Água a R$ 93: qual é o limite ético da lei da oferta e da procura?
Catástrofe provocada pelas chuvas no litoral paulista nos faz refletir sobre o limite na busca por lucro É frequente na educação financeira explicar a jovens e adolescentes o modelo da lei da oferta e da demanda como um mecanismo natural, de livre mercado, na determinação de preços. O que fica muito difícil explicar é uma garrafinha de água custar R$ 93 em meio a uma das maiores tragédias provocadas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo, quando pessoas morreram soterradas e outras passam sede e fome ou adoeceram e ficaram desabrigadas. A lei da oferta e da procura não é prescrita por autoridade, muito menos um ato normativo de processo legislativo. Funciona do mesmo modo que a lei da gravidade, como um fenômeno que espontaneamente ocorre na natureza econômica. O entendimento é simples: se tem mais gente querendo comprar e menos produto ofertado, os preços sobem. Ao contrário, se há mais produtos oferecidos à venda e menos interesse de compra, então os preços caem. O raciocínio vale para explicar o fenômeno da inflação, a paridade das moedas, o preço dos ativos financeiros e o mecanismo de leilões de mercadorias. Apesar de natural e saudável regulação do livre mercado, a lei da oferta e da procura causa ruído moral quando nos esbarramos em seu efeito diante de uma tragédia humana, simbolicamente personificada nos R$ 93 cobrados por uma garrafa de água. Apesar de haver menos garrafas e mais pessoas precisando, qual é o limite ético de seu uso? Neste caso a disputa entre oferta e procura esbarra filosoficamente na mesma disputa entre o “eu” (ego) e “o outro” (alter), entre egoísmo e altruísmo. Deveria o livre mercado, assim como o livre arbítrio humano, ter em si uma autorregulagem do olhar pelo próximo, da empatia, do coletivo, do olhar humanizado? Quando se oferece uma garrafa de R$ 93 ou empréstimo a taxas de juros iguais ou superiores a 10% ao mês a uma população vulnerável em recursos financeiros e em conhecimento, em situação de carência social, sanitária, de saúde e/ou de educação, o ser humano mostra sua faceta mais cruel da falta de cuidado com a própria espécie. Não estamos falando aqui sobre sistemas políticos e organizacionais, sobre mais ou menos intervenção do Estado ou sobre a disputa entre modelos econômicos capitalistas ou socialistas. O ponto, sim, é a própria consciência individual e, quiçá, a preocupação na transmissão cultural dentro das famílias, das comunidades em que vivemos, das empresas em que trabalhamos, do país a que pertencemos sob o olhar espontâneo da lei, também natural, do amar ao próximo como a si mesmo. Por isso, incentivo tanto, como educadora financeira e psicóloga, a prática da doação dentro da organização das finanças pessoais e do orçamento mensal. Está provado cientificamente que pessoas que praticam a doação regularmente, tanto de tempo quanto de dinheiro, aumentam sua capacidade e equilíbrio emocional para lidar com suas próprias finanças e se tornam poupadores e investidores mais sábios porque, ao cuidar do outro hoje, conseguem cuidar melhor do seu “eu do futuro”. Há um grande segredo de sucesso e felicidade quando se consegue perceber e exercitar atitudes que podem parecer paradoxais como essas abaixo:
Os comportamentos que podem afetar as finanças dos brasileiros em 2023
Se há ou houve pedras no caminho em 2022, podemos construir pontes com elas em nossas vidas financeiras “No meio do caminho tinha uma pedra”, escreveu Carlos Drummond de Andrade. Certamente você também viu muitas pedras no caminho em 2022, provavelmente de forma menos poética. As atitudes são construídas e aprendidas como fruto da relação do homem com o ambiente e afetam diretamente a saúde mental e financeira. Que lições, então, podemos tirar dos nossos comportamentos financeiros mais frequentes perante os estímulos recebidos em 2022, para evitar ou levar para 2023? Trago aqui, para reflexão, uma retrospectiva de alguns dos principais destaques de fenômenos psicológicos ocorridos em 2022 que impactaram diretamente a vida financeira das pessoas: 1) Transtornos de ansiedade Fenômeno que tem afetado muito os jovens, chamou atenção a frequência de crises de ansiedade coletivas sofridas por estudantes no Brasil. Exemplo: em escola de Recife, vários alunos sofreram falta de ar, tremores e crise de choro. No mercado financeiro, o modelo de precificação que antecipa ocorrências na economia ou nos ativos já é o próprio sinônimo de um transtorno de ansiedade. Quantas vezes, neste ano, vimos a Bolsa fechar em queda, devido à aversão ao risco ou pressionada com as incertezas domésticas? Ou vimos traders e investidores, diante de cenários prolongados de instabilidade, ansiosos, tomando decisões precipitadas por aversão a perdas? Ansiedade leva a desistência de sonhos, perda de emprego, fuga do cuidado com as próprias finanças e a fazer dívidas. 2) Endividamento dos brasileiros O endividamento da população brasileira beira a quase 80% das famílias, o que indica uma questão estrutural em nossa sociedade. O comportamento estabelecido está relacionado às condições econômicas nas quais vivemos, a questões culturais, à carência de educação financeira e à falta de exemplo de nossos governantes (sem querer politizar neste artigo!). Entre os tops trends do Google este ano apareceram: “Como fazer empréstimo do Auxílio Brasil?”, “Como fazer o cadastro no Auxílio Brasil?” e “Como fazer empréstimo no Caixa Tem”. 3) Comportamentos supersticiosos e compulsivos Há muita expectativa para 2023 quanto à regulamentação das apostas. Apesar de o assunto ainda não estar consolidado, houve forte crescimento das apostas em sites e aplicativos, inclusive entre menores de 18 anos, o que pode se tornar um grande problema de saúde pública e saúde financeira da população. Existem similaridades psicológicas entre mecanismos de apostar e investir, principalmente entre os investidores despreparados, ávidos por altos retornos que, por excesso de confiança, acabam perdendo seu patrimônio. 4) Pirâmides financeiras As pirâmides financeiras continuam mais vivas do que nunca. Inúmeros casos ocorreram em 2022, arrastando famosos e cidadãos comuns nos golpes financeiros. Entre eles houve o casal de Minas Gerais que prometia altos retornos financeiros e o investidor estelionatário de criptomoedas do Rio de Janeiro, aguçando a ambição dos investidores e o comportamento de manada. 5) Sexismo, guerra, poder e dinheiro Quem não se lembra das manifestações hostis e sexistas de Arthur do Val, o “Mamãe falei”, ao dizer sobre as mulheres ucranianas: “São fáceis porque são pobres”, estabelecendo uma relação deplorável entre sexo, dinheiro e poder em uma situação desumana de guerra, reflexo de comportamento abusivo tanto sexual como financeiramente em relação à figura feminina. 6) Burnout, quite quitting e quite firing Mediante os fenômenos intensamente presentes em 2022 – síndrome do esgotamento profissional, demissão silenciosa por parte dos funcionários, ou líderes indiretamente forçando colaboradores a sair -, empresas devem repensar seus ambientes de trabalho, seus modelos de governança, liderança, metas, reconhecimento e gestão. 7) Atitude ESG Como boa notícia, a apresentação de informações e a implementação das práticas relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa por parte das empresas vêm ganhando força no mundo todo. No Brasil, a resolução CVM 59, 21, que entrará em vigor em janeiro de 2023, exige que as empresas passem a indicar nos seus formulários de referência dados relacionados à governança corporativa, direitos humanos e meio ambiente, além da adoção de práticas voltadas à gestão de riscos, referentes ao exercício de 2022. Há um aumento na demanda por informações mais consistentes, comparáveis e úteis à decisão e ao risco de greenwashing. Se há ou houve pedras no caminho em 2022, podemos construir pontes com elas em nossas vidas financeiras. Como diz o papa Francisco, “Derrubar muros para construir pontes” e identificar comportamentos negativos para mudá-los. Aprender novos repertórios comportamentais para reagir de forma diferente às circunstâncias que nos afetam. Que venha 2023, repleto de renovação, esperança, coragem, aprendizados e fé! Deixo a você os votos da tradicional música da virada: “Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”!
7 dicas para evitar brigas sobre dinheiro na ceia de Natal
Seguramente, a ceia de Natal não é a melhor hora para discutir sobre questões financeiras Enfeites pela cidade anunciam a chegada do fim de ano, repleta de expectativas para as confraternizações. Mas nem sempre o espírito natalino é carregado de emoções positivas. Desde os preparativos, as compras, os gastos com a ceia, a decisão dos rateios, a obrigação dos presentes e até a escolha da roupa podem se tornar um peso nesta época do ano. Peso maior ainda acontece quando você se lembra que, na festa de Natal, estará aquele parente que sempre chora porque não tem dinheiro. Ou vem à sua mente aquele que é esnobe e se sente superior; talvez o parente que todo ano dá um presente ruim com validade vencida; ou mesmo aquele que sempre pede dinheiro emprestado, emprego ou oferece uma oportunidade espetacular e enganosa de investimento. Tais exemplos despertam sentimentos ambíguos de felicidade e angústia com a lembrança do que provavelmente acontecerá no encontro em volta da mesa. Dinheiro é assunto sério e precisa ser falado. Sempre estimulo meus clientes a estabelecer uma rotina mensal, um dia em família para conversarem sobre o orçamento doméstico, planos, prioridades e necessidades de cada um. Mas seguramente, a ceia de Natal não é a melhor hora para isso! Se você deseja profundamente evitar brigas sobre o dinheiro na festa natalina, aqui vão algumas dicas: 1) Avalie se você não é o problema Faça uma autoavaliação honesta do quanto você mesmo não é o agente perturbador da festa por meio de perguntas como: falo sobre minhas questões financeiras com as pessoas com muita frequência? Quando o assunto dinheiro toma conta da minha mente, é de forma positiva ou negativa? Observe o impacto que você gera nas pessoas com seus comportamentos financeiros, relativos à falta ou à abundância de dinheiro em sua vida. Se esse é o seu caso, buscar atendimento psicoterapêutico para trabalhar comportamentos, pensamentos e emoções frente ao dinheiro pode ser uma boa resolução para 2023; 2) Exercite a empatia e compaixão Muitas vezes, a pessoa “inoportuna” quer apenas ser escutada, percebida e precisa desabafar. Os simples atos de escutar, validar e acolher podem atenuar ou mesmo dissipar a tensão da situação. Ponderar que esta pessoa possa estar sofrendo e sentindo-se solitária, com dificuldade em lidar com seus conflitos, que pode estar em luto por ciclos mal fechados ou resolvidos, pode ajudar no exercício da empatia e no aumento da compaixão; 3) Estabeleça limites com gentileza Após escutar, validar e acolher é possível propor um outro momento para conversar sobre o tema. Com gentileza, você pode dizer como se sente em relação ao assunto e propor, por exemplo, falar sobre isso em outra hora com mais privacidade, tranquilidade e tempo para reflexão; 4) Pratique a aceitação Aceitar que a situação é aquela que se apresenta no momento, que pessoas possuem seus dilemas e podem ter dificuldade de mudar, aceitar-se a si mesmo como você está e aceitar seus próprios sentimentos como surgem podem ser grandes passos para a mudança. O psicólogo humanista Carl Rogers disse: “O paradoxo curioso é que, quando me aceito como sou, posso mudar”. Isso vale também para as situações e relacionamentos com pessoas difíceis; 5) Pratique a doação Praticar a doação mensalmente durante o ano é um excelente exercício para aumentar os níveis do amor incondicional, da ajuda ao próximo, da aceitação e compaixão, da gratidão, da eficiência na gestão do próprio orçamento e da capacidade de economizar. Quando ajudo outra pessoa através da doação, consigo aumentar minha capacidade de ajudar o meu “eu do futuro” através do poupar. Inclusive, um outro bom exercício é conseguir presentear no Natal, sem esperar nada em troca; 6) A gratificação ou punição não é papel do Papai Noel Se você é pai ou mãe, vigie-se para não atribuir ao Papai Noel a tarefa de recompensar ou punir. A fantasia natalina faz parte dos símbolos culturais do imaginário infantil, mas não deve ser usada como ferramenta de chantagem para instruir sobre boas ou más ações da criança ao longo do ano. Menos ainda deve gerar expectativas na criança ou causar sofrimento nos pais por presentes que não cabem no orçamento. É papel dos pais acolher, perdoar, ensinar e principalmente elogiar. Cabe aos pais falar sobre o dinheiro de forma franca e transparente e passar sempre conceitos corretos de educação financeira. Para o bem do Natal e das crianças, Papai Noel pode sim ser adotado como uma figura simbólica e lúdica, no entanto, não deve representar o grande juiz, mestre ou redentor do ano. 7) Atribua propósito à festa Separe um momento no encontro para refletir sobre o real propósito da reunião familiar. Exercite a espiritualidade em família. Aproveite o momento como oportunidade para cada um contar aos outros sobre alegrias, dificuldades, motivos de gratidão do ano que passou e sonhos para o próximo ano. Esta prática pode ser utilizada para estreitar vínculos e estabelecer laços de conexão. Encerro este texto desejando a você e seus familiares um feliz Natal, com muita comunhão, gratidão, amor, esperança e fé!
10 resoluções de fim de ano para controlar o destino financeiro em 2023
Resoluções financeiras para parar de sofrer em 2022 e fazer de 2023 um Feliz Ano Novo “Quando tudo isso vai acabar?” Tenho ouvido essa pergunta com certa recorrência em meu consultório. Pessoas angustiadas com as circunstâncias, pessimistas por não enxergar a luz no fim do túnel. E a mesma pergunta vem de todos os lados, sem prevalência de gênero, idade ou escolaridade. A pandemia veio, mas não acabou, as eleições passaram, mas o brasileiro segue inseguro, com medo. Acho que o indivíduo que mais demonstra toda essa melancolia armazenada é o mercado financeiro! Esse sujeito indeterminado, mas tão transparente e humanamente emotivo, é um verdadeiro eletrocardiograma do coração dos investidores e da população em geral. Se há um divã, um verdadeiro lugar de desabafo, este lugar é o mercado de ações. Ele precifica, se preocupa, sofre de ansiedade, passa por euforia e depressão. Mas quando tudo isso vai acabar? “O destino é só o acaso com mania de grandeza” disse Mário Quintana. A vida realmente é uma sucessão de acasos, de circunstâncias. O cientista Albert Einstein dizia que todos deveriam fazer-se a seguinte pergunta: “O universo é um lugar amistoso?”. Do ponto de vista dele, quem responde “não” a essa pergunta, se arma até os dentes para se defender. Pelo contrário, se a resposta for positiva, o indivíduo será capaz de enxergar oportunidades e construir alianças. Apesar de querermos ter controle das situações, o acaso é incontrolável. O renomado psicólogo comportamental B. F. Skinner realizou pesquisa com pombos famintos oferecendo alimento em intervalos regulares. Mesmo que a oferta de comida não dependesse do comportamento dos pássaros, a maioria deles desenvolveu padrões de comportamento bem estereotipados para consegui-la, tais como dar voltas no sentido anti-horário, bater as asas no período entre apresentação de alimento; enfiar repetidamente a cabeça num dos cantos da gaiola. Os animais desenvolveram comportamento supersticioso, acreditando que, agindo de determinado modo, a comida iria chegar. Pessoas controladoras tendem a sofrer de depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome de burnout. Desta forma, a grande sabedoria está em conseguir distinguir o que está sob nosso controle e o que não está. Por esse motivo, a organização Alcoólatras Anônimos, que oferece ajuda mútua de recuperação de dependentes de álcool, adotou a oração da serenidade para ser repetida em todos os seus encontros. Um trecho da oração diz: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Essa sabedoria é um dos grandes desafios humanos, e me incluo nesta busca. É o aprendizado que isenta a necessidade de ver luz no fim do túnel para ser feliz; mas ensina a aceitar, agradecer e viver equilibrado mesmo no escuro. Com toda humildade de quem também busca isto para si, aqui vão algumas dicas para terminar o ano bem e começar um 2023 feliz, modificando, na vida financeira, o que realmente está ao nosso alcance: Em vez de entrarmos 2023 como pombos supersticiosos, dando voltas ao redor do corpo, teclando ordens aleatórias de compra e venda de ativos, tentando a sorte em apostas ou reclamando das circunstâncias, é possível sim influenciar o próprio destino escolhendo os passos certos.
Copa do Mundo: por que apostas esportivas são perigosas para os jovens
Apostar não é o mesmo que investir e deve ocupar uma fatia restrita como despesa na categoria de lazer A Copa do Mundo 2022 vai começar! O maior evento público desde o início da pandemia foi adiado para novembro, mês em que as temperaturas são mais amenas no Catar. Espera-se que o mês traga também temperaturas políticas e econômicas mais amenas ao Brasil. E na rasteira do espírito positivo de motivação, esperança, lazer e união em torno do futebol, que sempre uniu os brasileiros, um fenômeno crescente, arrebatador de multidões, tem despertado o interesse da indústria financeira no Brasil: as apostas esportivas. Já é uma tradição histórica cultural em nosso País durante Copas do Mundo o famoso “bolão”, prática adotada entre amigos, familiares e colegas de trabalho, que se reúnem para apostar em performance de equipes e jogadores ao longo do campeonato. A era digital, com seu poder de potencializar práticas em escalas nunca antes vistas, tornou as apostas esportivas uma atividade consolidada e com números de gente grande. A consultoria norte-americana Grand View Research avaliou em 2020 o mercado global em US$ 59,6 bilhões e estima que em 2027 chegará a US$ 127,3 bilhões. Se houver regulamentação no Brasil, o País poderá se tornar um dos principias mercados, dada a paixão pelo esporte no País e o tamanho da população brasileira. O risco para os jovens Já existem muitos aplicativos disponíveis para apostas de todos os tipos e, embora não seja permitida a participação de menores de 18 anos, as apostas têm se popularizado cada vez mais entre o público adolescente, que mente a idade no cadastramento, sem fiscalização. A questão é muito grave e, no curto espaço de tempo, a adição por jogar pode se tornar mais um dos sérios problemas de saúde pública, superando a dependência química, além de favorecer o agravamento do endividamento da população. Adolescentes, devido à puberdade, passam por transformações hormonais intensas nesta fase da vida, o que inclui fortes oscilações da produção de dopamina, hormônio responsável pelo registro de felicidade de longo prazo. A variação biológica ocorre para que o organismo tenha oportunidade de desenvolver novos repertórios comportamentais necessários para a fase adulta, associados à autonomia. No entanto, se os estímulos nesta fase da vida privilegiarem emoções positivas intensas de curto prazo, o comportamento passará a ser emitido com mais frequência e intensidade, e assim se tornará um vício. Ademais, a parte do cérebro responsável pela avaliação de riscos, o córtex pré-frontal, somente tem sua formação completa, em média, após os 20 anos de idade. Não é à toa que adolescentes são mais propensos a se exporem a perigos que podem comprometer sua integridade física, mental, financeira e às vezes a própria vida. Por esta razão, os Estados Unidos, pais que tem jogos de azar legalizados, proíbe que menores de 21 anos entrem nos cassinos. Há similaridade entre apostas e investimentos? Existem similaridades psicológicas entre os mecanismos de apostar e investir, principalmente em investimentos de ações nominadas “tipo-loteria”, aquelas de alta volatilidade e que apresentam pequena probabilidade de alcançar um grande retorno. Assim como os investidores destas ações, em momento esporádicos e pontuais de ganhos, apostadores experimentam picos de emoções positivas, o que leva à euforia e empolgação tornando-os mais avessos à avaliação de risco e mais confiantes em seguir apostando ou fazendo investimentos ruins. Há uma crença de que apostadores profissionais, por fazerem muitos estudos de probabilidades estatísticas de performances de jogadores, estariam aptos a altos retornos, assim como investidores de análise fundamentalista das ações. No entanto, estudos como o de Richard Thaler, ganhador de Prêmio Nobel de Economia, mostram que ganhos em apostas bem-sucedidas, por excesso de confiança e empolgação, são imediatamente usados em novas apostas, com probabilidade de serem malsucedidas. Esse comportamento é chamado de Dinheiro de Casa (“House Money behavior”), dinheiro que permanece no lugar da aposta ou no mercado financeiro, e não no bolso do investidor. Se há semelhanças comportamentais, há também uma diferença fundamental entre investimentos e apostas, quanto à finalidade. A compra de ações favorece a economia real, o crescimento de empresas, a geração de produtos e empregos. Traz retornos financeiros e por isso é classificada como investimento. Já a aposta tem, em sua essência, uma finalidade recreativa e, portanto, é considerada despesa. Como saber se o comportamento recreativo das apostas virou vício? Na fase recreativa, a pessoa joga em um ritmo baixo e tem prazer em diferentes atividades em sua vida. No entanto, quando o prazer em jogar se intensifica e passa a representar alívio de estresse e forte socialização com amigos, a pessoa torna a prática mais frequente, depositando grande parte da satisfação de sua vida no jogo e desenvolve uma adição por jogar. Nestes casos, a ausência do jogo provoca sintomas de abstinência como ansiedade, irritabilidade, mau humor e depressão, o que impulsiona o comportamento para jogar novamente, tornando-se uma compulsão. Por isso, elogiar muito um filho que teve sucesso em apostas ou mesmo em investimentos de curto prazo, ao acaso, sem que ele tenha o conhecimento profundo de um investidor qualificado, pode ser um reforçador social perigoso de indução ao vício de jogar. A prática de apostar não deve ser vista como uma profissão, e precisa ocupar um espaço bem delimitado de uso recreativo, tanto em tempo como em orçamento e em satisfação pessoal. Apostar não é o mesmo que investir e deve ocupar uma fatia restrita como despesa na categoria de lazer. Crianças e adolescentes não estão preparados fisicamente e tampouco psicologicamente para jogos de azar. Para elas, o melhor elogio é aquele que reforça seus talentos, seu empenho em atividades produtivas, que fortaleçam sua autoestima e seu senso de contribuição com a sociedade.
5 dicas de como levar seu filho de potencial à potência
Neste Dia das Crianças, veja como você pode ajudar um filho a ter a luz própria no mundo A primeira grande e boa notícia que quero dar a você, pai ou mãe, que iniciou a leitura deste artigo é: seu filho já é uma potência! Passei anos da minha vida como líder em corporações. Em uma delas, responsável pela área de RH como Diretora Administrativo-Financeira de uma empresa com mais de 1,5 mil funcionários, observando de perto os jovens de alto potencial. Hoje, como psicóloga, orientando jovens, líderes e pais, vejo como ponto de atenção o lugar de ansiedade que essa busca ocupa. A palavra potencial é sempre uma referência ao futuro, algo que ainda não aconteceu e no qual se deposita alto nível de expectativa. Mas esse é uma fórmula repleta de ansiedade, pronta para o fracasso! Diz-se que a satisfação é igual à qualidade, dividida por expectativa. Ou seja, quanto maior for a expectativa do potencial, menor será a percepção da qualidade da entrega. Inclusive a satisfação pode tender a zero, se a expectativa for altíssima! Talvez seja esse conjunto de ansiedade, expectativa e pressão da sociedade atual, uma das causas disparadoras nos jovens de transtornos mentais, como síndrome do pânico, depressão, tiques nervosos, automutilação ou até mesmo tentativas de suicídio. Cada um de nós já nasceu com luz própria para brilhar. Seu filho ou filha também! Como sugestão para o Dia das Crianças, aqui vão 5 dicas que você pode presentear filhos: 1. Conheça a luz do seu filho, aceite e admire como ela é. Em vez de depositar expectativas, desenhar caminhos ou consertar defeitos, evite projetar em seu filho algo que não pertença a ele. Ao contrário, conheça-o profundamente e apaixone-se pelo que essa pessoa que está ao seu lado no mundo verdadeiramente é! 2. Fracassos e frustrações são parte da vida e o brilho está em saber lidar com estresses cotidianos. Mas, se todos nós sabemos disso, por que muitos pais buscam proteger filhos das adversidades em vez de ensiná-los a lidar com elas? E por que alguns pais ficam tão decepcionados com dificuldades dos seus filhos, como por exemplo o dito “fracasso escolar”, em vez de ter calma, paciência na trajetória celebrando as pequenas vitórias? Para haver brilho é preciso saber destacar mais as qualidades do que os defeitos e ter leveza perante adversidades. 3. Luz para propagar precisa de superfície refletora! Ou seja, qualquer potencial precisa de um ambiente favorável, positivo e incentivador para brilhar. Ambientes críticos, coercitivos, punitivos vão ofuscar e podem apagar uma luz. Elogie, incentive, mostre, ajude seu filho ou filha a descobrir seus talentos e motivações. Foque nos elogios, jogue luz nas habilidades interpessoais e incentive iniciativas sem se preocupar tanto com o resultado. Todo comportamento existe em função de algo. Se há um “mau” comportamento, possivelmente há oportunidade de ajuste no meio e nas relações. 4. A fórmula da Potência, segundo a definição da física, é igual à quantidade de trabalho em um intervalo de tempo (aqui vem meu lado engenheira): então dê tempo ao tempo e ensine seu filho a persistir. É muito comum, e bastante prejudicial, pais interromperem ou permitirem desistência rápida de atividades extracurriculares de seus filhos, sem completarem ciclos. Para exercer a potência, filhos precisam desenvolver a visão do trabalho no tempo. Desenvolver autocontrole, que nada mais é que o compromisso com as conquistas maiores do longo prazo. 5. Ajude seu filho(a) a ter autonomia e não precisar mais de você. Tanto a palavra potencial como potência vêm do latim “Potens”, que significa poder. Ajude seu filho(a) a empoderar-se. O melhor presente que você pode dar a seu filho, não só no Dia das Crianças, mas para a vida inteira, é a ajudá-lo a conhecer as próprias habilidades, ensiná-lo a lidar com os estresses da vida cotidiana, a estimulá-lo a usar suas habilidades de forma produtiva para colaborar com a sociedade. Se você achou esse presente maravilhoso, saiba que esta última frase não é minha! Trata-se da definição de saúde mental dada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso significa, então, ajudar seu filho a brilhar em sua potência, com saúde mental e integral. Desejo, no Dia das Crianças, hoje e sempre, muito sucesso, felicidade e vida longa aos nossos filhos!
Educação financeira vai além do dinheiro e mostra pessoas na intimidade
Quem procura ajuda com as fnanças busca organização interna e externa para se tornar uma pessoa melhor Trabalhar com educação financeira não significa apenas mostrar gráficos, cálculos, ensinar conceitos. É preciso respeito, escuta, abertura, compreensão. Saber a hora de falar e de ouvir. Às vezes, até o silêncio se faz necessário. Quando alguém procura atendimento está na verdade buscando esperança para um futuro melhor. Nunca é apenas sobre o dinheiro! Um indivíduo que pede ajuda com seus investimentos não está exatamente querendo saber sobre a diferença entre uma Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e um Certificado de Depósito Bancário (CDB). Faz parte também ensinar isso, mas é só um vocabulário temporário. A pessoa está pedindo, na verdade, ajuda para ter uma vida melhor. Ela deseja realizar sonhos, galgar um espaço social, quer ser aceita, inserida, reconhecida. Deseja pertencimento, realização e conexão. Quer sentir liberdade, segurança, autonomia, ter a sensação de poder realizar e de ser singular. Fica incoerente pedir ajuda para investimentos e estar endividado? Não! Inclusive acontece muito. Aqui está a verdadeira solicitação por traz do pedido: “Preciso de ajuda para me organizar interna e externamente. Quero ser uma pessoa melhor.” Cuidado e acolhimento são essenciais ao trabalhar com educação financeira. Alguém que abre o orçamento para você está abrindo sua alma. Está mostrando sua intimidade, suas fraquezas, suas prioridades e, talvez, suas compulsões. Um pai ou uma mãe que pede educação financeira para seu filho ou filha está em busca de apoio em sua jornada para formar um indivíduo equilibrado, responsável e feliz. Tem um desejo genuíno de ver seu filho ou filha com valores morais sólidos, com um senso de produtividade e contribuição. Deseja deixar um legado não apenas financeiro, mas um legado de valorização da vida. Quer ter a certeza da sustentabilidade e da felicidade de sua prole, quando não estiver mais por perto. Deseja que na sua ausência, seus filhos sejam capazes de enfrentar situações de estresse e adversidades que a vida apresenta. Portanto, um puro ato de proteção e amor. Uma pessoa que busca ajuda para montar sua aposentadoria ou para fazer a gestão de carreira está expondo seus medos e incertezas frente a obstáculos do mercado de trabalho, ao envelhecimento e à finitude da vida. Está em busca de apoio e segurança, de crescimento, paz e tranquilidade. Em busca de um porto seguro. Um jovem que busca, por conta própria, educação financeira ou orientação profissional está comunicando a si mesmo e ao mundo que deseja sua autonomia plena. Deseja conquistar seu espaço na sociedade. Deseja crescer! Alguém que doa sua empresa de US$ 3 bilhões, como fez o dono da Patagônia, está doando o trabalho de toda sua vida. Quer deixar ao mundo uma mensagem, a sua marca, um legado. Nunca é somente sobre o dinheiro. Assim como ativos financeiros são ferramentas para conseguir muitas coisas, uma planilha pode ser uma ferramenta para tocar almas. É um privilégio e uma responsabilidade trabalhar com educação financeira, com gente de verdade. Sinto uma incrível satisfação em poder partilhar todo afeto, potência e vulnerabilidade que esse trabalho envolve. Uma pessoa que busca ajuda para montar sua aposentadoria ou para fazer a gestão de carreira está expondo seus medos e incertezas frente a obstáculos do mercado de trabalho, ao envelhecimento e à finitude da vida. Está em busca de apoio e segurança, de crescimento, paz e tranquilidade. Em busca de um porto seguro. Um jovem que busca, por conta própria, educação financeira ou orientação profissional está comunicando a si mesmo e ao mundo que deseja sua autonomia plena. Deseja conquistar seu espaço na sociedade. Deseja crescer! Alguém que doa sua empresa de US$ 3 bilhões, como fez o dono da Patagônia, está doando o trabalho de toda sua vida. Quer deixar ao mundo uma mensagem, a sua marca, um legado. Nunca é somente sobre o dinheiro. Assim como ativos financeiros são ferramentas para conseguir muitas coisas, uma planilha pode ser uma ferramenta para tocar almas. É um privilégio e uma responsabilidade trabalhar com educação financeira, com gente de verdade. Sinto uma incrível satisfação em poder partilhar todo afeto, potência e vulnerabilidade que esse trabalho envolve.
Setembro Amarelo: saiba como ESG nos seus investimentos salva vidas
Uma empresa que cuida do ESG consegue obter retornos, tanto no âmbito financeiro como em saúde integral A morte é o fim. A interrupção definitiva da vida. O medo existencial da morte talvez seja o maior disparador de comportamentos irracionais frutos do viés de aversão à perda. Não queremos perder, não queremos morrer, não queremos que acabe. O suicídio choca por ser o ato de causar a própria morte de forma intencional. Uma decisão extremamente emotiva, oriunda de adoecimento psíquico, que extingue a capacidade de enxergar alternativas. Na verdade, o suicida não quer morrer, ele quer estancar a dor. Dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, e o mês foi escolhido para a campanha brasileira de prevenção chamada Setembro Amarelo. O assunto é importante e precisa ser foco da atenção de todos. Segundo o Ministério da Saúde, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam como uma das principais causas de morte no mundo por ano, mais do que HIV, malária, guerras ou homicídios. Entre os fatores de risco do comportamento suicida estão distúrbios mentais como esquizofrenia, bipolaridade, abuso de substâncias químicas como álcool, medicamentos e drogas, transtornos de ansiedade, esgotamento, burnout e depressão. Estudo americano feito pela Universidade da Califórnia perante a classe médica aponta seis principais causas de suicídio relacionadas ao trabalho médico: conflitos de relacionamento que afetam o trabalho, uso de substâncias químicas, deterioração da saúde física como impedimento de trabalhar, problemas legais, burnout e aumento do estresse financeiro. A ocorrência de mortes por suicídio entre bancários também é alta. Infelizmente houve crescimento da quantidade de casos em grandes instituições financeiras nos últimos anos por condições desumanas de trabalho. Um caso emblemático ocorreu em julho deste ano, com a morte suspeita de suicídio do diretor de Controles Internos e de Integridade da Caixa Econômica Federal, o responsável por apurar denúncias de assédios moral e sexual feitas por funcionários através dos canais internos da instituição. Em 2020, o cantor Justin Bieber, que enfrenta atualmente questões sérias com sua saúde, revelou ter passado, durante sua adolescência, por depressão e pensamentos suicidas devido à fama e ao bullying. Seres humanos temos a necessidade básica de sermos respeitados e incluídos. De sermos verdadeiramente ouvidos, entendidos, acolhidos e não julgados. De estabelecermos relações recíprocas de confiança. Queremos ser notados, reconhecidos, amados. Queremos pertencer. Por trás de retornos financeiros dos investimentos, e de likes e curtidas das redes sociais, existem humanos em busca de conexão, reconhecimento, segurança, significância e amor. Raciocinando sobre investimentos, o que questões de saúde mental têm a ver com liquidez, risco e retorno? Nas primeiras aulas de educação financeira para iniciantes ensina-se o tripé de análise de investimentos. Ensina-se que para escolher um investimento é preciso olhar três parâmetros: liquidez, risco e retorno. No entanto, uma mesa de três pés pode se equilibrar perfeitamente em um único plano horizontal, mas é estática. Quando há deslocamento em um equipamento, quando há movimento ou se há uma carga maior no centro de gravidade, para não ocorrer tombamento, serão necessários quatro apoios. A proposta aqui é incluir mais uma perna ao tripé de critérios de análises: incluir o critério ESG. Assédio moral, bullying, estresse financeiro, burnout podem matar, e a gestão de riscos de direitos humanos nas empresas precisa ser olhada por quem investe. O tripé tradicional dos investimentos pode até ser visto como uma análise suficiente para o investidor no plano individual (ainda que o investidor nunca tenha o melhor dos três elementos, liquidez, risco e retorno, juntos, e sempre terá que escolher por dois dos pés). Entretanto, investimentos não são estáticos. A garantia da sustentabilidade no longo prazo e o deslocamento do centro de gravidade do individual para o coletivo, exige adicionar um novo critério: liquidez, risco, retorno e ESG. Mais planos estão em questão além da análise individual: o cuidado com o meio ambiente e com a sobrevivência da espécie, o cuidado com o social que garante a coexistência das relações humanas e a garantia de existirem normas, condutas, transparência e regras que conferem segurança para trilhar passos mais longos e contínuos por meio de uma boa governança. Uma empresa que cuida do ESG está zelando pela garantia dos direitos humanos, pela saúde mental de seus funcionários, de seus clientes, da comunidade em seu entorno. Um investidor que prioriza investimentos ESG está incentivando uma conduta empresarial e ampliando sua visão, não somente por liquidez, risco e retorno, no âmbito individual, mas por um plano maior, coletivo, da sustentabilidade da saúde integral própria e do todo. Uma pessoa que vive as práticas do ESG, consegue deslocar seu olhar de si mesmo para enxergar o próximo. Consegue viver de forma mais inclusiva, respeitando a diversidade, aumentando seu nível de acolhimento e compaixão. Cuida do meio ambiente físico e subjetivo em que vive, com mais respeito e ética. Seguindo essa atitude perante a vida e os investimentos, consegue também obter retornos maiores, com menos riscos, com maior sustentabilidade para si e para os outros, tanto no âmbito financeiro como em saúde integral e felicidade. O mês do Setembro Amarelo pode servir de reflexão para pensarmos uma forma de se colocar perante a vida, os outros e os investimentos.
A educação financeira pode te ajudar a parar de fumar; veja como
Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Veja como você poderia economizar ao deixar de fumar Você sabia que a educação financeira contribui para parar de fumar? Uma pesquisa feita no Japão com mais de 3.700 pessoas mostrou que o conhecimento de investimentos e a educação financeira têm relação direta na redução do hábito. O estudo mostrou que pessoas alfabetizadas e educadas financeiramente são menos propensas a fumar porque aumentam sua capacidade de tomar decisões mais racionais, desenvolvem melhor avaliação de riscos e de visão de longo prazo. É claro que não podemos simplificar ou generalizar a conclusão da pesquisa, pois levantaria uma falsa premissa. Seria o mesmo que dizer que não há fumantes entre investidores ou profissionais do mercado financeiro. No entanto, o estudo traz evidências de que o aumento da capacidade de tomar decisões racionais, o desenvolvimento do autocontrole, o desenvolvimento de visão de futuro e de capacidade de planejamento são redutores de ansiedade, e por consequência redutores de vícios. No dia de hoje, 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo, trago alguns números para ampliar a informação e a sensibilização sobre o impacto do mau hábito nas finanças. Quanto você gasta com cigarro? Imagine uma pessoa com o hábito de fumar meio maço de cigarros por dia, a um custo de R$ 10,75 o maço. Em uma conta simples, o gasto aproximado seria de R$ 1.960,00 em um ano. Mas, se estamos em um artigo para investidores, o cálculo correto deve ser feito a juros compostos. Portando, considerando a taxa de juros de 15% ao ano (factível de ser conseguida em renda fixa no dia de hoje), pro rata (proporcional) ao dia, calcula-se que a pessoa conseguiria guardar quase R$ 2.100,00 ao longo de um ano se deixasse de ser fumante e investisse o equivalente a meio maço de cigarros, todos os dias. Veja na tabela abaixo mais simulações quanto à economia no orçamento e aumento nas reservas, apenas deixando de fumar: Quantidade de maços por dia sem fumar Valor equivalente aos maços economizados investido por dia Patrimônio acumulado investindo o equivalente todos os dias, após um ano Patrimônio acumulado investindo o equivalente todos os dias, por 5 anos 0,5 maço /dia R$ 5,38/dia R$ 2.080,00 R$ 14.000,00 1 maço/dia R$ 10,75/dia R$ 4.150,00 R$ 28.000,00 2 maços / dia R$ 21,50/dia R$ 8.300,00 R$ 56. 000,00 *Os números acima foram calculados a taxa de 15 % a.a. pro rata ao dia e valor do maço assumido de R$ 10,75. Números foram arredondados para fins didáticos. A conta ainda ficaria mais impressionante, em potencial de economia, se calculássemos equivalências com gastos maiores em outras fontes de nicotina, como cigarros eletrônicos e charutos. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 20 milhões de brasileiros fazem uso de produtos derivados do tabaco. Outro estudo do IBGE, em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontou taxas crescentes de experimentação de narguilé, cigarro eletrônico e outros produtos do tabaco entre adolescentes de 13 a 17 anos. O contato precoce com a nicotina é capaz de mudar o funcionamento cerebral, tornando adultos mais propensos a desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e pensamentos suicidas. O tabagismo não somente afeta à saúde física, mental e financeira das pessoas, com também atinge os cofres públicos. Dados do Ministério da Saúde apontam gastos superiores a R$ 120 bilhões por ano na prevenção, controle e tratamento de doenças decorrentes do tabaco pelo sistema de saúde brasileiro. Parar de fumar traz muito ganhos quando o assunto é dinheiro. Não somente relativos aos cálculos diretos apresentados acima, mas também ganhos indiretos como a melhoria na produtividade, foco, qualidade de vida e na economia com gastos pessoais futuros em saúde. Se é tão benéfico ficar longe do cigarro, por que as pessoas seguem fumando? Humanos nem sempre somos guiados pela racionalidade, e isso pode ser observado também em comportamentos financeiros quanto a compras, investimentos e até mesmo na prática de doações. Mudar hábitos tóxicos envolve decisão e escolhas, estabelecimento de metas fatiadas em ações diárias, apoio familiar e psicoterapêutico. O treinamento de comportamentos saudáveis autocontrolados passa pelo desenvolvimento de aptidões como a sensibilidade à visão de longo prazo, apuração do olhar na avaliação de riscos, senso de propósito e a ressignificação da sensação de felicidade que impacta na resiliência para enfrentar os obstáculos diários. A soma desses fatores é que realmente pode reduzir a necessidade da compensação por vícios.
Dívida de R$ 1,00 pode virar R$ 1 milhão no Brasil
Oferta de crédito consignado do Auxílio Brasil pode acelerar ainda mais a desigualdade social A desigualdade social no Brasil, acelerada pelo avanço da pobreza, é impactada por um elemento importante do sistema financeiro: a cessão de crédito. Levantamento do Serasa, em julho de 2021, aponta acesso desigual ao crédito entre classes sociais. A pesquisa mostra também que são oferecidos limites de crédito menores a mulheres do que a homens. Além do acesso desigual, o problema se agrava brutalmente quando se olha para os patamares das taxas abusivas de juros cobradas em empréstimos bancários e por financeiras. Em julho de 2022, a Crefisa, empresa de crédito pessoal patrocinadora de time de futebol, esteve em meio a um litígio judicial, no Rio Grande do Sul, devido aos patamares de suas taxas de empréstimo superiores a 800% ao ano. O desequilíbrio na oferta e nos custos de crédito levanta a questão da desigualdade social, não somente em território nacional, mas coloca o povo brasileiro em desigualdade perante a população mundial. O Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo, ficando atrás apenas de Madagascar, de acordo com levantamento feito por economistas da LCA Consultores e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) em 2019. O Spread bancário é a diferença percentual entre a taxa de juros cobrada pelos bancos em empréstimos e a taxa de juros paga pelas instituições financeiras nos investimentos. Resumidamente, é a margem bruta dos bancos. Os altos juros cobrados em empréstimos no Brasil são justificados pelos índices de inadimplência e pela dificuldade em recuperação judicial de dívidas no País. No entanto, através dos anos de experiência que tenho, ajudando pessoas por meio da educação financeira, posso afirmar que dificilmente um indivíduo, por mais bem intencionado e esforçado que seja, será capaz de honrar e quitar dívidas superiores a 2% ao mês, equivalentes a 27% ao ano. Ora, caro leitor brasileiro, se você já contraiu dívidas na pessoa física ou jurídica em algum momento de sua vida produtiva, deve estar pensando que 30% ao ano de taxa de empréstimo seria uma oferta bem atrativa, dado que as taxas no cheque especial e no atraso do pagamento da fatura do cartão de crédito, estão em média, entre 150% e 500%, nas maiores instituições brasileiras. Portanto, se a taxa factível para ser paga por um esforçado trabalhador precisa ser inferior a 30% ao ano, como seria possível alguém honrar taxas ao redor de 150% ao ano? E ao redor de 400% ao ano? E de 800% ao ano? Para os não tão familiarizados com o potencial dos juros compostos, tanto para o bem, se você é investidor, quanto para o mal, se está na ponta devedora, trago o seguinte exemplo: uma pessoa que pega 1 real emprestado durante 20 anos, a uma taxa de 100% ao ano, será devedora, ao final do período, de valor superior a 1 milhão de reais. Isso mesmo! Uma dívida de R$ 1,00 virará mais de R$ 1 milhão em 20 anos, de acordo com as taxas bancárias praticadas no País. Recentemente o presidente da República sancionou uma lei que permite aos bancos dar empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda destinado às famílias em situação de extrema pobreza. Além disso, não foi estabelecido pelo governo um limite na cobrança da taxa mensal. Os juros cobrados no mês passado, pelo empréstimo consignado para essa população vulnerável, giravam em torno dos 100% ao ano. O Brasil, por sua enfermidade econômica, figura no ranking das maiores desigualdades em seu sistema financeiro. Está entre os 15 países que mais subiram suas taxas básicas de juros em 2022. Muito embora a inflação seja um fenômeno mundial, e países desenvolvidos, como os Estados Unidos, também tiveram que aumentar juros, nada se compara aos níveis das taxas cobradas em empréstimos no território brasileiro. A população americana tem a cultura da dívida arraigada ao comportamento, e grande parte dos americanos tem suas casas hipotecadas, mas a realidade do compromisso orçamentário com custos financeiros é completamente outra. As taxas de empréstimos hipotecários estão girando ao redor de 6% ao ano em um momento de alta dos juros americanos. No Brasil, mesmo no melhor momento histórico da Selic a 2% ao ano, as taxas de empréstimos não cederam significativamente. Felizmente, vemos algum movimento de mudança no mercado financeiro. O Bradesco decidiu não oferecer empréstimo consignado a beneficiários do Auxílio Brasil. O presidente do banco declarou que a operação, por envolver juros elevados, seria um benefício ilusório a pessoas vulneráveis. Redução das desigualdades está entre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da agenda 2030 das Nações Unidas. O primeiro objetivo é a erradicação da pobreza. Se queremos ser um país sério quanto às metas de desenvolvimento sustentável, quanto às práticas ESG e comprometidos com a proteção da população, precisamos olhar para o desequilíbrio na oferta de crédito. Há, no Brasil, bastante espaço ainda para melhorias nas políticas públicas econômicas e no mercado financeiro quanto ao ESG, principalmente na letra S de Social.