5 dicas para evitar o “sincericídio” na carreira e nos investimentos
Há uma nova tendência viralizando, chamada de “recados sincerões” no ambiente de trabalho Uma frase postada recentemente nas redes sociais exemplifica o poder avassalador do sincericído sobre carreiras e empresas. “Você vai ter que me engolir, pois as reuniões de pauta vão ser comiguinho agora. Vai falar mais m*rda não more”, teria dito uma jornalista sobre seu novo chefe, em seu primeiro dia de trabalho. Esse discurso de sinceridade tóxica, fez a profissional ser desligada da emissora em menos de 24 horas. Em novembro de 2020, o fundador do Alibaba teve que suspender o maior IPO (abreviatura de oferta pública inicial em inglês, referente a abertura de capital de uma empresa, isto é, sua estreia no mercado de ações) da história por cometer um sincericidio, lançando duras críticas contra o governo chinês, em uma reunião de cúpula da liderança política e financeira do país. Por outro lado, nos últimos meses, há uma nova tendência muito divertida viralizando nas redes sociais, chamada de “recados sincerões” no ambiente de trabalho, que pode ser muito positiva e produtiva. Pessoas de diferentes áreas fixam frases sinceronas nas costas de suas cadeiras nos escritórios, revelando de forma bem-humorada seus sentimentos, pensamentos, seu estado de espírito do momento. Por meio de dizeres impressos colados, mandam recado aos colegas sobre suas necessidades, com objetivo de manter o foco nas atividades durante o expediente de trabalho. São espécie de “emojis”, ou frases similares às figurinhas do WhatsApp, vistas em ambientes presenciais. Frases como “Ocupada até 2024, eu sei que é urgente, mas tudo é”, “Por favor, não converse comigo. Só se for fofoca boa”, “Orem por mim que hoje ‘tô’ só por um milagre” ou “Não me chame para um café (pois eu irei)” estabelecem, de forma bem-humorada e sincera, uma empatia entre os colegas, a respeito de necessidades ou estado de humor da pessoa. Existe limite para a sinceridade? Cada vez mais, a manutenção de relações positivas e de confiança entre os colaboradores no local de trabalho torna-se essencial como meio para alcançar bons resultados. Além disso, é crucial que as empresas compartilhem seus dados financeiros de maneira transparente, clara e acessível, para estabelecer confiança com investidores e o público. Governos, do mesmo modo, devem adotar políticas de transparência sobre suas ações, fornecendo informações e prestando contas da sua administração perante a sociedade, para gerar credibilidade sobre sua gestão e sobre o país gerido. No entanto, a mesma intenção de sinceridade pode gerar confiança ou soar como uma ofensiva para o interlocutor. Ser sincero significa honestidade e franqueza ao expressar pensamentos, sentimentos e opiniões, ser verdadeiro e direto, sem enganar ou ocultar intenções. Já o sincericídio é carregado de uma verdade relativa, na qual alguém fala sem ponderar, ignorando os sentimentos e desejos dos outros. O grande diferencial entre a sinceridade e o sincericídio, então, está em saber separar fatos de percepções próprias. Está na habilidade de se comunicar de forma clara, direta e respeitosa, sem ser agressivo ou passivo. Em saber defender seus direitos e interesses, levando também em consideração os direitos dos outros. Como evitar o sincericídio? Portanto aqui vão 5 dicas para evitar o sincericídio e agir de forma transparente e assertiva na vida e no trabalho: 1. Verifique se sua “verdade” está servindo para diminuir, ferir ou desmotivar alguém. Se isso acontecer, será uma sinceridade tóxica;2. Avalie a “verdade” a ser dita com neutralidade. Tente olhá-la por diversos ângulos ou busque distintas visões sobre o mesmo assunto, antes de emitir opinião sobre um tema sensível;3. Procure diferenciar uma opinião que diz respeito a alguém daquela que diz mais sobre você mesmo. Algumas opiniões podem distorcer a realidade por influência da própria história de vida e crenças pessoais;4. Percepções são permeadas pelo estado emocional. Espere o assunto “esfriar” um pouco para ver se suas ideias mudam ou diminuem a intensidade na urgência ou importância para serem expressas;5. Escolha o momento e a forma certa para falar algo. É importante ter uma boa leitura do ambiente e do interlocutor para não ser mal interpretado ou transmitir mensagens erradas ou com ruído. Lembrando que impressões e acontecimentos da vida podem ser ressignificados de modo a gerar novas e positivas narrativas pessoais. Muitas vezes é fundamental silenciar-se, para ouvir os outros e explorar as inúmeras facetas de uma mesma realidade. O primeiro passo é ser sincero consigo mesmo. Conseguir ouvir a si próprio em ambiente seguro e privativo que favoreça a reflexão. Para isso, vale a pena buscar um processo psicoterapêutico de autoconhecimento, de forma a desenvolver uma comunicação mais assertiva consigo mesmo e com os outros ao redor.
Você possui inteligência emocional financeira? Faça o teste e descubra
Uma forma divertida de colocar o tema em discussão vem de uma tendência viral do TikTok A expressão “inteligência emocional” ficou popular por meio do psicólogo e jornalista norte-americano Daniel Goleman, que lançou um livro de mesmo nome em 1995. Desde então, o conceito se tornou amplamente usado no mundo dos negócios. Uma forma divertida de colocar em discussão a inteligência emocional na vida financeira tem sido espalhada, nas últimas semanas, em tendência viral do TikTok chamada ‘Girl Math’. Vários vídeos engraçados mostram a matemática de contas mentais contraditórias usada para justificar gastos excessivos. Uma garota, por exemplo, explica a compra de um vestido caríssimo, acima de seu orçamento, como vantagem de ‘custo-benefício’ ao alegar que usará a mesma peça em quatro festas seguidas. Com isso, ela terá retorno sobre o investimento na roupa. O teste Para cada pergunta, escolha a alternativa que melhor descreve sua reação ou comportamento na situação: 1. Quando você enfrenta uma decepção, como costuma reagir? a. Fica facilmente frustrado (a) e busca formas de compensar o que está sentindo com algo prazeroso, como comprar ou apostar; b. Busca soluções para se acalmar antes de agir. Procura desenvolver autoconhecimento para lidar com as emoções sem precisar de compensações. 2. Ao perceber uma situação de instabilidade financeira na economia ou em sua vida, você: a. Fecha totalmente a “torneira dos gastos” e mobiliza toda a família a fazer o mesmo, para guardar tudo o que puder; b. Entende que a vida é feita de “altos e baixos” e que por isso deve seguir regularmente um orçamento que permita organizar mensalmente seus gastos e investir. Adapta com flexibilidade e equilíbrio o estilo de vida às diversas circunstâncias, para ter sempre uma reserva de emergência e poder enfrentar com tranquilidade cenários difíceis. 3. Se você está em um site de compras ou no shopping e vê o “produto dos seus sonhos” que tem um preço bem acima da sua realidade financeira, você: a. Compra, mesmo sem ter o dinheiro, utilizando-se de contas e argumentos mentais, para justificar a si mesmo(a) as vantagens da decisão, com pensamentos do tipo: “eu mereço”, “é só parcelar”, “está em oferta”; b. Coloca o item na sua lista de desejos, analisa prioridades e estabelece uma meta de economia mensal para comprar o produto. Espera até conseguir ter o valor integral para comprar, sem comprometer o orçamento. 4. Como você lida com conselhos financeiros? a. Se vê satisfeito(a) com a opinião de alguém que falou aquilo que você já queria fazer; b. Busca diversidade de opiniões e conhecimentos em fontes seguras e confiáveis. Aceita críticas construtivas e toma decisões financeiras importantes mediante análises técnicas e com gestão de riscos. 5. Quando estimulado(a) a praticar a doação em dinheiro, de forma regular, o que você faz? a. Desconsidera o assunto. Afinal, o dinheiro que tem mal dá para cuidar de si mesmo(a) e você já faz doação de roupas e itens que não servem mais; b. Doa, com alegria, um percentual de sua receita mensal, por entender que seus ganhos podem contribuir ajudando outros também. Percebe que, se for bem organizado(a) financeiramente, é possível praticar a doação sem comprometer a própria saúde financeira. 6. Perante a forma de ganhar dinheiro, você: a. Está de olho em todas as oportunidades para enriquecer e fica atrás de dicas arrojadas de investimentos que tragam altos retornos em prazos mais curtos. Afinal de contas, “quem não arrisca não petisca”; b. Entende que o principal capital é consequência do trabalho bem-feito, com qualidade e propósito. Perante os investimentos, mantém uma coerência de estratégia de carteira, no longo prazo, para ganhos de capital incrementais. 7. Quando você comete um erro financeiro importante, como costuma se tratar? a. Fica extremamente autocrítico(a) e se culpa muito. b. Aceita a responsabilidade, aprende com o erro e tenta não repeti-lo nas próximas decisões. Busca ajuda se necessário, para desenvolver novos repertórios comportamentais e evitar escolhas futuras erradas. Se a maioria de suas respostas estão ligadas à primeira alternativa de cada pergunta, pode indicar que você tem feito escolhas menos saudáveis em sua vida financeira. A segunda alternativa de cada teste estaria conectada a respostas mais saudáveis, indicando habilidades de inteligência emocional mais maduras e autocontroladas nas finanças pessoais. É claro que esse teste é apenas uma introdução e não substitui uma avaliação completa de um profissional de psicologia. E, por falar em testes psicológicos, aproveito para cumprimentar meus colegas de profissão pelo dia 27 de agosto, quando é celebrado o Dia do Psicólogo. Feliz dia a todos os profissionais da área, que se dedicam com amor a ouvir, acolher, orientar, apoiar e analisar sentimentos, pensamentos e comportamentos humanos.
5 dicas para fazer a gestão da restituição do Imposto de Renda
Apesar de a crença popular afirmar que “Dinheiro não tem carimbo”, a economia comportamental mostra outra realidade Os psicólogos Daniel Kahneman (Prêmio Nobel de Economia) em parceria com Amos Tversky, em 1979, desenvolveram uma teoria, baseada em pesquisas científicas, que demonstra que a dor da perda é duas vezes maior que a satisfação em ganhar. Ou seja: a percepção do cérebro sobre um mesmo valor financeiro é diferente, caso o carimbo mental atribuído a ele represente perda ou ganho. A proposta deste artigo é dar dicas sobre como fazer um bom uso da restituição do Imposto de Renda. Então aqui vai uma primeira e importante reflexão: como você enxerga o valor da restituição, como um dinheiro extra ou considera que já era seu e voltou? Dependendo da sua classificação mental e do carimbo que você mesmo atribui ao dinheiro, poderá ter mais ou menos probabilidade psicológica de cuidar desse recurso importante. Se o valor for percebido como uma entrada extra, e não como uma devolução do que já era seu, você terá duas vezes menos chance de cuidar bem do dinheiro que será depositado na sua conta. Dito isso, vamos a algumas dicas para uma boa administração desse recurso sazonal: 1. Atribua o significado correto ao valor recebido: essa recomendação está relacionada à reflexão inicial. Restituição, por definição do dicionário, significa devolução de algo a quem realmente pertence. Então esse dinheiro já era seu, não é extra e, portanto, merece ser bem gerido. 2. Priorize destinar o valor para formação da reserva de emergência: ter uma proteção, um “colchão” para emergências, representa empoderamento, autonomia de decisão, proteção contra crises financeiras e contribui com a saúde mental porque ajuda a reduzir ansiedade e medo dos imprevistos. Dependendo do seu perfil e do tipo de atividade laboral, o número ideal recomendado para totalizar uma reserva de emergência varia de 4 meses a 1 ano equivalentes aos seus gastos. Use a restituição para completar esse valor. 3. Se tiver dívidas, é um bom momento para quitá-las: o dinheiro mais caro que existe certamente são os juros das dívidas. Então, se você recebeu um recurso não recorrente como é o caso da restituição, este é um bom momento para renegociar e saldar dívidas com ele. 4. Pense na sua aposentadoria: embora seja a reserva mais negligenciada, ela é uma das mais importantes. Lembre-se que o dia de se aposentar chegará e ter recursos para sua longevidade física, quando não estiver ou não puder mais trabalhar, é fundamental. Um excelente uso da restituição do Imposto de Renda é destiná-la à formação da reserva de aposentadoria. 5. Exercite seu direito de realizar sonhos: sonhar é um motor da vida e ver sonhos realizados faz parte do significado de ser feliz. Portanto, esse recurso que não está previsto como entrada do seu orçamento mensal pode ser sim ser destinado a realizar algum projeto sonhado! Mas use para algo realmente importante, que valha a pena como registro mental de felicidade. Se, ao final deste texto, você ficou com dúvida sobre qual das 4 dicas finais você deveria seguir primeiro, em grau de prioridade, sugiro a seguinte ordem: quite dívidas e depois monte sua reserva de emergência. Caso você não tenha dívidas e já tenha o valor satisfatório para emergências, distribua a restituição entre 50% para realizar sonhos e 50% para montar a reserva de aposentadoria. Desejo que você cuide bem do dinheiro que volta para sua gestão, sempre vigilante em conhecimento e informação para fazer bons investimentos e bom uso da restituição do Imposto de Renda, com muita sabedoria!
Como a fé, razão e o dinheiro se relacionam com a Mega-Sena da Páscoa
Colunista debate se a liberdade financeira realmente deve estar ancorada em apostas na Mega “Senhores e Senhoras, façam suas apostas!” A Mega-Sena da Páscoa pode pagar R$ 47 milhões no sábado, dia 8. A expectativa de um apostador de se tornar um milionário, da noite para a dia, é dotada de imenso significado psicológico. Seria apenas a sorte, o elemento a ser celebrado? Não! Com ela vem bastante dinheiro. Mas por que ganhar muito dinheiro traria tanta alegria? Ora! Com o dinheiro, conquista-se liberdade financeira para ser e fazer o que quiser. “Pois onde estiver seu tesouro, ali estará seu coração” diz a Bíblia. O feriado da Páscoa é celebrado por muitas religiões. Judeus comemoram a libertação da escravidão do Egito de milhares de israelitas, feita pela travessia do Mar Vermelho, passagem aberta milagrosamente por Deus. Cristãos comemoram a libertação da escravidão do pecado, alcançada por meio da morte e ressurreição de Cristo para a vida eterna. Podemos dizer, portanto, que a Mega-Sena e Páscoa são dotadas do mesmo significado subjetivo: alcançar a liberdade. Ambas carregam em si energia, motivações e esperanças de indivíduos. Mas qual seria a diferença principal entre elas? Eventos Controláveis x Eventos Incontroláveis Vou me limitar a analisar os fenômenos apenas dos pontos de vista da psicologia e da educação financeira, uma vez que essa coluna não se propõe a debater aspectos religiosos. A fé, a espiritualidade são comportamentos humanos, vistos como fenômenos psicológicos que dão estrutura às pessoas para lidarem com o imponderável, com a angústia existencial, com o sofrimento, com as adversidades. Ter fé, praticar a espiritualidade, são importantes para se ter saúde mental. Já o comportamento de apostar, de empenhar recursos, contando com o acaso e com a sorte, é enquadrado na psicologia como um comportamento supersticioso, ou seja, quando você faz uma ação esperando um resultado, que não tem relação direta a ação feita. Um exemplo disso seria acreditar que apostando em tais números, em tais datas, com certa frequência, aumentaria as chances de ganhar o prêmio do jogo. Na perspectiva da psicologia, a espiritualidade é um recurso saudável para se lidar com eventos incontroláveis, enquanto apostar é uma tentativa frustrante de se ter controle de algo aleatório. Apenas como ilustração, segundo a CEF (Caixa Econômica Federal), a probabilidade de acertar as seis dezenas com o jogo da Mega-Sena da Páscoa é de uma em 15,89 milhões, em uma aposta simples com seis números marcados. Com uma aposta com sete números marcados, a probabilidade de acerto é de uma em 2,27 milhões.
Saiba como elevar a autoestima e melhorar sua saúde financeira
Embora muitas vezes ignorada, ter uma boa autoestima é fundamental para uma vida financeira saudável É muito comum a associação do conceito de autoestima ao aspecto físico. Mas o assunto vai muito mais além e impacta inclusive na vida financeira. O que significa baixa autoestima e qual sua causa? A autoestima baixa – imagem negativa de si próprio – é resultado das experiências ao longo da história de vida de cada indivíduo e é comumente encontrada em pessoas que sofreram abuso físico, sexual e/ou emocional. Pessoas com pais muito críticos, exigentes, controladores ou que passaram por desamparo na infância e adolescência costumam construir uma percepção de si mesmos com desvalor, com sentimentos de incapacidade, de vergonha, medo, culpa, ansiedade e invalidação. Como identificar a autoestima baixa? São sinais a sensação de ser um impostor, falta de confiança em si, o perfeccionismo, a autossabotagem e a procrastinação. Pessoas com baixa autoestima são mais suscetíveis a desenvolver depressão e crises de ansiedade, podem ter dificuldade de relacionar-se de forma saudável, muitas vezes impõem-se a si mesmo e aos outros uma autocobrança excessiva, têm dificuldade de expressar seus sentimentos, dificuldade de tomar decisões satisfatórias e podem desenvolver comportamentos autodestrutivos como abuso de álcool e drogas, desequilíbrios financeiro e alimentar. Quais impactos da autoestima baixa na vida financeira? A autossabotagem proveniente de uma opinião negativa sobre si pode atingir em cheio a vida financeira em todos os aspectos dela. É muito comum pessoas com baixa autoestima comprarem por impulso e excessivamente, como um mecanismo de fuga e compensação pelo sofrimento e frustração consigo mesmo. Transtornos como o consumismo financeiro, o vício em jogos e apostas financeiras, presentear de forma exagerada para agradar aos outros, o endividamento crônico, a avareza ou economia patológica e os workaholics – viciados em trabalho – são comportamentos característicos de pessoas com autoestima baixa. Como melhorar a autoestima? Tenha um autoconceito positivo reflete diretamente na saúde mental e financeira. Aqui vão 5 atitudes que podem ajudar a aumentar sua autoestima: Carls Rogers (1902-1987), psicólogo humanista norte-americano dizia: “Se há um paradoxo curioso é que, quando me aceito como sou, eu mudo!”. O primeiro passo para a mudança vem da aceitação da situação e de si mesmo. A baixa autoestima e o seu impacto em comportamentos financeiros disfuncionais podem ser cuidados. Adotando estratégias pessoais mais saudáveis e com ajuda profissional, por meio de psicoterapia, é possível alcançar uma vida financeira mais saudável, equilibrada e feliz!
7 dicas para vencer a procrastinação em 2023 e evitar prejuízos
Existe uma diferença fundamental entre fazer uma promessa e assumir um compromisso Ano novo, vida nova. O famoso clichê carrega a expectativa de mudança, da oportunidade de colocar a vida em ordem e adquirir hábitos mais saudáveis. Declaramos em voz alta, fazemos promessas a nós mesmos: “ano que vem, segunda-feira, ou depois do Carnaval, vou começar aquele projeto ou objetivo importante”. Mas a verdade é que existe uma diferença fundamental e transformadora entre fazer uma promessa e assumir um compromisso. A primeira, a promessa, já inclui o ato da procrastinação nela mesma. É um ato futuro, que provavelmente nunca será realizado quando chegar a data. Será sempre lançado para a frente. O compromisso, por outro lado, é justamente o contrário. É a antecipação do ato. É planejar com tamanho desmembramento em passos de ação, que não restará outra alternativa, se não realizá-lo. Exemplos de promessas: “ano que vem terei minhas contas em ordem, não farei dívidas e terei meus estudos em dia na faculdade. Inclusive, farei um regime”. Obviamente, quando o ano começar (e já começou!), provavelmente nada disso irá ocorrer. Por outro lado, bons exemplos de compromisso seriam: “como no ano que vem quero ter as contas em ordem, já montei meu orçamento. Percebi que preciso reduzir minhas despesas de moradia. Então, estou procurando um lugar mais barato para morar. Como quero fazer diferente e ter meus estudos em dia, já me inscrevi em um curso de gestão do tempo, para melhorar minha organização. Também iniciei um processo psicoterapêutico para desenvolver novos hábitos, melhorar minha rotina e aumentar meu patamar de autoconhecimento”. Frases populares – como “estou mais quebrado que promessa de bêbado” ou “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje” – de forma simples, apontam causas, consequências e conselhos para não procrastinar. A procrastinação, como atraso intencional e frequente, embute um comportamento estabelecido de prometer-se a si mesmo, sem nenhum compromisso ou passo concreto na direção da realização. É acompanhada de frases e pensamentos como: “daqui a pouco eu faço”, “agora não consigo”, “estourando vou chegar em tanto tempo”, “no limite, posso parcelar”, e causa sentimentos de ansiedade, culpa e frustração como resultado do objetivo não atingido. A origem dessa conduta está na luta interna entre escolhas imediatistas de curto prazo e o autocontrole por escolhas melhores de resultados no longo prazo. Seres humanos editam mentalmente o valor da recompensa quando há atraso. Por isso, realizações de longo prazo não são tão atraentes quanto satisfações imediatas. Se você quer ter a vida financeira mais organizada, ser mais efetivo em seu trabalho e/ou estudos, aqui vão sete passos que podem facilitar sua vida: 1 – Investigue a causa Crenças estabelecidas, medo, insegurança, ansiedade, perfeccionismo, baixa autoestima, desorganização mental e tendência à impulsividade levam a adiar tarefas, perder prazos, estar sempre devedor e no sufoco, o que retroalimenta e intensifica o ciclo psicológico da frustração e da sensação de incapacidade. Transtornos mentais, pessoas deprimidas ou com TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) podem apresentar a procrastinação como sintoma. 2 – Valorize iniciativas pequenas e faça agora Fazer algo muito simples para começar a meta é milagroso para sair da inércia e já é um passo importante para transformar uma promessa em compromisso. Pode ser apenas um primeiro telefonema, uma busca na internet ou só fazer uma lista das atividades necessárias para se organizar. 3 – Faça contagem regressiva de 5 para 1 Diante de uma tarefa difícil, conte de 5 para 1. Se você ainda não organizou suas finanças e está com preguiça de fazê-lo, comece a contar: 5) Vou abrir a planilha no meu computador 4) vou abrir o extrato do banco e separar as últimas faturas 3) levante-se, 2) respire, 1) comece a lançar dados. Você pode fazer uso de mapas mentais ou listas, para estabelecer prioridades e a sequência de passos. 4 – Separe um horário fixo e calmo na semana para seu objetivo importante Você pode aplicar a técnica Pomodoro (método de gerenciar o tempo), dedicando-se 25 minutos com foco em uma atividade e, em seguida, fazer pausas curtas para descansar. 5 – Elimine distrações A presença do celular é um grande “distrator”. Se for possível, coloque-o em modo avião antes de iniciar a atividade. Gerencie seu tempo, suas emoções e sua concentração. O mindfulness (prática de respiração e meditação) é muito eficaz para aumentar o nível de atenção no presente e esvaziar a mente de sentimentos e pensamentos que estejam tirando o foco. 6 – Conte com ajuda para bancar o compromisso com sua meta Como o entusiasmo com o objetivo acontece muito antes do momento da implementação, encontre uma trava para garantir o compromisso. Bloqueie a agenda ou peça para alguém próximo fazer o acompanhamento e conferir se você está fazendo mesmo o que decidiu. 7 – Celebre pequenas vitórias com recompensas significativas Assim estará ajudando seu cérebro a registrar sua mudança positiva de comportamento. “Feito é melhor que perfeito”, o “ótimo é inimigo do bom” ou “missão dada é missão cumprida” são exemplos de crenças fortalecedoras que podem ajudar seu novo repertório comportamental. Reconhecer o hábito procrastinador já é um grande passo para a mudança. Não importa em que dia da semana ou em que momento do calendário você está! O hoje e o agora são sempre a melhor hora para recomeçar de forma diferente, com muitas realizações pessoais, profissionais e financeiras.
Os comportamentos que podem afetar as finanças dos brasileiros em 2023
Se há ou houve pedras no caminho em 2022, podemos construir pontes com elas em nossas vidas financeiras “No meio do caminho tinha uma pedra”, escreveu Carlos Drummond de Andrade. Certamente você também viu muitas pedras no caminho em 2022, provavelmente de forma menos poética. As atitudes são construídas e aprendidas como fruto da relação do homem com o ambiente e afetam diretamente a saúde mental e financeira. Que lições, então, podemos tirar dos nossos comportamentos financeiros mais frequentes perante os estímulos recebidos em 2022, para evitar ou levar para 2023? Trago aqui, para reflexão, uma retrospectiva de alguns dos principais destaques de fenômenos psicológicos ocorridos em 2022 que impactaram diretamente a vida financeira das pessoas: 1) Transtornos de ansiedade Fenômeno que tem afetado muito os jovens, chamou atenção a frequência de crises de ansiedade coletivas sofridas por estudantes no Brasil. Exemplo: em escola de Recife, vários alunos sofreram falta de ar, tremores e crise de choro. No mercado financeiro, o modelo de precificação que antecipa ocorrências na economia ou nos ativos já é o próprio sinônimo de um transtorno de ansiedade. Quantas vezes, neste ano, vimos a Bolsa fechar em queda, devido à aversão ao risco ou pressionada com as incertezas domésticas? Ou vimos traders e investidores, diante de cenários prolongados de instabilidade, ansiosos, tomando decisões precipitadas por aversão a perdas? Ansiedade leva a desistência de sonhos, perda de emprego, fuga do cuidado com as próprias finanças e a fazer dívidas. 2) Endividamento dos brasileiros O endividamento da população brasileira beira a quase 80% das famílias, o que indica uma questão estrutural em nossa sociedade. O comportamento estabelecido está relacionado às condições econômicas nas quais vivemos, a questões culturais, à carência de educação financeira e à falta de exemplo de nossos governantes (sem querer politizar neste artigo!). Entre os tops trends do Google este ano apareceram: “Como fazer empréstimo do Auxílio Brasil?”, “Como fazer o cadastro no Auxílio Brasil?” e “Como fazer empréstimo no Caixa Tem”. 3) Comportamentos supersticiosos e compulsivos Há muita expectativa para 2023 quanto à regulamentação das apostas. Apesar de o assunto ainda não estar consolidado, houve forte crescimento das apostas em sites e aplicativos, inclusive entre menores de 18 anos, o que pode se tornar um grande problema de saúde pública e saúde financeira da população. Existem similaridades psicológicas entre mecanismos de apostar e investir, principalmente entre os investidores despreparados, ávidos por altos retornos que, por excesso de confiança, acabam perdendo seu patrimônio. 4) Pirâmides financeiras As pirâmides financeiras continuam mais vivas do que nunca. Inúmeros casos ocorreram em 2022, arrastando famosos e cidadãos comuns nos golpes financeiros. Entre eles houve o casal de Minas Gerais que prometia altos retornos financeiros e o investidor estelionatário de criptomoedas do Rio de Janeiro, aguçando a ambição dos investidores e o comportamento de manada. 5) Sexismo, guerra, poder e dinheiro Quem não se lembra das manifestações hostis e sexistas de Arthur do Val, o “Mamãe falei”, ao dizer sobre as mulheres ucranianas: “São fáceis porque são pobres”, estabelecendo uma relação deplorável entre sexo, dinheiro e poder em uma situação desumana de guerra, reflexo de comportamento abusivo tanto sexual como financeiramente em relação à figura feminina. 6) Burnout, quite quitting e quite firing Mediante os fenômenos intensamente presentes em 2022 – síndrome do esgotamento profissional, demissão silenciosa por parte dos funcionários, ou líderes indiretamente forçando colaboradores a sair -, empresas devem repensar seus ambientes de trabalho, seus modelos de governança, liderança, metas, reconhecimento e gestão. 7) Atitude ESG Como boa notícia, a apresentação de informações e a implementação das práticas relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa por parte das empresas vêm ganhando força no mundo todo. No Brasil, a resolução CVM 59, 21, que entrará em vigor em janeiro de 2023, exige que as empresas passem a indicar nos seus formulários de referência dados relacionados à governança corporativa, direitos humanos e meio ambiente, além da adoção de práticas voltadas à gestão de riscos, referentes ao exercício de 2022. Há um aumento na demanda por informações mais consistentes, comparáveis e úteis à decisão e ao risco de greenwashing. Se há ou houve pedras no caminho em 2022, podemos construir pontes com elas em nossas vidas financeiras. Como diz o papa Francisco, “Derrubar muros para construir pontes” e identificar comportamentos negativos para mudá-los. Aprender novos repertórios comportamentais para reagir de forma diferente às circunstâncias que nos afetam. Que venha 2023, repleto de renovação, esperança, coragem, aprendizados e fé! Deixo a você os votos da tradicional música da virada: “Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”!
7 dicas para evitar brigas sobre dinheiro na ceia de Natal
Seguramente, a ceia de Natal não é a melhor hora para discutir sobre questões financeiras Enfeites pela cidade anunciam a chegada do fim de ano, repleta de expectativas para as confraternizações. Mas nem sempre o espírito natalino é carregado de emoções positivas. Desde os preparativos, as compras, os gastos com a ceia, a decisão dos rateios, a obrigação dos presentes e até a escolha da roupa podem se tornar um peso nesta época do ano. Peso maior ainda acontece quando você se lembra que, na festa de Natal, estará aquele parente que sempre chora porque não tem dinheiro. Ou vem à sua mente aquele que é esnobe e se sente superior; talvez o parente que todo ano dá um presente ruim com validade vencida; ou mesmo aquele que sempre pede dinheiro emprestado, emprego ou oferece uma oportunidade espetacular e enganosa de investimento. Tais exemplos despertam sentimentos ambíguos de felicidade e angústia com a lembrança do que provavelmente acontecerá no encontro em volta da mesa. Dinheiro é assunto sério e precisa ser falado. Sempre estimulo meus clientes a estabelecer uma rotina mensal, um dia em família para conversarem sobre o orçamento doméstico, planos, prioridades e necessidades de cada um. Mas seguramente, a ceia de Natal não é a melhor hora para isso! Se você deseja profundamente evitar brigas sobre o dinheiro na festa natalina, aqui vão algumas dicas: 1) Avalie se você não é o problema Faça uma autoavaliação honesta do quanto você mesmo não é o agente perturbador da festa por meio de perguntas como: falo sobre minhas questões financeiras com as pessoas com muita frequência? Quando o assunto dinheiro toma conta da minha mente, é de forma positiva ou negativa? Observe o impacto que você gera nas pessoas com seus comportamentos financeiros, relativos à falta ou à abundância de dinheiro em sua vida. Se esse é o seu caso, buscar atendimento psicoterapêutico para trabalhar comportamentos, pensamentos e emoções frente ao dinheiro pode ser uma boa resolução para 2023; 2) Exercite a empatia e compaixão Muitas vezes, a pessoa “inoportuna” quer apenas ser escutada, percebida e precisa desabafar. Os simples atos de escutar, validar e acolher podem atenuar ou mesmo dissipar a tensão da situação. Ponderar que esta pessoa possa estar sofrendo e sentindo-se solitária, com dificuldade em lidar com seus conflitos, que pode estar em luto por ciclos mal fechados ou resolvidos, pode ajudar no exercício da empatia e no aumento da compaixão; 3) Estabeleça limites com gentileza Após escutar, validar e acolher é possível propor um outro momento para conversar sobre o tema. Com gentileza, você pode dizer como se sente em relação ao assunto e propor, por exemplo, falar sobre isso em outra hora com mais privacidade, tranquilidade e tempo para reflexão; 4) Pratique a aceitação Aceitar que a situação é aquela que se apresenta no momento, que pessoas possuem seus dilemas e podem ter dificuldade de mudar, aceitar-se a si mesmo como você está e aceitar seus próprios sentimentos como surgem podem ser grandes passos para a mudança. O psicólogo humanista Carl Rogers disse: “O paradoxo curioso é que, quando me aceito como sou, posso mudar”. Isso vale também para as situações e relacionamentos com pessoas difíceis; 5) Pratique a doação Praticar a doação mensalmente durante o ano é um excelente exercício para aumentar os níveis do amor incondicional, da ajuda ao próximo, da aceitação e compaixão, da gratidão, da eficiência na gestão do próprio orçamento e da capacidade de economizar. Quando ajudo outra pessoa através da doação, consigo aumentar minha capacidade de ajudar o meu “eu do futuro” através do poupar. Inclusive, um outro bom exercício é conseguir presentear no Natal, sem esperar nada em troca; 6) A gratificação ou punição não é papel do Papai Noel Se você é pai ou mãe, vigie-se para não atribuir ao Papai Noel a tarefa de recompensar ou punir. A fantasia natalina faz parte dos símbolos culturais do imaginário infantil, mas não deve ser usada como ferramenta de chantagem para instruir sobre boas ou más ações da criança ao longo do ano. Menos ainda deve gerar expectativas na criança ou causar sofrimento nos pais por presentes que não cabem no orçamento. É papel dos pais acolher, perdoar, ensinar e principalmente elogiar. Cabe aos pais falar sobre o dinheiro de forma franca e transparente e passar sempre conceitos corretos de educação financeira. Para o bem do Natal e das crianças, Papai Noel pode sim ser adotado como uma figura simbólica e lúdica, no entanto, não deve representar o grande juiz, mestre ou redentor do ano. 7) Atribua propósito à festa Separe um momento no encontro para refletir sobre o real propósito da reunião familiar. Exercite a espiritualidade em família. Aproveite o momento como oportunidade para cada um contar aos outros sobre alegrias, dificuldades, motivos de gratidão do ano que passou e sonhos para o próximo ano. Esta prática pode ser utilizada para estreitar vínculos e estabelecer laços de conexão. Encerro este texto desejando a você e seus familiares um feliz Natal, com muita comunhão, gratidão, amor, esperança e fé!
10 resoluções de fim de ano para controlar o destino financeiro em 2023
Resoluções financeiras para parar de sofrer em 2022 e fazer de 2023 um Feliz Ano Novo “Quando tudo isso vai acabar?” Tenho ouvido essa pergunta com certa recorrência em meu consultório. Pessoas angustiadas com as circunstâncias, pessimistas por não enxergar a luz no fim do túnel. E a mesma pergunta vem de todos os lados, sem prevalência de gênero, idade ou escolaridade. A pandemia veio, mas não acabou, as eleições passaram, mas o brasileiro segue inseguro, com medo. Acho que o indivíduo que mais demonstra toda essa melancolia armazenada é o mercado financeiro! Esse sujeito indeterminado, mas tão transparente e humanamente emotivo, é um verdadeiro eletrocardiograma do coração dos investidores e da população em geral. Se há um divã, um verdadeiro lugar de desabafo, este lugar é o mercado de ações. Ele precifica, se preocupa, sofre de ansiedade, passa por euforia e depressão. Mas quando tudo isso vai acabar? “O destino é só o acaso com mania de grandeza” disse Mário Quintana. A vida realmente é uma sucessão de acasos, de circunstâncias. O cientista Albert Einstein dizia que todos deveriam fazer-se a seguinte pergunta: “O universo é um lugar amistoso?”. Do ponto de vista dele, quem responde “não” a essa pergunta, se arma até os dentes para se defender. Pelo contrário, se a resposta for positiva, o indivíduo será capaz de enxergar oportunidades e construir alianças. Apesar de querermos ter controle das situações, o acaso é incontrolável. O renomado psicólogo comportamental B. F. Skinner realizou pesquisa com pombos famintos oferecendo alimento em intervalos regulares. Mesmo que a oferta de comida não dependesse do comportamento dos pássaros, a maioria deles desenvolveu padrões de comportamento bem estereotipados para consegui-la, tais como dar voltas no sentido anti-horário, bater as asas no período entre apresentação de alimento; enfiar repetidamente a cabeça num dos cantos da gaiola. Os animais desenvolveram comportamento supersticioso, acreditando que, agindo de determinado modo, a comida iria chegar. Pessoas controladoras tendem a sofrer de depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome de burnout. Desta forma, a grande sabedoria está em conseguir distinguir o que está sob nosso controle e o que não está. Por esse motivo, a organização Alcoólatras Anônimos, que oferece ajuda mútua de recuperação de dependentes de álcool, adotou a oração da serenidade para ser repetida em todos os seus encontros. Um trecho da oração diz: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Essa sabedoria é um dos grandes desafios humanos, e me incluo nesta busca. É o aprendizado que isenta a necessidade de ver luz no fim do túnel para ser feliz; mas ensina a aceitar, agradecer e viver equilibrado mesmo no escuro. Com toda humildade de quem também busca isto para si, aqui vão algumas dicas para terminar o ano bem e começar um 2023 feliz, modificando, na vida financeira, o que realmente está ao nosso alcance: Em vez de entrarmos 2023 como pombos supersticiosos, dando voltas ao redor do corpo, teclando ordens aleatórias de compra e venda de ativos, tentando a sorte em apostas ou reclamando das circunstâncias, é possível sim influenciar o próprio destino escolhendo os passos certos.
Copa do Mundo: por que apostas esportivas são perigosas para os jovens
Apostar não é o mesmo que investir e deve ocupar uma fatia restrita como despesa na categoria de lazer A Copa do Mundo 2022 vai começar! O maior evento público desde o início da pandemia foi adiado para novembro, mês em que as temperaturas são mais amenas no Catar. Espera-se que o mês traga também temperaturas políticas e econômicas mais amenas ao Brasil. E na rasteira do espírito positivo de motivação, esperança, lazer e união em torno do futebol, que sempre uniu os brasileiros, um fenômeno crescente, arrebatador de multidões, tem despertado o interesse da indústria financeira no Brasil: as apostas esportivas. Já é uma tradição histórica cultural em nosso País durante Copas do Mundo o famoso “bolão”, prática adotada entre amigos, familiares e colegas de trabalho, que se reúnem para apostar em performance de equipes e jogadores ao longo do campeonato. A era digital, com seu poder de potencializar práticas em escalas nunca antes vistas, tornou as apostas esportivas uma atividade consolidada e com números de gente grande. A consultoria norte-americana Grand View Research avaliou em 2020 o mercado global em US$ 59,6 bilhões e estima que em 2027 chegará a US$ 127,3 bilhões. Se houver regulamentação no Brasil, o País poderá se tornar um dos principias mercados, dada a paixão pelo esporte no País e o tamanho da população brasileira. O risco para os jovens Já existem muitos aplicativos disponíveis para apostas de todos os tipos e, embora não seja permitida a participação de menores de 18 anos, as apostas têm se popularizado cada vez mais entre o público adolescente, que mente a idade no cadastramento, sem fiscalização. A questão é muito grave e, no curto espaço de tempo, a adição por jogar pode se tornar mais um dos sérios problemas de saúde pública, superando a dependência química, além de favorecer o agravamento do endividamento da população. Adolescentes, devido à puberdade, passam por transformações hormonais intensas nesta fase da vida, o que inclui fortes oscilações da produção de dopamina, hormônio responsável pelo registro de felicidade de longo prazo. A variação biológica ocorre para que o organismo tenha oportunidade de desenvolver novos repertórios comportamentais necessários para a fase adulta, associados à autonomia. No entanto, se os estímulos nesta fase da vida privilegiarem emoções positivas intensas de curto prazo, o comportamento passará a ser emitido com mais frequência e intensidade, e assim se tornará um vício. Ademais, a parte do cérebro responsável pela avaliação de riscos, o córtex pré-frontal, somente tem sua formação completa, em média, após os 20 anos de idade. Não é à toa que adolescentes são mais propensos a se exporem a perigos que podem comprometer sua integridade física, mental, financeira e às vezes a própria vida. Por esta razão, os Estados Unidos, pais que tem jogos de azar legalizados, proíbe que menores de 21 anos entrem nos cassinos. Há similaridade entre apostas e investimentos? Existem similaridades psicológicas entre os mecanismos de apostar e investir, principalmente em investimentos de ações nominadas “tipo-loteria”, aquelas de alta volatilidade e que apresentam pequena probabilidade de alcançar um grande retorno. Assim como os investidores destas ações, em momento esporádicos e pontuais de ganhos, apostadores experimentam picos de emoções positivas, o que leva à euforia e empolgação tornando-os mais avessos à avaliação de risco e mais confiantes em seguir apostando ou fazendo investimentos ruins. Há uma crença de que apostadores profissionais, por fazerem muitos estudos de probabilidades estatísticas de performances de jogadores, estariam aptos a altos retornos, assim como investidores de análise fundamentalista das ações. No entanto, estudos como o de Richard Thaler, ganhador de Prêmio Nobel de Economia, mostram que ganhos em apostas bem-sucedidas, por excesso de confiança e empolgação, são imediatamente usados em novas apostas, com probabilidade de serem malsucedidas. Esse comportamento é chamado de Dinheiro de Casa (“House Money behavior”), dinheiro que permanece no lugar da aposta ou no mercado financeiro, e não no bolso do investidor. Se há semelhanças comportamentais, há também uma diferença fundamental entre investimentos e apostas, quanto à finalidade. A compra de ações favorece a economia real, o crescimento de empresas, a geração de produtos e empregos. Traz retornos financeiros e por isso é classificada como investimento. Já a aposta tem, em sua essência, uma finalidade recreativa e, portanto, é considerada despesa. Como saber se o comportamento recreativo das apostas virou vício? Na fase recreativa, a pessoa joga em um ritmo baixo e tem prazer em diferentes atividades em sua vida. No entanto, quando o prazer em jogar se intensifica e passa a representar alívio de estresse e forte socialização com amigos, a pessoa torna a prática mais frequente, depositando grande parte da satisfação de sua vida no jogo e desenvolve uma adição por jogar. Nestes casos, a ausência do jogo provoca sintomas de abstinência como ansiedade, irritabilidade, mau humor e depressão, o que impulsiona o comportamento para jogar novamente, tornando-se uma compulsão. Por isso, elogiar muito um filho que teve sucesso em apostas ou mesmo em investimentos de curto prazo, ao acaso, sem que ele tenha o conhecimento profundo de um investidor qualificado, pode ser um reforçador social perigoso de indução ao vício de jogar. A prática de apostar não deve ser vista como uma profissão, e precisa ocupar um espaço bem delimitado de uso recreativo, tanto em tempo como em orçamento e em satisfação pessoal. Apostar não é o mesmo que investir e deve ocupar uma fatia restrita como despesa na categoria de lazer. Crianças e adolescentes não estão preparados fisicamente e tampouco psicologicamente para jogos de azar. Para elas, o melhor elogio é aquele que reforça seus talentos, seu empenho em atividades produtivas, que fortaleçam sua autoestima e seu senso de contribuição com a sociedade.