Seria a polêmica do Touro de Ouro um momento favorável para o mercado financeiro repensar seus modelos?
- Quais sinais a polêmica sobre a estátua do Touro de Ouro, colocada em frente à B3, e retirada pela prefeitura na terça-feira dia 23 de novembro, pode nos indicar?
- Talvez o símbolo do touro, de virilidade, que remete exclusivamente à potência somente masculina, já não represente mais as demandas da sociedade atual.
A palavra símbolo, por definição, significa um nome, personagem ou imagem que representa algum comportamento ou atividade. O psiquiatra suíço Carl Jung dizia que um símbolo morre quando seu significado assume uma expressão concreta e, então, se transforma em sinal.
Quais sinais a polêmica sobre a estátua do Touro de Ouro, colocada em frente à B3, e retirada pela prefeitura de São Paulo no dia 23 de novembro, pode nos indicar?
À parte as questões políticas, na busca de pontos de convergência entre os que apoiam ou condenam o animal de fibra de vidro, ambos os lados desejam retomada econômica e geração de empregos.
No entanto, enquanto para uns, o símbolo do Touro de Ouro no centro da capital paulista pode representar virilidade e prosperidade, para outros pode sugerir desigualdade e injustiça. E talvez essa seja a maior simbologia: a polarização em que estamos. Extremos de riqueza e pobreza que mostram filas de espera de meses para compras de carros e barcos de luxo, enquanto há um crescente número de moradores de rua e pessoas em situação de miséria e fome no País.
A desigualdade dificulta a cooperação, com prejuízos tanto para quem está em vantagem, como para o lado prejudicado. Marcelo Benvenuti, coordenador do grupo de pesquisas em psicologia sobre comportamento social e cultura na USP, diz que as vantagens da cooperação têm sido gradualmente reconhecidas em áreas como a psicologia e a economia. Até mesmo na evolução, em que a sobrevivência parecia depender da competição, a cooperação mostra-se como um diferencial importante em relação a grupos que cooperam menos.
Estamos sentindo isso na pele, globalmente. Uma prova é o surgimento da mais recente variante do coronavírus, a chamada Ômicron, resultado de uma vacinação desigual, entre países pobres e ricos. Ou seja, a diferença entre riqueza e pobreza prejudica a todos.
Seria a polêmica do Touro de Ouro um momento favorável para o mercado financeiro repensar seus modelos? Será que ainda cabe o padrão de competição, entre Touros (sinônimo de investidores que estão na ponta do interesse da subida das ações) versus Ursos (referente aos que especulam para que as ações caiam)?
Se a economia real é altamente beneficiada pelas fontes de financiamento provenientes da renda variável, da negociação de ações, poderia existir um modelo de bolsa de valores menos especulativa, que favorecesse o longo prazo, o ganha-ganha e a colaboração? Poderiam ser repensadas as normas de “day trade” e estruturas de liquidez na bolsa?
E, se há polêmica entre a população em geral, deveria o mercado financeiro se empenhar mais na educação financeira, para que a compreensão sobre a importância do mercado acionário seja ampliada? E, se a comunicação sobre o touro foi mal compreendida, pode haver a hipótese de que o problema da mensagem está no emissor, no próprio mercado financeiro?
Talvez o símbolo do touro, de virilidade, que remete exclusivamente à potência somente masculina, já não represente mais as demandas da sociedade atual que deseja inclusão, diversidade, igualdade e necessita urgentemente de colaboração para a própria sobrevivência. Quem sabe a estátua polêmica possa ser substituída por uma escultura cuja arte represente as demandas ambientais, sociais e de governança. Quem sabe podemos ter, ao invés de um touro, uma escultura ESG no centro de São Paulo, mostrando uma renovação dos valores do mercado financeiro.
Dia 10 de dezembro celebra-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que visa promover os direitos econômicos, sociais e culturais de cada indivíduo. Vale o momento para refletir se iremos perceber a importância da união, do coletivo, da convergência e da colaboração ou se iremos ceder aos velhos modelos da polarização, do individualismo e da competição, onde todos juntos iremos sucumbir.