O escândalo das Americanas (AMER3): que lições aprender?

O importante é perceber que o rombo na varejista não é o primeiro e nem será o último caso do tipo

  • Aquela que já foi a queridinha dos brasileiros, com suas lojas vermelhas, vendendo todo tipo de utilidade e inutilidade para qualquer gosto e freguês, decepcionou o mercado.
  • O G de governança, do ESG, grita mais uma vez. Mesmo que a fraude demore a ser descoberta, o prejuízo chega.
  • Se há um grande aprendizado com o caso Americanas S.A. é que seguir os pilares ESG é para agora!

“É muito mais fácil corromper do que persuadir”, disse Sócrates. Se o filósofo vivesse nos tempos de hoje, talvez dissesse que é mais fácil corromper do que gerir.

Na semana passada, investidores foram surpreendidos com o escândalo do rombo da Americanas S.A. Aquela que já foi a queridinha dos brasileiros, com suas lojas vermelhas, vendendo todo tipo de utilidade e inutilidade para qualquer gosto e freguês, decepcionou o mercado após divulgar inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões. Um dia depois da revelação, as ações tiveram uma queda histórica de 77%.

Se todo problema traz consigo oportunidades, que lições podemos aprender com o caso Americanas? Trago aqui 5 importantes reflexões que podem servir para próximas decisões de investimentos:

1 – Não foi o primeiro rombo e não será o último

O importante é perceber que o rombo na Americanas S.A. não é o primeiro e nem será o último caso do tipo. Para refrescar a memória, cito três: em 2015 a Toshiba demitiu o CEO Hisao Tanaka por inflar o lucro da companhia em US$ 1,2 bilhão por 7 anos, a falência do Lehman Brothers foi o clímax da crise financeira de 2008, escondendo empréstimos da ordem de US$ 50 bilhões, e o escândalo da Enron, em 2001, resultou em perdas de US$ 74 bilhões aos investidores.

2 – Escutar o vizinho não funciona

Sabe aquela dica de ouro que seu vizinho ou seu melhor amigo contou como um grande investimento? Não funciona! É muito comum o comportamento de manada no mercado financeiro, aquele em que a pessoa quer seguir o que “todo mundo” está fazendo, como se fosse algo muito bom. Mas já está comprovado que a decisão financeira tomada por este viés provoca grandes perdas.

3 – Invista em empresas que conhece

Uma boa recomendação dada por grandes gestoras de investimentos é montar a carteira com ações de empresas nas quais você conhece bem. Aquelas das quais você é consumidor, tem familiaridade e interesse por seu mercado. Quanto mais próxima a empresa for da sua realidade, mais fácil será acompanha-la e ter interesse por se aprofundar na leitura das informações divulgadas e aumentar o nível de percepção sobre possíveis movimentações em sua estratégia.

4 – Aprenda a ler um balanço

Saber ler um balanço, um demonstrativo de resultados e um fluxo de caixa deveriam ser pré-requisitos para ser um investidor de ações. Mesmo que você seja um apreciador da análise por gráficos (análise grafista), é preciso entender e conhecer os fundamentos básicos da empresa a investir (análise fundamentalista).

E isso é expresso nos relatórios contábeis que trazem muitas informações, ou pelo menos pistas de que algo está bom ou ruim. Fico admirada quando alguns pais contam com orgulho que seus filhos fizeram investimentos brilhantes na bolsa. Fico com a seguinte pergunta: será que este adolescente sabe ler um balanço?

5 – ESG é agora. Não é algo para o futuro

O G de governança grita mais uma vez. Mesmo que uma possível fraude demore a ser descoberta, o prejuízo chega. Aquilo que foi negligenciado e deixado para o futuro, para obter vantagens imediatas, se torna presente um dia.

Se há um grande aprendizado com o caso Americanas S.A. é que seguir os pilares ESG é para agora! Como confiar investimentos em empresas que não seguem as práticas ESG? Como comprar produtos de companhias que não respeitam o meio ambiente, as pessoas, a diversidade, não tem liderança, cultura e processos éticos e corretos de controle e gestão?

Se você não tem disponibilidade ou conhecimento para acompanhar a gestão das empresas, uma forma de proteger seus investimentos em renda variável é escolher investir em fundos ou índices ESG.

Se nada na vida é por acaso, e se a cada situação difícil ou ruim podemos ter aprendizados, o rombo das Americanas S.A. é mais uma oportunidade de mudança na forma de investir, de gerir de trabalhar e de agir perante a vida.