Trauma e choro” é a descrição do processo de quem viveu ou acompanhou algumas dessas situações. Se a demissão for feita de forma traumática, pode causar feridas emocionais e marcas profundas na vida de quem foi demitido, com impacto direto na autoestima, na qualidade de vida, na produtividade, nos relacionamentos e na saúde emocional da pessoa. Mas os prejuízos acompanham quem demite também. Companhias que decidem pela demissão em massa perdem valor no preço de ações na Bolsa; e, independentemente da quantidade de pessoas demitidas, dispensas mal geridas, geram impactos negativos de curto e longo prazo nas empresas como um todo, pois provocam insegurança, medo, falta de confiança na gestão, perda de atratividade de novos talentos, queda na produtividade e prejuízos na imagem da marca. É preciso saber demitir! Assim como é necessário cuidar de quem fica também é importante ter atenção e cuidado com quem deixa a empresa. É necessário humanizar as demissões. Apresento aqui algumas boas atitudes características de demissões humanizadas: 1. Mesmo que a demissão seja coletiva, ter a compreensão de que cada pessoa é única: isso envolve colocar-se no lugar do outro com empatia, entender e respeitar sentimentos despertados pela situação; 2. Oferecer acolhimento: mesmo sendo uma situação difícil também para quem demite, mesmo tendo os motivos para fazê-la, o simples fato de reconhecer sua própria vulnerabilidade e o sofrimento do próximo já são formas de acolhimento; 3. Evitar demitir por telefone, mensagem gravada ou vídeo conferência e, de forma alguma, expor publicamente o funcionário: esta é uma das situações que nem a tecnologia, nem o modelo remoto substituem o presencial. Parece algo bastante óbvio, mas há vários relatos recentes de demissões por WhatsApp. Além disso, o ato de demitir é algo privado, uma conversa que não deve ser feita publicamente; 4. Estabelecer uma rotina de diálogo contínuo com transparência: compartilhar dificuldades e/ou mudanças na estratégia da empresa no dia a dia, fazer avaliações efetivas e construtivas com periodicidade e envolver colaboradores nas decisões aumentam a confiança, a credibilidade e compreensão do funcionário sobre qualquer decisão a ser tomada, mesmo que esta seja seu próprio desligamento; 5. Elogiar, de forma genuína, as qualidades da pessoa demitida: sim, é possível elogiar, mesmo que a demissão seja por performance. Todos os indivíduos possuem qualidades e, com certeza, uma parte positiva e grande esforço foram depositados pelo funcionário ao longo de seu trabalho. É injusto não reconhecer isso. Se você é líder e, ao demitir, não consegue enxergar o que de bom foi trazido pelo funcionário, isso diz mais sobre seu olhar crítico do que sobre a pessoa demitida. Veja que nenhuma dessas atitudes dizem respeito a dinheiro ou acordo sindical. Vale também lembrar que um colaborador ou ex-funcionário também pode ser um cliente, um investidor e um formador de opinião sobre a marca da empresa. Assim como contratar, demitir faz parte dos processos ligados à gestão de pessoas. No entanto, definitivamente, a competência de demitir de forma humanizada também precisa ser foco do desenvolvimento da liderança de toda empresa comprometida com sua longevidade e com o seu impacto positivo na sociedade. De toda empresa empenhada em fidelizar clientes, em reter pessoas, na gestão positiva e sustentável de sua marca. Para atrair investidores de longo prazo, é preciso que uma empresa esteja comprometida com os pilares ESG. Demitir de forma humanizada é parte importante da boa governança e da boa gestão social.

7 dicas para vencer a procrastinação em 2023 e evitar prejuízos

Existe uma diferença fundamental entre fazer uma promessa e assumir um compromisso Ano novo, vida nova. O famoso clichê carrega a expectativa de mudança, da oportunidade de colocar a vida em ordem e adquirir hábitos mais saudáveis. Declaramos em voz alta, fazemos promessas a nós mesmos: “ano que vem, segunda-feira, ou depois do Carnaval, vou começar aquele projeto ou objetivo importante”. Mas a verdade é que existe uma diferença fundamental e transformadora entre fazer uma promessa e assumir um compromisso. A primeira, a promessa, já inclui o ato da procrastinação nela mesma. É um ato futuro, que provavelmente nunca será realizado quando chegar a data. Será sempre lançado para a frente. O compromisso, por outro lado, é justamente o contrário. É a antecipação do ato. É planejar com tamanho desmembramento em passos de ação, que não restará outra alternativa, se não realizá-lo. Exemplos de promessas: “ano que vem terei minhas contas em ordem, não farei dívidas e terei meus estudos em dia na faculdade. Inclusive, farei um regime”. Obviamente, quando o ano começar (e já começou!), provavelmente nada disso irá ocorrer. Por outro lado, bons exemplos de compromisso seriam: “como no ano que vem quero ter as contas em ordem, já montei meu orçamento. Percebi que preciso reduzir minhas despesas de moradia. Então, estou procurando um lugar mais barato para morar. Como quero fazer diferente e ter meus estudos em dia, já me inscrevi em um curso de gestão do tempo, para melhorar minha organização. Também iniciei um processo psicoterapêutico para desenvolver novos hábitos, melhorar minha rotina e aumentar meu patamar de autoconhecimento”. Frases populares – como “estou mais quebrado que promessa de bêbado” ou “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje” – de forma simples, apontam causas, consequências e conselhos para não procrastinar. A procrastinação, como atraso intencional e frequente, embute um comportamento estabelecido de prometer-se a si mesmo, sem nenhum compromisso ou passo concreto na direção da realização. É acompanhada de frases e pensamentos como: “daqui a pouco eu faço”, “agora não consigo”, “estourando vou chegar em tanto tempo”, “no limite, posso parcelar”, e causa sentimentos de ansiedade, culpa e frustração como resultado do objetivo não atingido. A origem dessa conduta está na luta interna entre escolhas imediatistas de curto prazo e o autocontrole por escolhas melhores de resultados no longo prazo. Seres humanos editam mentalmente o valor da recompensa quando há atraso. Por isso, realizações de longo prazo não são tão atraentes quanto satisfações imediatas. Se você quer ter a vida financeira mais organizada, ser mais efetivo em seu trabalho e/ou estudos, aqui vão sete passos que podem facilitar sua vida: 1 – Investigue a causa Crenças estabelecidas, medo, insegurança, ansiedade, perfeccionismo, baixa autoestima, desorganização mental e tendência à impulsividade levam a adiar tarefas, perder prazos, estar sempre devedor e no sufoco, o que retroalimenta e intensifica o ciclo psicológico da frustração e da sensação de incapacidade. Transtornos mentais, pessoas deprimidas ou com TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) podem apresentar a procrastinação como sintoma. 2 – Valorize iniciativas pequenas e faça agora Fazer algo muito simples para começar a meta é milagroso para sair da inércia e já é um passo importante para transformar uma promessa em compromisso. Pode ser apenas um primeiro telefonema, uma busca na internet ou só fazer uma lista das atividades necessárias para se organizar. 3 – Faça contagem regressiva de 5 para 1 Diante de uma tarefa difícil, conte de 5 para 1. Se você ainda não organizou suas finanças e está com preguiça de fazê-lo, comece a contar: 5) Vou abrir a planilha no meu computador 4) vou abrir o extrato do banco e separar as últimas faturas 3) levante-se, 2) respire, 1) comece a lançar dados. Você pode fazer uso de mapas mentais ou listas, para estabelecer prioridades e a sequência de passos. 4 – Separe um horário fixo e calmo na semana para seu objetivo importante Você pode aplicar a técnica Pomodoro (método de gerenciar o tempo), dedicando-se 25 minutos com foco em uma atividade e, em seguida, fazer pausas curtas para descansar. 5 – Elimine distrações A presença do celular é um grande “distrator”. Se for possível, coloque-o em modo avião antes de iniciar a atividade. Gerencie seu tempo, suas emoções e sua concentração. O mindfulness (prática de respiração e meditação) é muito eficaz para aumentar o nível de atenção no presente e esvaziar a mente de sentimentos e pensamentos que estejam tirando o foco. 6 – Conte com ajuda para bancar o compromisso com sua meta Como o entusiasmo com o objetivo acontece muito antes do momento da implementação, encontre uma trava para garantir o compromisso. Bloqueie a agenda ou peça para alguém próximo fazer o acompanhamento e conferir se você está fazendo mesmo o que decidiu. 7 – Celebre pequenas vitórias com recompensas significativas Assim estará ajudando seu cérebro a registrar sua mudança positiva de comportamento. “Feito é melhor que perfeito”, o “ótimo é inimigo do bom” ou “missão dada é missão cumprida” são exemplos de crenças fortalecedoras que podem ajudar seu novo repertório comportamental. Reconhecer o hábito procrastinador já é um grande passo para a mudança. Não importa em que dia da semana ou em que momento do calendário você está! O hoje e o agora são sempre a melhor hora para recomeçar de forma diferente, com muitas realizações pessoais, profissionais e financeiras.

O escândalo das Americanas (AMER3): que lições aprender?

O importante é perceber que o rombo na varejista não é o primeiro e nem será o último caso do tipo “É muito mais fácil corromper do que persuadir”, disse Sócrates. Se o filósofo vivesse nos tempos de hoje, talvez dissesse que é mais fácil corromper do que gerir. Na semana passada, investidores foram surpreendidos com o escândalo do rombo da Americanas S.A. Aquela que já foi a queridinha dos brasileiros, com suas lojas vermelhas, vendendo todo tipo de utilidade e inutilidade para qualquer gosto e freguês, decepcionou o mercado após divulgar inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões. Um dia depois da revelação, as ações tiveram uma queda histórica de 77%. Se todo problema traz consigo oportunidades, que lições podemos aprender com o caso Americanas? Trago aqui 5 importantes reflexões que podem servir para próximas decisões de investimentos: 1 – Não foi o primeiro rombo e não será o último O importante é perceber que o rombo na Americanas S.A. não é o primeiro e nem será o último caso do tipo. Para refrescar a memória, cito três: em 2015 a Toshiba demitiu o CEO Hisao Tanaka por inflar o lucro da companhia em US$ 1,2 bilhão por 7 anos, a falência do Lehman Brothers foi o clímax da crise financeira de 2008, escondendo empréstimos da ordem de US$ 50 bilhões, e o escândalo da Enron, em 2001, resultou em perdas de US$ 74 bilhões aos investidores. 2 – Escutar o vizinho não funciona Sabe aquela dica de ouro que seu vizinho ou seu melhor amigo contou como um grande investimento? Não funciona! É muito comum o comportamento de manada no mercado financeiro, aquele em que a pessoa quer seguir o que “todo mundo” está fazendo, como se fosse algo muito bom. Mas já está comprovado que a decisão financeira tomada por este viés provoca grandes perdas. 3 – Invista em empresas que conhece Uma boa recomendação dada por grandes gestoras de investimentos é montar a carteira com ações de empresas nas quais você conhece bem. Aquelas das quais você é consumidor, tem familiaridade e interesse por seu mercado. Quanto mais próxima a empresa for da sua realidade, mais fácil será acompanha-la e ter interesse por se aprofundar na leitura das informações divulgadas e aumentar o nível de percepção sobre possíveis movimentações em sua estratégia. 4 – Aprenda a ler um balanço Saber ler um balanço, um demonstrativo de resultados e um fluxo de caixa deveriam ser pré-requisitos para ser um investidor de ações. Mesmo que você seja um apreciador da análise por gráficos (análise grafista), é preciso entender e conhecer os fundamentos básicos da empresa a investir (análise fundamentalista). E isso é expresso nos relatórios contábeis que trazem muitas informações, ou pelo menos pistas de que algo está bom ou ruim. Fico admirada quando alguns pais contam com orgulho que seus filhos fizeram investimentos brilhantes na bolsa. Fico com a seguinte pergunta: será que este adolescente sabe ler um balanço? 5 – ESG é agora. Não é algo para o futuro O G de governança grita mais uma vez. Mesmo que uma possível fraude demore a ser descoberta, o prejuízo chega. Aquilo que foi negligenciado e deixado para o futuro, para obter vantagens imediatas, se torna presente um dia. Se há um grande aprendizado com o caso Americanas S.A. é que seguir os pilares ESG é para agora! Como confiar investimentos em empresas que não seguem as práticas ESG? Como comprar produtos de companhias que não respeitam o meio ambiente, as pessoas, a diversidade, não tem liderança, cultura e processos éticos e corretos de controle e gestão? Se você não tem disponibilidade ou conhecimento para acompanhar a gestão das empresas, uma forma de proteger seus investimentos em renda variável é escolher investir em fundos ou índices ESG. Se nada na vida é por acaso, e se a cada situação difícil ou ruim podemos ter aprendizados, o rombo das Americanas S.A. é mais uma oportunidade de mudança na forma de investir, de gerir de trabalhar e de agir perante a vida.