Herança de Gugu: entenda o caso por outro ponto de vista

O assunto é complexo e não se resume ao patrimônio, pois há muitos fenômenos afetivos envolvidos

  • A herança de Augusto Liberato, o Gugu, está sob análise na Justiça, já que a mãe dos filhos dele, Rose Miriam Souza Di Matteo, tenta provar que tinha uma união estável com o apresentador.
  • As discussões sobre sexo, dinheiro e poder permeiam argumentos dos advogados das partes envolvidas na partilha e dividem a opinião pública.
  • O assunto da herança de Gugu é complexo e não se resume ao patrimônio, pois há muitos fenômenos afetivos envolvidos em torno do tema.

A herança de Augusto Liberato, o Gugu, está sob análise na Justiça, já que a mãe dos filhos dele, Rose Miriam Souza Di Matteo, tenta provar que tinha uma união estável com o apresentador, morto em 2019. Assim sendo, ela teria direito a 50% do patrimônio que Gugu deixou.

Em documento de 2016 incorporado ao processo de reconhecimento de União Estável, Gugu teria dito: “Eu, Antônio Augusto Moraes Liberato, tenho uma companheira de muitos anos, Rose Miriam Souza Di Matteo, que é a mãe dos meus três filhos”, com o objetivo de conseguir a permanência legal nos Estados Unidos para toda família. Cinco anos antes, no entanto, o apresentador registrou em testamento a distribuição de 75% do patrimônio para os três filhos e 25% para os cinco sobrinhos, sem incluir Rose na divisão.

As discussões sobre sexo, dinheiro e poder permeiam argumentos dos advogados das partes envolvidas na partilha e dividem a opinião pública. Segundo Freud, considerado o pai da psicanálise, “as questões de dinheiro são tratadas da mesma maneira que as questões sexuais: com a mesma incoerência, pudor e hipocrisia”.

Em pesquisa feita sobre a escala de atitudes frente ao dinheiro em 1982, Yamauchi e Templer sintetizaram três pilares simbólicos na relação humana com o dinheiro: poder, prazer e segurança, que são atribuídas por Freud também às pulsões sexuais.

Desta maneira, sexo, dinheiro, poder e segurança estão intimamente, ou psicologicamente, interligados.

Se nas relações humanas indivíduos conseguirem lidar com esses aspectos de forma positiva e com equilíbrio, abrirão espaço virtuoso de empoderamento, amor, felicidade, preservação e proteção da rede envolvida.

Se prevalecerem emoções e comportamentos negativos, poderão surgir os relacionamentos abusivos e o controle coercitivo (forma de controle psicológico sobre alguém, dependências e codependência), transtorno emocional caracterizado por dependência excessiva de uma pessoa em relação aos comportamentos disfuncionais do outro.

O assunto da herança de Gugu é complexo e não se resume ao patrimônio, pois há muitos fenômenos afetivos envolvidos em torno do tema. Há as relações familiares e seus tipos de apego, há a dor do luto e os conflitos das relações continuadas.

Há ainda o reflexo e a projeção da subjetividade e da própria história de vida das pessoas que trabalham no assunto, como advogados, peritos etc., além da subjetividade do juiz que terá que tomar uma decisão sobre o caso. Talvez nem o próprio Gugu tivesse uma opinião clara sobre qual o desfecho ideal da distribuição do dinheiro, dada a variação de sentimentos e emoções que poderiam vir à tona a cada nova informação ou evento apresentado.

O importante para quem acompanha o assunto ou se vê em alguns dos personagens dessa história é fazer as seguintes reflexões:

1) Se você tem um patrimônio a distribuir, lembre-se da importância em dar clareza, em vida, à distribuição dele. Faça uma análise sobre a saúde de seus laços familiares e o quanto seus sentimentos ao lidar com o dinheiro fortalecem ou atrapalham a saúde mental e o relacionamento com as pessoas envolvidas. Lembre-se de buscar o caminho sincero do autoconhecimento para essa avaliação.

2) Se você tem uma herança a receber ou já recebeu, esteja atento para preservar seus valores e suas motivações positivas originais, incluindo seu propósito de vida. Muitas vezes, acompanhando a dádiva da herança, surgem problemas operacionais e gerenciais não desejados, conflitos relacionais doloridos e mudanças negativas dos próprios comportamentos. Busque também preparo técnico e emocional para lidar com a nova situação, para que o evento realmente lhe traga felicidade, paz e potencialize seus objetivos e projetos de vida.

3) Se você não tem nenhum patrimônio a receber ou a distribuir, não se sinta infeliz por isso! Mantenha-se firme em seu propósito, no uso de seus talentos como contribuição à sociedade de forma produtiva. Cultive seus relacionamentos, cuide da sua saúde mental e financeira. Como diz Cora Coralina, “não importa o ponto de partida, mas sim a caminhada. Caminhando, semeando ‘e poupando’ (vou usar aqui da minha liberdade literária e acrescentar o poupar à frase de Cora), no fim, sempre terás o que colher”.