Setembro traz sinal amarelo sobre day trade e as emoções do investidor

Problemas financeiros e o suicídio são dois temas graves e que muitas vezes andam juntos Setembro Amarelo, mês da prevenção do suicídio e promoção da vida, é um momento significativo para falar com você, investidor, sobre dois temas graves que muitas vezes andam juntos e são tratados como tabus: problemas financeiros e o suicídio. Enredos que compõem o imaginário elaborado através dos filmes infelizmente também fizeram parte da realidade no período da Grande Depressão, por exemplo, quando aconteceu a quebra da Bolsa de 1929, em Nova York. Na época, várias tentativas de suicídio, vistas em lugares públicos, foram relatadas pela mídia. No Brasil também houve registros de suicídio ligados às crises financeiras, desde a quebra da república do café, passando pelo confisco da poupança do plano Collor e, agora, os mais recentes relatos sobre day traders, tanto no Brasil como no exterior. Foi o caso do jovem do Rio Grande do Norte que deixou mensagem à família dizendo que sua intenção nunca havia sido aceitar um risco daquele tamanho. Ou o acontecido nos Estados Unidos, com dois jovens que tiraram a própria vida mediante perdas financeiras ao investir no Robinhood. Se por um lado pessoas são vistas cometendo atos contra a própria vida por gatilhos financeiros, por outro lado o mundo acompanhou, com grande comoção, milhares de afegãos lutando por suas próprias vidas, pendurados em asas de avião, deixando qualquer posse ou propriedade para traz, para, na melhor das hipóteses, salvarem a própria pele e começarem do zero. Por que alguns seres humanos tiraram a própria vida por assuntos ligados ao dinheiro e outros lutam pela própria vida com todas as forças, perante grande ameaça e sem se importarem em perder tudo? O que faz a diferença entre esses dois comportamentos humanos perante a vida? Pessoas que tentam o suicídio, na verdade, não desejam morrer, desejam livrar-se de toda dor e sofrimento que estão passando. São acometidos de um intenso sofrimento existencial. No caso dos suicídios atrelados às perdas financeiras, a pessoa não enxerga mais saída mediante à vergonha e aos problemas gerados pelas perdas que sofreu. Por isso é preciso estar atento aos sinais de quem passa por isso, para que encontrem lugar de fala e espaço de acolhimento necessários como ajuda para ressignificar o momento. Sob outra perspectiva, como no relato de Viktor Frankl, médico psiquiatra, autor do livro “Em busca de Sentido”, que viveu em campo de concentração, pessoas que vivem a guerra ou fortes ameaças contra a vida, lutam por sua sobrevivência, mobilizadas por um forte sentido existencial, espiritual, movidas pela liberdade interior e o sentido do amor. Por isso, investidor, muito além de seus objetivos de rentabilidade, de avaliação de riscos e liquidez, é preciso ter em mente o quanto de energia emocional está sendo depositada nessa empreitada. Descobrir qual o simbolismo que o dinheiro representa em sua vida, avaliar o quanto ganhar ou perder nos investimentos passa a ser um objetivo em si mesmo. Há mais riscos envolvidos ao investir em ativos de alta volatilidade do que aqueles mensurados pelos “ratings”, como por exemplo, os riscos da montanha russa emocional, da queda na produtividade do trabalho, do isolamento social por vergonha ou obsessão, das perdas do sentido de propósito, da saúde mental e até mesmo do sentido existencial. Diversificar, não é apenas uma recomendação que serve para a segurança financeira, mas também para a saúde de forma integral, para que seu foco possa ser distribuído em diversas fontes de felicidade, além das recompensas financeiras, como a convivência em família e entre amigos, o prazer em ser produtivo na sociedade, o lazer, as práticas da espiritualidade e do autocuidado.

ESG é a blindagem mais eficaz contra o desemprego

Diante da desinstitucionalização do trabalho, a necessidade de governança deixa de ser apenas corporativa Cada vez mais, o tema ESG – sigla em inglês para a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança – ganha relevância para o investidor na escolha de sua carteira. ESG então deve ser assunto exclusivo do mercado financeiro ou da agenda das empresas? Errado. ESG diz respeito a você, ao conceito mais amplo de sustentabilidade na sua vida e ao modelo do futuro do trabalho, que já chegou. O emprego vem gradativamente desaparecendo. Já não há mais certeza sobre a duração de certas profissões, previsibilidade de carreira, nem caminho seguro de desenvolvimento profissional. A taxa de desemprego vem batendo recordes entre jovens no Brasil, segundo dados do IBGE, e relatórios sucessivos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam a mesma tendência no mundo. Do ponto de vista da saúde mental, o desemprego é um grande catalizador de doenças psíquicas. Além disso, o contato físico e os limites de horário e espaço que antes conferiam concretude psicológica estão sendo substituídos por contratos flexíveis, por trabalhos remotos sem fronteiras, que apesar de darem mais autonomia aumentam o grau de incertezas. O emprego, por opção ou não, está sendo substituído pelo empreendedorismo, no qual o profissional precisa reinventar suas atividades e a si mesmo. Garantias dos direitos trabalhistas migram agora para a gestão pessoal. Inclusive a aposentadoria, cada vez mais, precisa ser autogerida. Por que a postura ESG passa a ser uma atitude necessária frente ao mundo em transformação? Em face da desinstitucionalização do trabalho, a necessidade de processos de governança (G do ESG) deixa de ser apenas corporativa. Num mundo no qual terceiros não cuidam mais de sua carreira, uma governança própria exige de cada indivíduo crescimento psicológico. A tão falada inteligência emocional nada mais é que uma conquista da flexibilidade psicológica, uma capacidade de governar a si próprio através do autoconhecimento, da aceitação e do autocontrole. O olhar S (Social) passa a ser mandatório nesse cenário. Como ter ideias, empreender, inventar a própria carreira sem empatia, sem entender as diferenças e a diversidade de um mundo não binário? O movimento de autonomia e autogestão produz o risco do exagero do individualismo que leva a polarização. A única saída para a não ruptura é aumentar a cooperação. Entre as habilidades em alta para o profissional do futuro, levantadas pelo Fórum Econômico Mundial, está a orientação para servir o cliente, que, no sentido mais amplo e eficaz, seria compreender o próximo e servir à sociedade. Do ponto de vista financeiro, a postura S (Social) é imprescindível para a felicidade coletiva, uma vez que a desigualdade é geradora de grandes conflitos, quer seja por revolta de quem sofre, ou por culpa de quem leva vantagem. E finalmente há o olhar para o meio ambiente (E), definido não somente pelos cuidados com a natureza, mas também por fatores econômicos, sociais e culturais sobre a qualidade de vida do homem, incluindo as relações humanas, formas de interagir com o meio, de se comunicar, de oferecer respeito e acolhimento. No mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, o risco não está no desaparecimento dos empregos, mas sim na própria inabilidade de lidar com as questões emocionais da fragilidade, da ansiedade, da não-linearidade e da incompreensão que esse cenário favorece.